Quarta-feira, Maio 1, 2024

Posição Católica perante a Umbanda

Frei Boaventura. OFM

Posição Católica perante a Umbanda

ano: 1957

Editora: Vozes

Segundo uma publicação oficial da Confederação Espírita Umbandista, existem na área do Distrito Federal e do Estado do Rio, “cerca de trinta mil tendas, centros e terreiros” (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 152). Cremos haver exagero na estimativa. É porem, inegável a proliferação verdadeiramente espantosa desses centros de superstição, leviandade, depravação, degradação moral e loucura, em que se misturam práticas fetichistas e ritos católicos, deuses africanos e santos nossos, doutrinas espíritas e ensinamentos católicos, num sincretismo bárbaro de necromancia, magia, politeísmo, demonolatria e heresia. O comissário Rui A. Tenório, chefe da secção de Tóxicos e Mistificações da Delegacia de Costumes e Diversões do Rio de Janeiro, declarou no dia 8 de Abril de 1953 à Tribuna da Imprensa que aquela seção já registrara até aquela data umas sete mil tendas espíritas. Acentuamos: trata-se de 7.000 tendas registradas e apenas na maravilhosa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro! É certo que existem também muitos terreiros não registrados, mas funcionando publicamente e outros muitos clandestinos. As cidades fluminenses de Caxias, São João de Meriti, Nova Iguaçu e outros subúrbios do Rio, possuem cada uma, como sabemos por informações pessoais, não dezenas, mas centenas de centros de Umbanda. E não só no Rio. Estivemos no Sul, em Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e outras cidades, onde o problema é exatamente o mesmo e em quase idênticas proporções. Coisa igual se poderá dizer do Norte, de Pernambuco, da Baia e de outros Estados da Federação.

E não julguemos que se trata de um movimento apenas entre a gente de cor. A absoluta maioria dos “chefes de terreiros” são brancos e as tendas também são frequentadas por pessoas que vão até lá em carros de luxo ou com chapa branca. Poderia se pensar que, sendo o fetichismo uma religião própria da classe inculta ou ignorante, haveria de diminuir na proporção em que crescesse o índice de alfabetização. Mas não é o que acontece. Pois vemos entre os frequentadores até gente de destacada posição social. Ministros, Generais, Senadores e Deputados são vistos em cabanas e terreiros. O próprio Governo parece fomentar esse movimento como espetáculo de valor turístico. A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no orçamento para esse ano de 1954, prometeu as seguintes subvenções: Ao Centro Cabana Itanagé, ao Centro Espírita Cabana do Mar, ao Centro Espírita Caboclo Corre Campo e a 89 outros Centros Espiritas, R$ 2.181.000,00; a Cabana Pai Joaquim de Loanda e a oito outras cabanas de diversos Pais, Cr$ 195.000,00; ao Culto Religioso Cabana Santa Teresinha, R$ 60.000,00; ao Templo Espiritualista São Sebastião, R$ 20.000,00; ao Terreiro Ogum Rompe Mato, R$ 30.000,00; a diversas Associações, Círculos, Confederados, Congregações, Grupos, Fraternidades, lrmandades, Núcleos, Obras, Ordens, Postos, Sociedades e Uniões, definidos, todos eles, pelo adjetivo Espirita, R$ 1. 981.000,00; a contribuição total de entidades umbandistas do Rio: R$ 7.202.000,00…

Se são milhares os centros de Umbanda, milhões sendo seus frequentadores. Mais de 90% dos brasileiros, oficialmente perguntados sobre sua religião, responderam em 1950 que são católicos. Não será injurioso supor que muitos desses “católicos” vão aos Terreiros, às Cabanas e às Tendas. Supomos que o fazem por ignorância, por falta de esclarecimento. Não sabem o que é a Umbanda. Raras vezes ou talvez nunca receberam orientação a esse respeito. Os próprios Padres não podem informar, porque desconhecem a Umbanda. Estivemos em paróquias onde há centenas desses centros e onde o seu pastor imediato, o vigário, perguntado por nós, confessou não saber sequer o que é a Umbanda. Não conhecemos um único livro da parte católica sobre o assunto. Eis a razão por que julgamos necessário e oportuno apresentar esta “posição católica perante a Umbanda”.

