"É de fé que a Igreja ensinante é infalível. E o que designa o nome Igreja ensinante? Todos concordam que a Igreja ensinante é o pontífice romano com os bispos, se não todos, pelo menos com a parte mais saudável. Ora, a parte mais saudável dos bispos, diz Noël Alexandre, não há dúvida, é sempre entre aqueles que aderem ao papa" (Intervenção de Mons. d’Avanzo em nome da Deputação da Fé, ao curso da discussão da schéma sobre a Igreja no Vaticano I, em 20 junho 1870 cf. Abbé Lucien L’infaillibilité du Magistère ordinaire et universel de l’Église, p. 25)
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É possível que por circunstâncias do tempo os bispos em sua quase totalidade se apartem da verdadeira fé? É possível que a Igreja docente deixe de ser instrumento ativo do Magistério? A resposta às perguntas que se colocam gera muitas conseqüências teológicas. Também se faz condição necessária para a compreensão dos acontecimentos atuais na Igreja e de sua história de maneira católica. É esta resposta ousamos dar no seguimento deste artigo. Não há de maneira alguma pretensão polêmica neste estudo, embora estejamos conscientes que o ponto dogmático, pouco conhecido, que levantaremos mostra a incoerência de muitas posições dentro da Igreja, tanto para o lado tradicionalista (sedevacantista, lefebvrista e resistência), quanto para o lado progressista (Modernista, tese de Cardeal Kasper, Kung,etc). O escritor deste artigo não é um teólogo, mas simplesmente um leigo interessado nos assuntos de Teologia, portanto, críticas, objeções e mesmo correções serão sempre bem-vindas.
Respondemos negativamente as perguntas ora lançadas. A potestas docendi deve sempre existir ativamente na Igreja. E tal existência é razão para a conservação incólume dos dogmas de fé no sentimento dos fiéis. É impossível que quase todos os bispos católicos ensinem ou acreditem em doutrinas contrárias aos dogmas de fé. Pensar o contrário é ir contra a indefectibilidade da Igreja que supõe que a Igreja conservará invariavelmente o tesouro recebido por Cristo, isto é, o dogma, a moral e os sacramentos. Nosso Senhor fundou a Igreja instituindo um magistério vivo e autêntico que revestiu do espírito da verdade, devendo perdurar até Sua volta. Supor que os bispos, em sua quase totalidade se apartaram da transmissão da fé em seu ensinamento é chamar Deus de mentiroso. Uma conclusão absurda que equivaleria dizer: “Senhor, se estamos no erro, fostes vós mesmo que nos enganastes” (Richardus de S. Victore, De Trin., lib. I, cap. 2).
Com isso não negamos que pode acontecer e que, de fato, ocorreu na história da Igreja, de bispos não defenderem e protegerem a fé com empenho e força extrema. Não negamos tampouco que os bispos possam tolerar erros doutrinários por negligência ou medo. O que não pode ocorrer é que nos atos em que eles falam como sucessores dos apóstolos, mediante seu magistério autêntico, em sua maioria, ensinem algo contrário a revelação.
A partir de agora trazemos à luz a opinião de grandes teólogos a respeito do tema suscitado:
Cardeal João Batista Franzelin:
"Pode certamente suceder que muitos bispos e muitas províncias completas reneguem a fé e que, no entanto, a maior parte dos rebanhos de fiéis em profissão ortodoxa conserve constantemente a comunhão e o consenso com a sucessão apostólica, a qual permanece em consenso e comunhão com o centro de unidade, isto é, a Sede de Pedro. Mas não pode suceder que todo o episcopado cometa defecção e não permaneça órgão de conservação da Tradição sob a assistência do Espírito Santo, mediante o qual, como por magistério ordinário externo, o mesmo Espírito contém e conserva a comunhão e a fé do povo católico. Para que isso tenha lugar, nem sempre se requer necessariamente que todo o episcopado defenda e proteja a fé ortodoxa contra seus adversários com empenho e ardor extremo, senão que pode ser suficiente sua perseverança na mesma doutrina transmitida, sendo essa mesma constância norma imediata viva e reitora e vínculo imediato de união do povo católico. Isso mesmo é o que podem corroborar os fatos da história eclesiástica, particularmente a história de arianismo que aflorava no IV, não assim aquilo que o autor anônimo da dissertação De consulendis fidelibus in rebus christianae doutrinae[1] julgou poder inferir a partir de tal história: “a Igreja docente não foi em todos os tempos instrumento ativo da infalibilidade da Igreja”. Mesmo tendo sido expulsos todos os bispos católicos, sua constância contra os arianos, a fuga do povo fiel do povo dos bispos intrusos e sua comunhão com os desterrados, o relato de Sozomendo segundo o qual tinha sido o mais perseverante o povo das cidades cujos bispos eram mais fortes e mais constantes na fé,[2] a cominação dos fiéis antioquenses para que comunicassem aos bispos ocidentais as fraudes do bispo ariano Leôncio[3] e outros fatos, todos referidos pelo mesmo autor anônimo da dissertação, demonstram que também naquele tempo “a Igreja docente tinha sido instrumento ativo da infalibilidade da Igreja”.[4]
O Cardeal Franzelin na tese XIII também explica que o corpo dos bispos não se afastaria da verdadeira fé até mesmo num período de vacância da Sé Apostólica:
“Certamente, permanece na Igreja não somente a indefectibilidade em crer (chamada de infalibilidade passiva), como também a infalibilidade em proclamar a verdade que já foi revelada e suficientemente proposta à crença católica, mesmo enquanto ela [a Igreja] está temporariamente enlutada pelo seu cabeça visível, de modo que nem o inteiro corpo da Igreja na sua crença nem o inteiro Episcopado no seu ensinamento podem apartar-se da fé transmitida e cair em heresia, porque essa permanência do Espírito da verdade na Igreja, reino e esposa e corpo de Cristo, está incluída na própria promessa e instituição da indefectibilidade da Igreja para todos os dias até à consumação do mundo”.[5]
Alfred Vacant:
“Mas isso jamais acontecerá, ou seja, que, por meio de seus atos, a maioria fale como sucessores dos apóstolos e ensine uma doutrina que não esteja plenamente consonante com o que seja determinado pela Santa Sé como sendo de fé ou como sendo de obrigatoriedade de outra categoria.