CONFUSÃO NA UMBANDA


Há muitos livros sobre a Umbanda. Temos diante de nos mais de vinte, além de revistas e jornais. Emanuel Zespo (pseudônimo de Paulo Menezes), Oliveira Magno, Lourenço Braga, Jayme Madruga, Aluízio Fontenelle e Heraldo Menezes são os autores principais. Mas quem ler estes livros todos para, afinal, saber o que é a Umbanda, ficará decepcionado. Não há unanimidade nem clareza. Cada um escreve por conta própria, persuadido de ter assistência especial de algum “guia” do além, O mais autorizado entre eles confessa: “Até hoje, nada de claro ao público, em matéria literária sobre Umbanda”(Emanuel Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Científica, Rio 1g 51, p.16). Outro se lamenta: “Um autor contradiz o outro e vire-se em terrível confusão”, depois precisa: “Os autores de Umbanda se contradizem asi próprios e não apenas a seus colegas”,(Samuel Pônze, Lições de Umbanda, Rio Ig 54, p. 35). Não somente cada autor, cada chefe de terreiro proclama: “A Umbanda que aqui se pratica, é muito diferente dessa Umbanda que se pratica por aí afora”. Pois: “lnúmeras são as contradições existentes , entre os próprios praticantes da Umbanda” (Aluízio Fontenelle, O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei de Umbanda, Rio, p. 69). “Cada um procura fazer uma Umbanda a seu modo, e dentro do conceito que ele próprio imagina, de acordo com a sua instrução, com a sua capacidade de imaginação, com os seus conhecimentos e, quase nunca, com a orientação dada pelos seus próprios guias” (A. Fontenelle, Exu, Rio 1952, p. 60). “99% dos livros sobre Umbanda, a venda nas livrarias, não passam de fantasia, frutos da imaginação hábil de seus autores, que mais não visam senão uma falsa gloria ou dinheiro” (Yonori, Umbanda Industrie Rendosa, Rio 1954, p. 70).

Alguns, não obstante, conseguiram reunir grupos maiores. Formaram-se assim a Confederação Espirita Umbandista (dirigida por Byron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto), a União Espiritista de Umbanda (sob as ordens de Jayme Madruga), a Fraternidade Eclética Espiritualista Universal (chefiada pelo Sr. Oceatto de Sá, autor do Evangelho de Umbanda, que se convenceu de ser o João Batista reencarnado, pelo que se denomina “Afestre Yokaanam”) e a União dos Espiritistas de Umbanda (comandada talvez por Lourenço Braga ou Manuel L. Barbosa). Mas todos eles lutam entre si. Uns querem voltar ao mais puro africanismo; outros rejeitam energicamente todos os elementos africanos; outros propunham um sincretismo religioso absoluto e indefinível; mais outros pretendem ter encontrado a mais pura Umbanda nas religiões da Índia; nem falta quem declare que “o livro fundamental de Umbanda é a Bíblia, com o antigo e o novo Testamento, tal como estão escritos, não se admitindo interpretações simbólicas: aceitar ou recusar in totum o que está escrito, eis a pedra de toque do cristão umbandista”. O umbandista Samuel Ponze escreve em Lições de Umbanda (Rio 1954): “Logo de inicio foram fundadas no Rio de Janeiro quatro federações e transformaram-se em organizações rivais que se enfraqueciam empenhando-se em lutas estéreis umas contra as outras” (p. 24); “reina a anarquia, a incompreensão, a vaidade, a inveja, a mistificação, a pouca cultura entre a maioria dos Umbandistas’’ (p. 26); cada qual quer ser o maior. Cada chefete de terreiro acha que acima de seu guia ou de seus guias, só Deus!” (p. 27).

E por que toda essa confusão, essa falta de clareza, de unanimidade e de união? Os melhores e mais entendidos entre os umbandistas são suficientemente francos para confessa-lo. Eis ai algumas declarações que convém registrar:

— “Qualquer cidadão, bem ou mal intencionado, bem ou mal preparado, funda centros de Umbanda. Basta organizar uma diretoria, fazer uns estatutos e usar e abusar do artigo 141 da Constituição Brasileira;… uma vez registrado o centro, ele funciona com o beneplácito da polícia, e comete o bem ou o mal, segundo as boas intenções ou a burrice de seus dirigentes” (S. Ponze, obra citada, p. 25).

— ‘‘Todos os dias nascem novos terreiros de Umbanda que são chefiados por pessoas de parcos conhecimentos espiritualistas. No geral são membros de outros terreiros mais antigos que se rebelam contra os caciques e saem para a aventura do espiritualismo prático, sem armas de defesa, sem uma formação sólida, sem uma longa experiência” (E. Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Pratica, Rio 1953, p. 97) ‘‘Como então se fundam terreiros e mais terreiros de Umbanda por este Brasil, sem outras exigências que as da elaboração de um estatuto social quase profano e licença das autoridades para funcionar como funciona qualquer sociedade bailante e recreativa?” (ib. p. 98).

No meio de tanta confusão é evidente a dificuldade em dar uma orientação definitiva sobre a Umbanda e que satisfaça todos os umbandistas. Faremos, entretanto, o possível para não sermos injustos ou injuriosos. Não nos propomos propriamente um estudo de Etnografia. Queremos mostrar apenas aos irmãos na fé católica o que é este movimento religioso que atualmente se alastra pelo Brasil afora com o estranho nome de Espiritismo de Umbanda, ou Lei de Umbanda ou simplesmente Umbanda. Não é, por conseguinte, intenção nossa fazer um ensaio sobre o Africanismo no Brasil. Não investigamos o passado: procuramos conhecer o presente. Como organização, o movimento umbandista é bastante recente. Seus dirigentes procuram açambarcar, sob a bandeira de Umbanda, os movimentos populares do Batuque (no Sul), da Macumba (no Rio) e do Candomblé (na Bahia). Não estudaremos nenhuma dessas três denominações particularmente: o que veremos é a sua conjunção, uma espécie de superestrutura que, procurando coordenar os elementos do Batuque, da Macumba e do Candomblé, pretende oferecer-lhes uma fachada mais atraente e aceitável também para o civilizado e o cristão. A isso dão a exótica denominação de Umbanda.

A PALAVRA “UMBANDA”


A confusão já se manifesta na explicação da origem e do significado da própria palavra “Umbanda”.

No fascículo de Junho de 1954 o Jornal de Umbanda (Rio, p. 2) ainda lemos: “Há mil e uma interpretações sobre a palavra Umbanda. Essa palavra é um constante e permanente desafio aos estudiosos do assunto. Uns dizem que é Luz lrradiante, outros dizem que é Banda de Deus, há os que dizem que é Corrente Espiritualista e vai por aí afora, porém tudo vago e indefinido, sem haver, entretanto, uma explicação cabal e convincente”. A tendência geral era de não admitir que seja de origem africana. O primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda, realizado no Rio de Janeiro em Outubro de 1941, tinha a manifesta preocupação de mostrar que a Umbanda é de origem antiguíssima, vem dos hindus, contemporânea dos Vedas, que depois passou a África, donde veio para o Brasil, Eis o teor das primeiras duas conclusões unanimemente aceitas pelo dito Congresso:

“1) O Espiritismo de Umbanda é uma das maiores correntes do pensamento humano existentes na terra há mais de cem séculos, cuja raiz provém das antigas religiões e filosofias da índia, fonte de inspiração de todas as demais doutrinas filosóficas do Ocidente”.

“2) Umbanda é palavra sânscrita, cuja significação em nosso idioma pode ser dada por qualquer dos seguintes conceitos: Princípio Divino, Luz lrradiante, Fonte Permanente de Vida, Evolução Constante”.

Aluísio Fontenelle, todavia, resolve que a palavra em questão vem da Bíblia, que originariamente teria sido escrita em língua “palli”, donde teria sido vertida para o hebraico. E naquela língua a palavra “Umbanda” significa: “Na Luz de Deus”, ou Luz Divina (cf. A Umbanda através dos séculos, Rio 1953, p. 17). Mas o autor do Evangelho de Umbanda (“Mestre Yokaanam”) dirimiu a questão sem maiores complicações: “Umbanda vem de Um e Banda”. E depois esclarece: “Um significa Deus, em linguagem simplificada oriental, para não entrar em detalhes esotéricos;e Banda significa Legião, exército”; logo Umbanda quer dizer “Legionário de Deus” (p. 44). Seria interessante saber qual é essa misteriosa “linguagem simplificada oriental”…

Tudo isso, entretanto, não passa de devaneios e fantasias. O Dr. Artur Ramos já conhece a palavra, que é de origem africaníssima, designando o grão-sacerdote do culto bantu ou o evocador dos espíritos (cf. O Negro Brasileiro, I vol. Etnografia Religiosa, 3ª ed. p. 107 e 102). Por isso também o recente Catecismo de Umbanda (Rio 1054) concede despretensiosamente: “Umbanda é uma palavra africana, significando ora o sacerdote, ora o local onde se praticava o culto” (p. 7).