Este resultado será alcançado graças à assistência do Espírito Santo prometido por Jesus Cristo à Sua Igreja. Como tal assistência não dispensa o uso de meios humanos para manter os bispos unidos na fé e em comunhão com o Sumo Pontífice, a principal forma, que sempre foi empregada na Igreja para alcançar esta meta, é a escolha, pela Santa Sé ou por aqueles que a representam, de bispos que fazem profissão de uma fé inteiramente pura e de grande zelo pela unidade.
Portanto, é impossível que a maioria dos bispos com jurisdição na Igreja, isto é, os bispos católicos, compartilhe um ensino que o Papa não ensine explicitamente ou pelo menos implicitamente. É impossível, portanto, cair no erro e se separar da Santa Sé. Se Deus permitisse aliás que alguns bispos se extraviassem de tal doutrina, seria, ordinariamente, uma vez que não teriam procurado, antes de tudo, seguir os ensinamentos e as exigências da Igreja e do Romano Pontífice e assim assemelhando-se a bispos cismáticos ou heréticos que teriam recebido a consagração episcopal, mas desprovidos de qualquer jurisdição, de qualquer poder de ensinar, e, consequentemente, de qualquer participação na assistência prometida ao colégio dos bispos”.[6]
A Relatio do Bispo Vicent Ferrer Gasser no Concílio Vaticano I em 11 de julho de 1870:
"Finalmente, não separamos o Papa, ainda que minimamente, do consentimento da Igreja, conquanto este consentimento não seja estabelecido como condição que lhe seja antecedente ou conseqüente. Nós não seríamos capazes de separar o Papa do consentimento da Igreja, porque esse consentimento jamais lhe faltaria. Com efeito, uma vez que acreditamos que o Papa é infalível por meio da assistência divina, por esta mesma razão, também acreditamos que o consentimento da Igreja não irá faltar às suas definições, uma vez que não é possível acontecer que o corpo episcopal esteja separado de sua cabeça, bem como não é possível que a Igreja universal seja capaz de falhar. Pois é impossível que obscuridade geral seja difundida no que diz respeito às verdades mais importantes que tocam a religião, como manteve o Sínodo de Pistóia."[7]
A Relatio do Padre Kleutgen sobre a Igreja é outro importante registro do penúltimo Concílio sobre o assunto:
"Os bispos chamados pelo Papa a tomar parte em seus cuidados pastorais (in partem sollicitudinis vocati), não são apenas seus conselheiros, mas com ele, como verdadeiros juízes e mestres (definitores) promulgam decretos que gozam de autoridade suprema e unem a Igreja toda. Por isso, não há dúvida nenhuma que os bispos têm certa parte no ensino e no governo da Igreja universal... Mas a autoridade suprema não é concedida sem mais (simpliciter) ao Corpo dos bispos, mas ao corpo dos bispos em união com o Papa. Entre o Papa em sua função própria e o Papa em união com o Concílio, não é possível haver nem luta nem discórdia. Se os bispos sozinhos, mesmo em concílio legítimo, tomassem uma decisão que o Papa não aprovasse, este decreto por si mesmo não seria um pronunciamento da autoridade suprema. Se o Papa recusa sua aprovação e toma uma decisão oposta, como aconteceu no Concílio de Éfeso (o famoso Latrocínio) e no Concílio de Constantinopla sob Adriano I (fim do século VIII), então os bispos são obrigados a se submeter. Além disso, é necessário atender ao seguinte: Se entendermos por "corpo episcopal" os bispos não reunidos em concílio, mas dispersos pelo mundo, então é impossível - ao menos nos casos em que a Igreja não pode errar nem desviar-se do reto caminho - que o corpo dos bispos, ou seja, todos ou quase todos os bispos, venham a contradizer o Papa. Por isso não pode acontecer que todos os bispos juntos, em questões de doutrina, se desviem da verdade e, no governo, abandonem a justiça e a santidade."[8]
Dom Prosper Guéranger:
“Em virtude das promessas de Jesus Cristo, é possível que o corpo docente de Cristo (o Papa e os bispos definindo simultaneamente), seja infalível; porque o salvador o prometeu. É possível que o Pontífice Romano definindo do alto de sua cátedra seja infalível; porque o salvador o prometeu. É possível que o corpo episcopal, quando o Papa define sozinho, adira à sentença numa infalibilidade passiva; porque o Salvador prometeu à sua Igreja a permanência. Finalmente ele faz com que a Igreja ensinada nunca fique sem a verdade professada, antes e depois da definição; Porque o Salvador prometeu manter os seus fieis na verdade até a consumação dos séculos. Não, não há, nunca houve, não pode haver definição de fé que não seja acolhida pelo consentimento da Igreja”[9].
O parecer dos teólogos é claríssimo que dispensa qualquer comentário adicional nosso. Preferimos responder certas objeções que poderiam se colocar:
- Poderia se objetar que há outros teólogos de peso, como Melchior Cano (de locis theologicis, lib. V, cap. V) e Bento XIV (de Synodo, lib. XIII, cap. II, n. 3), que defenderam que é possível que os bispos contradigam o Papa em algum ponto da doutrina e defendam doutrinas erradas.
Desde logo esclareço que eles defendiam que essa contrariedade poderia se dar num Concílio geral, isto é, antes da definição e não depois desta. O erro é justamente supor que os bispos em sua totalidade moral se distanciaram de ensinamentos definitivos, logo não tem nada a ver com a outra posição teológica na controvérsia.
Pensamos, ainda, que essa controvérsia teve seu fim nas discussões do Concílio Vaticano I como parecem demonstrar suficientemente as Relatios citadas acima. Acrescentamos o que diz Mons. Joseph Clifford Fenton sobre uma das conclusões que a Comissão especial nomeada pelo Papa Pio IX para tratar sobre a questão da Imaculada Conceição chegou por unanimidade em sua segunda sessão, do dia 19 de Maio de 1852:
“A doutrina proposta a qualquer tempo dentro da verdadeira Igreja de Deus como uma parte da revelação pública divina deve, em razão da assistência divina prometida e dada à Igreja, ter sido ensinada no passado pelo menos de forma implícita pela maioria da ecclesia docens. Além disso, tal ensinamento nunca poderia ter sido negado pela maioria dos mestres autênticos dentro da Igreja.”[10]
- Poderia se argumentar que é possível que os bispos defendam e disseminem novidades, contrárias à Tradição, não com crença firme e comum, mas como uma doença espiritual, onde “todos estão de acordo em pensar o que bem entenderem”[11].
Mas essa também seria uma maneira da Hierarquia da Igreja se afastar da verdadeira fé. Onde todos concordam em pensar no que querem ou duvidar dos pontos definidos é evidente que se desviam da verdade da fé. Até porque heresia também é pôr em dúvida os dogmas e não somente negá-los firmemente. Portanto, indiferente se esse afastamento é sobre um dogma específico ou se tornou uma generalização promíscua de contraposições ou dúvidas à fé. Este seria um ofuscamento da fé de maneira ainda mais perigosíssimo. Ainda é uma forma do consentimento dos bispos às definições propostas faltar. Continua sendo uma forma da “infalibilidade em proclamar a verdade que já foi revelada e suficientemente proposta à crença católica” faltar. Não deixa de com isso “suceder que todo o episcopado cometa defecção e não permaneça órgão de conservação da Tradição sob a assistência do Espírito Santo”.
- Poderia alguém se escorar no Cardeal Newman e dizer que este defendeu em “De consulendis fidelibus in rebus christianae doutrinae” que no tempo do arianismo “houve suspensão temporária das funções da ‘Ecclesia docens’”.
Pensamos que a resposta do Cardeal Franzelin a essa compreensão perfeitamente refuta essa forma de pensar, concedendo no primeiro momento que o Cardeal Newman entendesse assim como o nosso contestador. Mas a realidade é que o Cardeal Newman na Nota 5 - A Ortodoxia do Corpo dos Fiéis durante a Supremacia do Arianismo[12] - de sua Obra “Os arianos do século IV” explica melhor a sua posição que havia originado grandes reservas. Ele diz sobre a afirmação de suspensão temporária das funções da ‘Ecclesia docens’ que a Igreja docente satisfez seu papel quando condenou o arianismo no Concílio de Nicéia e que seus ensinamentos, junto com grandes vozes santas, anunciaram e inculcaram o dogma na inteligência dos fiéis em toda Cristandade. A suspensão que ele se referia, portanto, era de um meio autoritativo que expressasse (repetindo) de maneira geral, clara, constante e definitiva o problema do arianismo, por muitos bispos arianos terem tomado as Sés. De modo que a suspensão temporária da ‘Ecclesia docens’ se deu somente de maneira virtual e não atual. A ausência do exercício do magistério de forma autoritativa e definitiva foi remediada pelo senso comum dos fiéis. Mas nunca fez defesa que quase todo o episcopado defendeu e ensinou o arianismo ou que o Magistério simplesmente não fosse ativo. A propósito mesmo naquela ocasião onde afirmou a frase polêmica ele deixou claro o seguinte:
“Aqui, é claro, devo explicar: dizendo isso, sem dúvida que não estou negando que o grande corpo dos bispos fosse, em sua fé interior, ortodoxo; nem que houvesse vários membros do clero que ficaram ao lado dos leigos e agiram como centro e guia destes; nem que o laicato na realidade tivesse recebido a fé, para começo de conversa, dos bispos e do clero...”