UMBANDA É ESPIRITISMO


Existe grande desavença entre os adeptos do Espiritismo Kardecista (que aceita a doutrina codificada por Allan Kardec) e os do Espiritismo Umbandista. Uns e outros fazem questão de dizer que são “espiritas”. Mas os primeiros declaram que foi Allan Kardec quem criou e fixou o termo para designar especificamente o movimento espiritualista por ele iniciado e que, por conseguinte, outros não podem usurpar a mesma designação para um movimento essencialmente diferente. É a razão por que reclamam o termo “espírita” para si exclusivamente. Nem por isso os umbandistas deixam de chamar-se “espíritas”. Podem alegar em seu favor que a Umbanda de fato não é essencialmente diferente do Kardecismo, Em vista disso a Federação Espírita Brasileira, que lidera entre nós o movimento kardecista, declarou oficialmente: “Baseados em Kardec, nos é licito dizer: Todo aquele que crê nas manifestações dos Espíritos é espirita; ora, o umbandista nelas crê, logo o umbandista é espirita… Assim, todo umbandista é espirita, porque aceita a manifestação dos Espíritos, mas nem todo espírita é umbandista, porque nem todo espirita aceita as praticas de Umbanda” {Reformador, órgão oficial da Federação Espírita Brasileira, Julho de 1953, p. 149).

Entretanto, muitos kardecistas não se conformaram com tão “intempestiva declaração” e — apesar de alardearem ilimitada tolerância — persistem em combater com estranha intransigência o movimento umbandista. Poderíamos, aliás, acrescentar mais uma razão que, a nosso ver, justificaria plenamente a aspiração dos umbandistas quando teimam em chamar-se “espíritas”: é que eles não apenas creem nas manifestações dos Espíritos (coisa que nós católicos também admitimos como possível), mas, além disso, praticam sua evolução e provocam suas manifestações (prática, que nós católicos reputamos ilícita e pecaminosa porque, como veremos, rigorosamente vedada por Deus). E já que os nossos kardecistas não sentem dificuldades em qualificar como espíritas semelhantes movimentos que, na Inglaterra e América do Norte, se dedicam a evocação provocada dos espíritos, muito embora não admitam a codificação kardeciana, nem mesmo a reencarnação, pela mesma razão deveriam eles reconhecer também como verdadeiros irmãos espíritas os adeptos da Umbanda.

IDENTIDADE SUBSTANCIAL ENTRE UMBANDA E ALLAN KARDEC


Mas existe ainda outra razão muito mais decisiva que nos permite identificar a Umbanda com o Espiritismo. Pois todos os umbandistas aceitam a doutrina ou filosofia kardecista da reencarnação. Como este ponto será de importância fundamental para uma tomada de posição católica perante a Umbanda, é necessário demonstrar nossa afirmativa. Apresentamos os seguintes documentos:

1) O já citado Catecismo de Umbanda (Rio 1954) declara em seu prefácio querer expor apenas “o que é aceito pela maioria dos umbandistas” (p, 5). Na p. 66 damos com a seguinte pergunta: “Há alguma diferença entre Umbanda e Kardecismo?” A resposta é inequívoca: “Doutrinariamente, não há diferença. A doutrina de Umbanda é a mesma que a de Allan Kardec. A sua base é a evolução, o progresso espiritual, através do sofrimento, no decorrer das reencarnações, sendo necessária a prática da caridade para apressar-se esse desenvolvimento”.

2) Numa obra que se declara “aprovada e adotada oficialmente pela Confederação Espírita Umbandista”, editada no Rio em 1951 sob o titulo Doutrina e Ritual de Umbanda, lemos a p. 68: “O umbandista acredita na lei das reencarnações, na lei da evolução das almas, aceita a revelação de Jesus Cristo. Dois pontos distinguem o umbandista do kardecista: a) a prática da comunicação com os espíritos elementais; b) o ritual, muito complexo na lei de Umbanda, que é uma religião de culto externo”,

3) Emanuel Zespo (pseudônimo de Paulo Menezes), já considerado em alguns meios “o codificador de Umbanda”, ensina também que “o Espiritismo de Umbanda aceita integralmente a revelação kardeciana” (O que é a Umbanda, Rio 1949, p. 47) e, na p. 51 do mesmo livro, o autor esclarece: “Dos diversos tipos de espiritualistas existentes no mundo, o umbandista é dos que praticam a mediunidade espiritualista, e, como os espiritas, o umbandista comunica-se com os desencarnados, aceita a lei das reencarnações, aceita a doutrina do Evangelho, e procura praticar a caridade como a entendeu Kardec. Ora, dois pontos apenas, distanciam a Umbanda de Kardec: 1) a prática da comunicação com os elementais, os espíritos da natureza; 2) a sua ritualística. … A Umbanda aceitou a comunicação com os desencarnados, a terceira revelação kardeciana, absorvendo do Espiritismo todos os seus ensinamentos”.