O Cardeal Kasper poderia ser nosso contestador, pois também faz uso do Cardeal Newman em sua defesa da comunhão para divorciados em situação de adultério. Ele foi respondido veemente na Obra “Remaining in the Truth of Christ. Marriageand Communion in the Catholic Church” [Permanecendo na verdade de Cristo: Casamento e Comunhão na Igreja Católica] por cinco cardeais da Igreja e outros quatro pesquisadores. No primeiro capítulo, de autoria de Robert Dodaro, foi dito:
“Perto do final de seu livro, o Cardeal Kasper cita famoso ensaio do Bem-aventurado John Henry Newman “Sobre a Consulta dos Fieis em Matéria de Doutrina”, e ele se refere à anedota atribuída a Newman “que, na crise Ariana do IV e do V séculos, não foram os bispos, mas ao contrário os fieis que perseveraram na fé da Igreja”. Kasper celebra Newman como um “precursor do Concílio Vaticano II” e relaciona o seu ensaio com a afirmação do Concílio a respeito do “sentido da fé que é dado a cada cristão por força do Batismo”. A maior parte dos comentaristas do ensaio de Newman toma erroneamente a compreensão que Newman tinha de “fieis” como referindo-se somente ao “laicato”. Mas como faz notar Ian Ker, um eminente especialista em Newman, o beato incluía os sacerdotes e os monges entre os “fieis” de seu argumento, de tal forma que a distinção que ele fazia não era entre clero e laicato, como muitos hoje creem. Além do mais, os historiadores discordam da versão de Newman daquela controvérsia e insistem que, porquanto nos é dado conhecer a posição dos fieis da Igreja primitiva durante a questão ariana, em sua maior parte eles tendiam a aderir à visão de seu bispo local, qualquer que fosse sua posição. Não foi, portanto, o laicato o responsável pela vitória da fé nicena sobre a ariana”.[13]
O teólogo dominicano Yves Congar também tem algo a nos dizer sobre o tema:
“Guardaremos dois exemplos maiores, um da época da crise ariana (século IV), em que o magistério central da Igreja era pouco ativo – alguns tiraram daí uma objeção contra a infalibilidade pontifical -, outro do século passado, em que o magistério supremo da Igreja se afirmou, dogmática e praticamente, de uma maneira tão ativa quanto brilhante.
O primeiro exemplo foi longamente desenvolvido por Newman em um artigo que suscitou, na época, quase um escândalo. De fato, a apresentação de Newman poderia enganar: poderia fazer tomar por história completa da crise o que é simplesmente a valorização de um aspecto, graças a uma coleção de textos relativos a esse aspecto, emanando aliás muitas vezes de autores leigos, favoráveis aos leigos, como Sócrates e Sozomeno. Mas esse aspecto, se não é o único a ser considerado, foi real e é francamente reconhecido por outros excelentes historiadores católicos. Incontestavelmente, na primeira metade do século IV, o povo fiel resistiu ao arianismo e a seus sub-produtos, heresia intelectual muitas vezes acolhida pelos próprios bispos, quer fossem também teólogos, quer seguissem o gosto do poder imperial. O próprio povo cristão soube também, então, guardar sua fidelidade aos bispos perseguidos: assim fez o povo de Roma a respeito do papa Libério levado preso pelo imperador Constâncio, como outrora tinha guardado fidelidade a Cornélio contra Novaciano; ou como o povo de Alexandria tinha acolhido Atanásio”.[14]
E ainda:
“Cf. por ex. J. LEBRETON, Le désaccord de la foi populaire et de la théologie savante dans l’Église chrétienne duIIIe siécle, em Rev. d’Hist. Eccles., 19 (1923), p. 481-506 e 20 (1924), p. 5-37. Percebe-se, até no título desse interessante estudo, que o P. L. estabelece o corte não entre os fiéis e a hierarquia, como fez excessivamente Newman, mas entre a fé do povo e as especulações arriscadas dos teólogos. A palavra de Santo Hilário é a de uma testemunha: “Sanctiores sunt aures plebisquam corda sacerdotum”. Contra Arianos, ou C. Auxentium, n. 6 (P. L., 10, 613), mas é preciso ver o sentido no contexto: Hilário visa os bispos que, arianizando em seu foro interior, empregavam fórmulas concretas, e diz: os fiéis os entendem sem sutileza e de maneira autêntica. A palavra de Hilário apóia portanto o sentido do P. Lebreton. Hilário diz alhures que havia bispos na Gália (De synodis, n. 2 e 3), e, no início do C. Auxentium, dirige-se a todos os que, bispos ou simples fiéis, perseveram na fé paternal”.[15]
Por tudo isso fica totalmente injustificado afirmar que a maioria dos bispos no tempo do arianismo se afastou da verdadeira fé.
- Outra objeção que se poderia fazer é a seguinte: Embora tudo o que foi dito até aqui seja verdade em período ordinário na Igreja tenhamos presente que no fim dos tempos, com a apostasia geral, é possível que os bispos, em sua maioria, apartem-se da verdadeira fé. Billot ao falar da nota de Catolicidade da Igreja cita a opinião de Belarmino (que ele não compartilha) de que basta uma difusão "sucessiva" e não "simultânea", da qual Belarmino conclui dizendo que "se somente uma diocese (província) retivesse a verdadeira fé, ainda assim se seguiria chamando verdadeira e propriamente Igreja Católica...", e esta conclusão Billot nega "pelo menos como lei ordinária”, mas acrescenta: "Creio que devemos nos abster disto, já que se esta opinião tem algum fundamento, não é outro além do que se lê sobre o fim do mundo e a perseguição do Anticristo(Lc. XVIII, 8; Mt. XXIV, 21-29; II Tes. II, etc)".[16]
A posição de São Roberto Belarmino é rechaçada geralmente pelos teólogos[17], inclusive por Billot. O Cardeal Billot, de fato, admite, como hipótese com algum fundamento, que a catolicidade simultânea (difusão moralmente universal) é uma propriedade necessária da Igreja de modo ordinário, mas que poderá ter sua exceção no período do Anticristo[18]. Com efeito, essa possibilidade é negada por outros teólogos de peso[19]. Concedamos, no entanto, em vista do argumento, que a hipótese esteja correta, isto é, que no fim dos tempos a catolicidade simultânea possa faltar. Mesmo assim não estaria claro que Billot entenda essa hipótese no sentido de que a maioria dos bispos cometerá defecção ou ensinará doutrinas espúrias em seu magistério autêntico. A hipótese continuaria de pé se quisesse dizer simplesmente que no fim dos tempos e com a perseguição do Anticristo a maioria dos bispos morrerá. Ou que poderá ocorrer doenças contagiosas e os bispos da Igreja morrerem, sobrando poucos. Ou ainda o episcopado diminuindo, não rapidamente, mas com o passar dos séculos (morrendo os bispos católicos) e as novas gerações se tornando protestantes. Tudo isso é possível. O que não é possível é aceitar que a totalidade moral dos bispos defeccionará ou de boa fé contradirá os ensinamentos definitivos da Igreja. Ademais, quem quisesse acreditar que uma exceção no fim dos tempos é possível deveria provar com textos claros de teólogos sobre o assunto da infalibilidade da Igreja universal.
Santo Tomás é bem claro que mesmo no fim dos tempos a fé da Igreja militante não pode falhar em sua totalidade: “fides ecclesiae militantis; quam non est possibile deficere totaliter, Deo sic ordinante, qui dixit, Matth. ult., 20: ecce ego vobiscum sum usque ad consummationem saeculi.” (In IV Sententiarum Dis.6 Qu.1 Art.3).
Uma obra do Cardeal Cardeal Giacinto Sigismondo Gerdi em italiano, que refutava um ‘teólogo’ que se opunha à Bula Auctorem fidei, trata especificamente desse ponto doutrinal para o fim dos tempos. O Cardeal Gerdil fez parte da Comissão criada pelo Papa da época para ajudar escrever a Bula Auctorem fidei (condenando os erros do Sínodo de Pistóia). A discussão nessa parte da Obra girava em torno da seguinte proposição condenada como herética do Sínodo de Pistóia:
“nestes últimos tempos disseminou-se um obscurecimento generalizado das verdades mais importantes concernentes à religião, que são a base da fé e dos ensinamentos morais de Jesus Cristo” Auctorem Fidei (1794) DZ 1501.
Antes de passarmos a resposta do Cardeal, façamos algumas distinções. O próprio Sínodo e seus teólogos não falavam em um obscurecimento absoluto, mas da totalidade moral[20]. Achavam que esse obscurecimento se dava entre os católicos por ignorância e não necessariamente que eles cometeram defecção da fé. Segundo Mons. Gasser (citação no começo do artigo) uma das formas desse obscurecimento geral se dar seria se a Igreja discente faltasse ao assentimento às definições papais. Isso foi ensinado pela Lumen gentium também: “A estas definições nunca pode faltar o assentimento da Igreja, graças à ação do Espírito Santo, que conserva e faz progredir na unidade da fé todo o rebanho de Cristo”. O teólogo Fernando Ocáriz também explica:
"Quando se trata de verdades infalivelmente ensinadas pelo Magistério, a infalibilidade do sensus fidei do Povo de Deus significa que na Igreja não pode faltar o assentimento a estas verdades[nota]"
Nota: Por isso, já Pio VI condenou como herética a proposição do Sínodo de Pistóia segundo a qual, postremis hisce saeculis sparsam esse generalem obscurationem super veritates gravioris momenti, spectantes ad religionem, et quae sunt basis fidei et moralis doctrinae Iesu Christi (Pio VI, Const. Auctorem fidei, 28-VIII-1794: DS 2601). (Teología fundamental, p. 83)
Pois bem, o ‘teólogo’ que se opunha a Auctorem fidei usou o argumento que no fim dos tempos haveria obscurecimento geral e citou aquelas passagens da Sagrada Escritura sobre o fim dos tempos. O Cardeal, longe de conceder uma exceção, usou tanto Sto. Agostinho quanto Bossuet para refutar o seu oponente, e comentando Bossuet, disse:
“Na promessa de Cristo inclui aqui Bossuet junto a Sagrada Ceia a confissão da fé pela profissão dos fiéis na Comunhão exterior, e interior com Jesus Cristo, e entre eles sob a condução do Ministério Eclesiástico sempre, e sem interrupção assistido por Cristo.
Ora uma fé, que se confessa em comunhão com Jesus Cristo é fora de dúvida a verdadeira fé; e se esta fé há de ser professada em comunhão exterior dos fiéis entre si até o fim dos séculos, aqui é excluída abertamente a possibilidade de um obscurecimento geral, que não pode estar com a exterior confissão da fé professada na universalidade, ou como diz em outro lugar (Nota minha: Bossuet diz), na totalidade dos fiéis, unidos na comunhão sob a condução do ministério eclesiástico.
Além disso, se esta perpétua exterior profissão da verdadeira fé não pode manter-se na Igreja senão por meio do ensinamento do Ministério Eclesiástico instituído por Cristo, deve para tal efeito durar perpetuamente, igualmente fica excluída a possibilidade de um abuso geral desse Ministério no ensinamento confiado por Cristo, afim que se conservasse perpetuamente a profissão exterior da fé na totalidade da Sua Igreja”[21].
- Outra objeção seria admitir a tese somente quanto aos erros de fé pertinazes (defecção), mas não admitir nos erros por ignorância ou sem pertinácia. Ou seja, logo após o Vaticano II o que se deu é que os bispos creram e ensinaram aquelas doutrinas heréticas, mas não o fizeram com pertinácia.