4) Em vista de tudo isso se compreende que o Primeiro Congresso de Umbanda tenha aprovado com unanimidade esta quarta conclusão: “Sua doutrina (de Umbanda) baseia-se no princípio da reencarnação do Espírito em vidas sucessivas na terra, como etapas necessárias a sua evolução planetária”.

Destes documentos todos inferimos com razão que existe identidade substancial entre a doutrina kardecista e a umbandista. Verificamos no ponto anterior que também na prática da evocação provocada dos espíritos há igualdade essencial entre os dois. Não diferem, por conseguinte, em sua essência, estes movimentos: baseados ambos substancialmente na mesma prática, procuram orientar seus adeptos com uma doutrina essencialmente idêntica. Daí já se vê que a posição dos católicos perante a Umbanda não será muito distinta da já conhecida atitude frente ao Espiritismo kardecista. Todavia, devemos assinalar duas diferenças.

UMBANDA, A QUARTA REVELAÇÃO


Aceitando embora “integralmente a revelação kardeciana, a Umbanda pretende, no entanto, aperfeiçoá-la e ultrapassá-la. Para os umbandistas Kardec é grande, mas Umbanda é maior. Moisés trouxe a primeira revelação, Cristo veio com a segunda revelação, Kardec declarou o Espiritismo portador da terceira revelação, mas a Umbanda seria a última, a Quarta Revelação. Assim como Cristo retificou e superou Moisés, como Kardec corrigiu e suplantou Cristo, assim a Umbanda julga purificar e vencer Kardec, Cristo e Moisés. É que eles, os umbandistas, tiveram a dita de entrar em relações com espíritos superiores aos daqueles que ditaram suas mensagens para Allan Kardec, espíritos “que possuem mais vasta concepção do universo e reconhecem a existência de outra ordem de espíritos (não humanos) cujas relações entre os mesmos e os humanos não devem ser apenas de mero intercâmbio e sim de cultuação, o que exige (e mesmo para que o contato seja estabelecido) uma verdadeira ritualística” (E. Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p. 28).

São, por conseguinte, dois os pontos em que os umbandistas julgam corrigir e superar a codificação kardeciana:

1) Segundo Kardec todos os espíritos do além são almas “desencarnadas”, não existindo outra ordem de seres espirituais (pelo que nega a existência de anjos e demônios, no sentido da tradicional doutrina crista); mas a Umbanda admite três tipos diferentes de espíritos no além: a) os orixás (espécie de divindades, que estudaremos mais adiante), b) os exus (espíritos ruins e perversos, denominados por eles de “elementais”), c) os eguns, que seriam os desencarnados. Os kardecistas, por não reconhecerem outro tipo de espíritos, só evocam os eguns, ou os desencarnados. Originariamente os africanos só evocam orixás e exus e “não queriam trabalho com eguns”. Influenciados pelo Espiritismo, os umbandistas de hoje (que, aliás, em outros muitíssimos pontos se afastaram da primitiva religião africana, mormente na parte doutrinaria) evocam também os desencarnados, principalmente sob as formas de Pretos Velhos e Caboclos.

2) Os kardecistas são moderados e sóbrios no rito evocativo e desconhecem um cerimonial de culto; os umbandistas, pelo contrário, apresentam uma exterioridade e um ritualismo exuberante, exótico e complicado para a evocação e incorporarão dos vários tipos de espíritos, como, sobretudo, também, para a sua veneração e culto que, como adiante se verá, degenerou num verdadeiro politeísmo e mesmo em demonolatria.

Se bem que estas diferenças entre Kardec e Umbanda não atinjam a essência do Espiritismo como tal, em sua doutrina e em sua filosofia, não deixam contudo de modificar sensivelmente o aspecto e o aparato externo (que, por isso mesmo, é sempre acidental). É esta a razão por que a Umbanda se julga superior e a mais acabada forma de religião, a Quarta Revelação:

“Tanto quanto Kardec não quis destruir o Evangelho e apenas “esclarecer” a obra de Jesus, nós não queremos inutilizar a obra de Kardec e sim acrescentar mais uns capítulos, outrora não escritos, ao Livro dos Espíritos e ao Livro dos Médiuns (de Allan Kardec). Ao observador superficial parecerá que Umbanda é a retrogradação do Espiritismo; mas ao espírita verdadeiramente kardecista, e estudioso consciente, a razão e a lógica afirmarão que, se a obra do grande druida foi a Terceira Revelação, esta é então, e por justiça, a Quarta Revelação!” (E. Zespo, Codificação da Lei da Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p, 34).