Responde-se que os teólogos não admitiam erro algum, seja com ou sem pertinácia na Igreja. Sem dúvida nosso objetador não aceitará como possível que a Igreja universal possa crer como de fé em alguma doutrina errônea por estar em ignorância. Essa impossibilidade também existe em relação a Igreja negar como de fé o que o é, pois isso também seria uma negação da infalibilidade passiva da Igreja[22]. É evidente que as citações dos teólogos no início do artigo supõem a impossibilidade de erro por ignorância na crença e no ensinamento do episcopado, pois “ecclesia non potest errare nec per ignorantiam invincibilem in his quae sunt fidei”[23].
Para os teólogos, nesta questão, se pode tanto entender a Igreja no sentido formal, com todos os fiéis, os membros inferiores e superiores, quanto à Ela parcialmente, formada pelas cabeças das ovelhas[24].
[1]Na enfeméride literária The Rambler, luly 1859, p.218.
[2]2 - Soz. VI. 21.
[3]3 - Theodor. H. E. II. 24.
[4](Tractatus de Divina Traditione et Scriptura, editio tertia, Romae, extypographia polyglotta S. C. de Propaganda Fidei, 1882, Tese XII.)
[5] Cardeal FRANZELIN, Sobre a vacância da Sé Apostólica, 1886; trad. br. por F. Coelho, São Paulo, nov. 2014, blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-2qh
A partir da trad. ingl., por James Larrabee, de: Theses de Ecclesia Christi (opus posthumum), Roma: Typographia Polyglotta, 1887, p. 221-224; reproduzida por John Lane em 25 de maio de 2012 nos Bellarmine Forums: http://sedevacantist.com/forums/viewtopic.php?p=11937#p11937
[6] O magistério ordinário da Igreja e seus órgãos.
[7] O’Connor 43-44; Mansi, col. 1213-1214. A Lumen Gentium faz sua essa tese. Baseando-se nessa citação, afirma: “A estas definições nunca pode faltar o assentimento da Igreja, graças à ação do Espírito Santo, que conserva e faz progredir na unidade da fé todo o rebanho de Cristo”
[8] MANSI 53, 321 B-332 B.
[9] Réponse aux dernières objections contre la définition de l'infaillibilité du pontife romain, ano 1870, p. 9.
[10] The requisites for an infallible pontifical definition according to the Comission of Pope Pius IX. The american ecclesiastical review.
[11]Esta é a opinião do teólogo da FSSPX, Padre Álvaro Calderón, exposta em seu livro “A Candeia debaixo do Alqueire” - Apêndice Quarto: Resposta a LesDegrés d’autorité Du Magistère, do Padre B. Lucien.
[12]Sua Retratação traduzida em português no Blogue Acies Ordinata, http://wp.me/pw2MJ-15r
[13] É possível ler este capítulo aqui: http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/doutrina-teologia/sacramentos/785-permanecendo-na-verdade-de-cristo
[14] Os leigos na Igreja: escalões para uma teologia do laicato, Herder, ano 1966, pp. 413-114.
[15] Nota 66 da página 414.
[16]Tractatus de Ecclesia Christi sive continuatio theologiae de verbo incarnato, 1909, p. 218: “Hic abstrahendum censeo a singulari opinione Bellarmini dicentis 1, 4 de Eccles. c. 7, non requiri diffusionem simultaneam, ita ut nuo tempore in omnibus provinciis necessario esse oporteat aliquos fideles, sed satis esse si fiat sucessive. Ex quo id sequitur, inquit, quod si sola una provincia retineret veram fidem, adhuc vere et proprie diceretur Ecclesia catholica, dummodo clare ostenderetur, eam esse unam et eamdem cum illa quae fuit aliquo tempore, vel diversis, in toto mundo: quemadmodum nunc qualibet diocesis dicitur catholica, quia est continuata cum aliis quae faciunt unam Ecclesiam catholicam. Ab his, inquam, abstrahendum censeo, quia si eiusmodi opinionis qualecumque fundamentum foret, nihil aliud sane nisi id quod legitur de fine mundi et de persecutione anthichristi (Luc. XVIII, 8; Matth. XXIV, 21-29; 2 Thess. II, etc.). Porro, transmissa etiam interpretatione quam Bellarminus secutus esse videtur, adhuc integra remaneret conclusio, quia adhuc verum esset simultaneam catholicitatem esse ex voluntate et promissione Dei dotem necessariam Ecclesiae, saltem de lege ordinaria, cui nihil officeret exceptio praenuntiata pro certo quodam tempore determinato. In moralibus enim unumquodque denominatur simpliciter ex iis quae ordinarie ipsum afficiut vel debent afficere.”
[17]Rev. Sylvester Berry, The Church of Christ, Herder, 1941, pp. 10-133. http://sedevacantist.com/viewtopic.php?f=2&t=448; Monsignor G. Van Noort, S.T.D, Dogmatic Theology, Volume II, Christ's Church: http://strobertbellarmine.net/van_noort_catholicity.html
[18]Billot, L’Église, sa divine institution et ses notes, Tome I, p. 269, n° 319, note 65.
[19]Mons. Van Noortdiz:“Por favor, veja, entretanto, que a continuidade da expansão progressiva não deve ser muito forte. Os textos citados não descartam a possibilidade de a Igreja ser notavelmente reduzida neste ou aquele século, durante o cisma ou heresia (Cujo acontecimento foi predito na Sagrada Escritura), sem que seja capaz de se recuperar imediatamente. Ainda assim, teólogos geralmente rejeitam a hipótese de que a Igreja possa alguma vez ser tão assediada com a heresia que ela seria - mesmo que por um breve período - limitada apenas a uma região. Ninguém deve interpretar as profecias das escrituras sobre a grande defecção ao fim do mundo em tal sentido”. (Monsignor G. Van Noort, S.T.D, Dogmatic Theology, Volume II, Christ's Church:http://strobertbellarmine.net/van_noort_catholicity.html)
E Santo Agostinho para provar aos donatistas que a Igreja Católica é verdadeira comenta, em uma de suas admiráveis obras, que a Igreja verdadeira tem a nota de catolicidade, e para tanto cita as regiões onde se estende o episcopado católico. Na mesma obra Santo Agostinho refuta um argumento dos donatistas que recordava a frase de Jesus Cristo: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lucas 18,8) onde se pretendia que era na África e nas outras regiões que partiram bispos donatistas dali que se encontrava a verdadeira Igreja. A isto Santo Agostinho responde:
"Afirmam também (os donatistas): "Da apostasia do orbe é o que se entende o que disse o Senhor: Pensais que ao vir o Filho do homem encontrará um átomo de fé na terra?" No qual nós afirmamos que cabe algum dos dois sentidos: ou se refere à perfeição da mesma fé, a qual se faz tão difícil ao homem, que ainda nos mesmos santos tão dignos de admiração, como em Moisés, se encontra algum motivo de temor, ou se relaciona com aquela abundância de iníquos e escassez dos bons, da qual já temos falado bastante. Por isso afirmou isto o Senhor como com certa dúvida; pois não disse: Quando vier o Filho do homem não achará fé na terra, mas: Pensas que achará fé na terra? Certo que não se pode ter dúvida alguma quem o sabe tudo de antemão; mas sua dúvida era símbolo da nossa, já que, a causa dos muitos escândalos que abundarão ao fim dos tempos, se expressaria desse modo algum dia a humana fraqueza. Por isso se disse nos Salmos: Adormece minha alma por causa da tibieza; dai-me força com tuas palavras. Por que adormece minha alma por causa da tibieza, se não pelo dito do Senhor: Pela abundância da iniquidade se esfriará a caridade de muitos? E por que dai-me força com tuas palavras, se não pelo que segue: Quem perseverar até o fim, este se salvará? Portanto, existem em todo o mundo aqueles que com a abundância de sua iniquidade serão a causa do entibiamento da caridade de muitos; como também se entendem por todo o mundo o que, perseverando até o fim, serão salvos, por aquilo dito: Deixai que ambos cresçam até a colheita, e A colheita é o fim dos tempos, e o campo é o mundo. (...) Mas estas duas classes de homens permanecerão por todo o mundo até o fim, pois disse: Deixai que ambos cresçam até a colheita; o campo é o mundo; a colheita, é o fim do mundo (...) E como nós temos demonstrado com testemunhos evidentes que a (verdadeira) Igreja se faz estender por todo o orbe, eles nos citam algum manifesto que possam apoiar-se para demonstrar a profecia de que, apartando-se o resto dos homens da fé de Cristo, somente haveria de permanecer (fiel) a África e aquelas partes onde de lá se enviaram bispos." (Da unidade da Igreja, cap. XV)
[20] Pietro Tamburini: “Estes pontos de doutrina não são por vezes reconhecidos por revelados se não por um certo número de fiéis seguidores da tradição, em comparação tidos como falsos ou duvidosos para um maior número de católicos. É evidente que o número daqueles que seguem a verdade e a doutrina da Igreja pode em certas matérias e em certos tempos ser o menor. Onde é que Deus prometeu que a verdade seria sempre ensinada pelo maior número? Antes muitas vezes tem predito escuridades e agitações com que deve gemer a Igreja. Era por ventura o maior número que nos tempos mais próximos de nós seguia a doutrina da Escritura e da Tradição sobre os justos juízos da hierarquia? Era o maior número que seguia as santas regras da Moral evangélica contra as máximas licenciosas dos Probabilistas? Era o maior número que propugnava pelos sagrados direitos da Graça de Jesus Cristo? Era o maior número que se opunha às relaxações dos atricionistas?” (Análise do livro das Prescrições de Tertuliano… Análise do livro das Prescrições de Tertuliano…p.50)
[21] Cardeal Giacinto Sigismondo Gerdil, Esame de’motivi della opposizione fatta da Monsignor Vescovo di Noli alla pubblicazione della bolla Auctorem fidei, pp 86-87: https://goo.gl/fQi0eN
[22] "Da infalibilidade passiva ou 'in credendo'. Não é necessário demonstrar a existência desta infalibilidade, porque basta concluir das palavras: Mostramos que a Igreja é una com unidade de fé; apostólica com apostolicidade de doutrina; indefectível em suas propriedades e dotes constitutivos. Pois bem, se a Igreja toda pudesse errar na fé ou em crer como divinamente revelado o que não é revelado, ou negando o que seja revelado o que o é, a Igreja incorreria em defecção na unidade, na apostolicidade, etc. Ergo. Por isso se diz dela (Oséias 2): Então te desposarei comigo na fé, te desposarei comigo para a eternidade." (H. Mazzella, Praelectiones scholastico-dogmaticae, vol. I, 6ª Ed., Torino 1937, p. 450)
[23] Domingo de Soto, Secunda Secundae em Ms. 940 da Biblioteca Nacional do México, Ott. lat. 782, fol. 66v.