E não é pouco. Os umbandistas não são modestos: “A Umbanda é a única religião que sobre a face da terra tem a autoridade suficiente para falar e tratar das coisas divinas” (A. Fontenelle, A Umbanda através dos séculos, Rio 1953, p. 15). Pois: “Tanto quanto o Budismo aproveitou quase tudo do Bramanismo, o Cristianismo conservou o melhor do Mosaísmo, assim a Umbanda aproveita, conserva e guarda o que de bom e aproveitável pode haver em todas as religiões do passado. A Umbanda não é apenas uma corrente religiosa: ela é o sincretismo de todas as correntes religiosas, ela guarda os fundamentos de todas as teogonias e resume as bases de todas as filosofias” (E. Zespo, obra citada, p. 8). Semelhante jactância sem medida é muito frequente entre eles. Escrevem e falam como se fossem os homens mais cultos deste mundo. Assim, por exemplo, podemos ler num dos livros do já citado Emanuel Zespo:

“Li o Damapada, o Bagavad-Gita; li a Bíblia, li o Evangelho, li Platão, Schopenhauer, Nietsche, Kant, Comte, Hegel, Agostinho, Aquino, Montefeltre; li Lao-Tsen, Vivekanda, Ramacharaka, Levi, Blavatsky, Besant, Leadbeater, Jinaraja- dasa, Max Heindel e mil outros, de todos os tempos, de todos os séculos… Enfronhei-me nas demonstrações do invisivel, com Gerard Encause, Hermes, Saint-lves d Alvidre, Nostradamus, Camaisar, BullverLytton, Oicott, os kabalistas, os esotéricos, os teósofos, os ocultistas, os magos; os fetichistas, os feiticeiros… Visitei, graças à criptologia, as civilizaçõeslêmures, atlantas, turânias, assírio-babilônia, medopersa, hindu, fenícia, greco-Iatina, ibero-celta, galo-druídica, teuto-scândia, siro-Árabe, mosaico-cristã, asteca, tolteca, maia, incaica… Andei nos mitos; cultuei Baal, Wotan, Zeus, Adonai; os 7 Sephirot: Osiris, Isis, Amon; orei na Porta do sol de Ouro; cantei as glorias do divino Lotus; reconheci que Marte era Changô; Afrodite ouVênus era Iemanjá ou Iára; Wotan era Tupã; Brahma, Orixalá; Jeová, Oxalá; a Trimurti, Trin-magé… Sonhei com fadas, silfos, nereidas, gnomos, salamandras, ninfas, musas e ondinas, e encontrei ochúns, ochus, echus, dadás… Subi à Montanha do Sermão; desci ao lago da ilusão; li as tabuas de Jeová e ouvi as propostas de Belsebú, senti o êxtase de Sakia-Muni e vivi as perdições de Mara…” (O que e a Umbanda, Rio 1949, p. 83).

UMBANDA É MAGIA


Todos os autores umbandistas que temos em mão, quando definem este atual movimento denominado Umbanda, concordam em confessar que “é magia’’. Um exemplo: “Umbanda é fazer magia por intermédio das forças invisíveis, baseada nas forças astrais, com rituais, preceitos, sinais cabalísticos, cânticos e outros elementos, como a água, o fogo, a fumaça, as bebidas, as comidas, os animais, apetrechos apropriados, etc.” (cf. a revista Umbanda, Rio, Agosto de 1948, p. II; também Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 89 ed. p. 12, traz idêntica definição). O mesmo autor que dá esta definição, compara os umbandistas com os “alquimistas, feiticeiros, adivinhos, profetas e pitonisas do passado”.