[24] Juan Gallo: “Ad huius veritatis explicationem. 1. Advertendum est quod catholica ecclesia dupliciter intellige potest. Vel formaliter ut comprhendat fideles universos tam membra ínfima quam suprema capita,. 2. Partialiter ut videlicet continet optimates et capita populorum, nempe ecclesiarum rectores et magistros quórum fide continetur fides populorum, nam hoc etiam tota ecclesia isti dicuntur more humano et usu scripturarum”. Ott. Lat. 999, 91v.
UPDATE: O texto acima foi escrito mais ou menos agosto de 2015, com pequenos acréscimos e modificações até a data de sua publicação (15/03/2016), mas em Abril de 2016 chegou ao conhecimento deste escritor um conjunto citações teológicas interessantes, enviadas pelo mesmo senhor que fez a objeção sobre a tese de S. Roberto Belarmino e Billot com a intenção de provar a sua tese de que no fim dos tempos existiria uma exceção quando a impossibilidade de defecção ou erro de boa fé da totalidade moral da Igreja. Separei as citações mais interessantes e claras (os grifos são por minha conta):
Padovani: “Secesión, en griego ἡ ἀποστασία. Aunque algunos siguiendo al Crisóstomo tomen secesión o apostasía por el mismo Anticristo “como que ha de perder a muchos y los inducirá para que defeccionen” (Crisóstomo); mejor sin embargo y más conforme con el texto (que distingue bien la secesión del hombre de pecado) se dice, casi con todos los intérpretes, que una cosa es la secesión y otra el Anticristo, que inmediatamente describe Pablo. ¿Qué hay que entender por esta secesión, que, por el artículo de que precede en el griego, se muestra como la apostasía por excelencia? Hoy en día carece de todo fundamento, y por lo tanto creemos que debe rechazarse absolutamente, la sentencia que traen San Jerónimo (Ad algas. ep. 121, qu. XI), Ambrosiaster y otros que por la secesión entienden la defección de los pueblos del imperio Romano. El evento mismo de la defección, que sin dudas ya ha sucedido, y que a no obstante no fueron seguidos por el Anticristo y el día del Señor, muestran la falsedad de esta sentencia. Además, como advierten, entre otros, Estio y Drach, la palabra apostasía ἀποστασία, denota en la Sagrada escritura no tanto la defección política como la religiosa y espiritual. Por lo tanto, hay que sostener, junto con la gran mayoría de los intérpretes, que aquí, por la secesión o apostasía se significa una cierta defección general de la Iglesia y la fe de Cristo por todo el orbe, la cual el mismo Señor profetizó en Mt. XXIV, 11-12; Lc. XVIII, 8”.
Rosadini: “ἡ ἀποστασία significa defección, secesión y en los LXX “defección de la religión, de los preceptos divinos” (Jer. II, 19; III Rey. XXI, 13; en los libros de los Macabeos, passim); en el mismo sentido ocurre en el NT (Hech. XXI, 21), especialmente en nuestro lugar, como lo exige el contexto: a saber, significa aquí la defección de la única religión de Cristo. El artículo agregado (ἡ ἀποστασία) denota que se trata de una apostasía determinada, y probablemente ya conocida por los fieles ya que fue anunciada por los Apóstoles, según las palabras del Señor en Mt. XXIV, 12; Lc. XVIII, 8: “Pero el Hijo del hombre, cuando vuelva, ¿hallará por ventura la fe sobre la tierra?”.
Scío: “Aterrados los tesalonicenses con lo que el Apóstol les había dicho en su primera carta tocante al juicio final que creían muy cercano, los alienta poniéndoles delante dos grandes sucesos que le deben preceder. Primeramente la apostasía casi general de los cristianos, que abandonarán la verdadera fe. El segundo la venida del Anticristo, que se hará adorar como Dios. San Agustín”.
A clareza das citações foram suficientes para mostrar que a parte do estudo acima que afirma que a totalidade moral dos bispos e/ou fiéis não poderá se apartar (frisa-se: de modo pertinaz) da verdadeira fé no fim dos tempos não é única entre os teólogos, como de início pensei. Parece existir uma verdadeira controvérsia teológica nesse sentido que este escritor desconhece a dimensão. É justo, portanto, não existir acusação de 'erro' doutrinário ou dogmático já que se tratam de duas visões presentes nas obras dos teólogos. Mas é bom frisar: 1. a impossibilidade defecção e erro de boa fé da totalidade moral dos bispos e/ou fiéis de modo ordinário continua de pé, o que se discute é se no fim dos tempos não existiria uma exceção. 2. As citações falam de defecção e não de erro por ignorância da totalidade moral da Igreja (a resistência e o sedevacantismo supõem que há tanto erro por boa fé por parte da totalidade moral dos católicos, quanto que a maioria dos bispos deixaram à fé).
O leitor está livre para escolher a visão que lhe pareça melhor. Harmonizar a infalibilidade da Igreja e essa visão teológica ora conhecida ultrapassa a capacidade deste escritor.
PARA CITAR
SARMENTO. Nelson M. É possível que o Episcopado inteiro ou quase todo se desvie da verdadeira fé? Disponível em <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/valor-magisterial/863-e-possivel-que-o-episcopado-inteiro-ou-quase-totalmente-se-desvie-da-verdade-da-fe> Desde 15/03/2016. UPDATE: 12/05/2016.