O Espiritismo Kardecista evoca os espíritos para deles ter notícias, obter comunicações doutrinárias, ou ainda, quando se trata de espíritos atrasados, para instruí-los; mas não os explora com o fim de fazer certos “trabalhos” a favor ou contra determinadas pessoas. Os kardecistas, por conseguinte, se limitam ao que antigamente era conhecido sob o nome de “necromancia”. A Umbanda, porém, vai bem mais longe: veremos adiante, quando tratarmos do culto ao Exus, considerados “os agentes mágicos universais”, que estes espíritos são evocados por meio de ritos, sinais cabalísticos (“pontos riscados”), versos evocativos (“pontos cantados”) e objetos (galos pretos, charutos, cachaça, velas, etc.) que lhe são oferecidos (“presentes”, “despachos”), para conseguir que se ponham ao serviço do homem e façam ou desmanchem determinados “trabalhos”. E isso é magia no sentido mais estrito da palavra.

Ora, tanto a necromancia dos kardecistas, como a magia dos umbandistas, foi rigorosamente interdita por Deus. A magia, porém, foi proibida com particular severidade. Deus ameaçou punir a magia com os mais tremendos castigos. Diz-nos a Sagrada Escritura que povos inteiros foram exterminados porque praticavam a magia. Eis alguns exemplos: Em Lev 20, 6 diz o Senhor: “A pessoa que se dirigir a magos ou adivinhos e tiver comunicação com eles, eu porei o meu rosto contra ela e a exterminarei do seu povo”. E outra vez recebemos a ordem terminante: “Não vos dirijais aos magos, nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lev 19, 31). E temos, sobretudo, esta grave admoestação: “Não se ache entre vos quem consulte adivinhos ou observe sonhos e agouros, nem quem use malefícios (despachos!), nem quem seja encantador, nem quem consulte pitões ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas, e por tais maldades exterminará estes povos à tua entrada. Serás perfeito e sem mancha como o Senhor teu Deus. Estes povos, cujo país tu possuirás, ouvem os agoureiros e os adivinhos; tu, porém, foste instruído doutro modo pelo Senhor teu Deus” (Deut 18, 12-14).

Também no Novo Testamento damos com idênticas proibições. Temos ai o exemplo de um certo Simão “que praticava a magia e iludia o povo”: “Toda a gente Ihe dava ouvidos, desde o menor até ao maior, dizendo: Este é a virtude de Deus, que se chama grande. Aderiram-lhe, porque os fascinara, por largo tempo, com as suas artes mágicas” (At 8, 9-11). De quantos babalaô e “pai de santo” dos nossos terreiros umbandistas se poderiam dizer ainda hoje o mesmo! Mais adiante, ainda nos Atos dos Apóstolos, encontramos São Paulo diante dum certo Elimas, que era mago e feiticeiro; mas Paulo encarou-o firmemente e disse: “Ó filho do demônio, cheio de toda a falsidade e malícia, inimigo de toda a justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor? Eis que vem sobre ti a mão do Senhor; serás cego e não verás o sol por certo tempo” (At 13, 10). Em Éfeso o grande Apóstolo das gentes, além de muitas conversões, conseguiu ainda o seguinte resultado: “Outros muitos que tinham praticado artes mágicas, trouxeram os seus livros e os queimaram aos olhos de todos; calculou-se o valor deles em cinquenta mil dracmas de prata” (At 19, 19).

UMBANDA E QUIMBANDA


Querem alguns distinguir entre Umbanda e Quimbanda, dizendo que ambos praticam a magia, sim, mas com a diferença de que em Umbanda ela é feita apenas para o bem (e seria a Magia Branca) e em Quimbanda os trabalhos seriam exclusivamente maus (Magia Negra). A este respeito, contudo, o Sr. Aluísio Fontenelle, que se diz “sacerdote dos diversos cultos de Umbanda”, garantindo ser “conhecedor real de todas as práticas que se exercem, nos diversos terreiros”, considerando-se por isso “catedrático no assunto” (cf. Exu, Rio 1952, p. 94), escreve o seguinte:

“Na sua essência última, a Quimbanda é em quase tudo idêntica ao que se cultua na Umbanda, uma vez que daquela surgiu esta última. Digo que a Umbanda é uma parte da Quimbanda, pelo fato de que a sua composição, suas atividades, suas divindades, suas lendas, seu ritual (em grande parte), seu protocolo, enfim: as suas crenças estão perfeitamente irmanadas dentro do mesmo sentido, divergindo apenas no que diz respeito à indumentária e certas práticas na comunhão dos seus trabalhos espirituais. A Quimbanda continua no firme proposito de manter as antigas tradições dos seus ascendentes africanos, ao passo que a Umbanda procura, pelo contrário, afastar completamente esse sentido incivilizado das suas práticas, devendo-se a influência do homem branco, cujo grau de instrução, já não as admite” (A. Fontenelle, O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei de Umbanda, Rio, p. 81).

E ainda que, teoricamente, digam alguns umbandistas que eles querem apenas a Magia Branca, (que, aliás, também é proibida por Deus!), a realidade dos terreiros, todavia, afirma bastas vezes o contrario. O Sr. Oliveira Magno, em Prática de Umbanda, Rio 1952, p, 70, conhece umbandistas “que fazem, nos fundos da suas tendas ou terreiros, ou então, em suas residências, os mesmos trabalhos”, isto é: Fazem trabalhos “para obrigar o namorado ou amante a voltar e se casar; para amarrar o homem com a mulher; para que o marido se conforme com a mulher ter o seu amante; para uma mulher tirar o homem de outra; para que o homem só tenha potência para uma mulher; para se saber em sonho com quem vai casar-se; para amarrar a vida e negócio dos outros e os arruinar; para obrigar os outros a fazer o que não é justo; para castigar os inimigos, pô-los doentes ou então os matar, etc.”.

Também outro autor reconhece a existência de muitos umbandistas “que ainda procedem assim, aumentando a cegueira e ignorância desses infelizes irmãos, e pior ainda, fazendo despachos com fins malévolos, projetando falanges atrasadas contra irmãos encarnados desprevenidos e incrédulos, que na maioria das vezes sofrem o efeito sem compreenderem a origem do mal que estão padecendo, por desconhecerem a Umbanda e a Quimbanda” (Florisbela M. Sousa Franco, Umbanda, Rio 1954, p. 131).

Reconhecemos, todavia, a existência de terreiros de Umbanda que “só querem fazer o bem”, que fazem uso da magia e recorrem aos serviços dos exus “apenas para obter bons efeitos”, ou para “desmanchar” os malefícios da Quimbanda. É, porem, inegável que também nestes meios, onde não negamos haver boa fé e excelente vontade, existe tremenda confusão religiosa, é praticada a evocação dos espíritos, é oferecido um verdadeiro culto aos exus, é pregada a heresia da reencarnação e são identificados os Santos Cristãos com deuses pagãos, como adiante se verá.

O PANTEÍSMO DOS UMBANDISTAS


No Primeiro Congresso de Umbanda foi aprovada a quinta conclusão, formulada nestes termos: “Sua filosofia consiste no reconhecimento do ser humano como partícula da divindade, dela emanada límpida e pura, e nela finalmente reintegrada ao fim do necessário ciclo evolutivo, no mesmo estado de limpidez e pureza, conquistado pelo seu próprio esforço e vontade”.

Afirma-se, pois, que nós (o “ser humano”) somos “partículas da divindade”, que “emanamos” de Deus. Tais expressões são comuns na literatura umbandista: “A alma humana é de essência divina”, ensina o livro oficial da Confederação Espírita Umbandista, Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1051, p. 70. Nesta mesma obra lemos expressões ainda mais fortes: “Deus é o Todo e eu Sua parte”; “Deus dorme no mineral, sonha no vegetal, desperta no animal, é consciente no homem, que, deste modo, pode atingir a perfeição”; “o fim da evolução é, para o homem, a completa realização de sua divindade, a identificação de seu próprio ser com a Realidade única” (p. 40).

Essa identificação da criatura com o Criador evidentemente despersonaliza Deus. O Deus panteísta de Umbanda já não é o Deus Pessoal e Consciente dos cristãos. O Deus umbandista do qual “emanam” todos os seres, não é o Deus cristão que “no princípio criou o céu e a terra” (Gen 1, 1). O Deus umbandista, identificado com o Universo, não é o Deus cristão anterior a toda criatura, independente do mundo, infinitamente superior ao universo limitado e mutável, Senhor absoluto e Criador de todas as coisas existentes fora d’Ele, o Deus pessoal, individual e singular, de que nos falam as Escrituras. O homem umbandista, “partícula da divindade”, jánão é o homem cristão “que Deus criou do nada” (2 Macab 7, 28).

Mas o Deus dos cristãos não é apenas um Ser Infinito, anterior ao mundo e dele essencialmente distinto, Ele é também um Ser subsistente em Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É o augusto mistério da Santíssima Trindade. E a fé cristã ainda nos ensina que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo: a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Ora, tudo isso não é concebível num sistema de filosofia panteísta, qual o de Umbanda. Razão pela qual os umbandistas apoiam os kardecistas na negação da Santíssima Trindade e na contestação da Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A respeito da natureza de Cristo transcrevemos aqui uma passagem do umbandista Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed., que é entre todas as obras sobre Umbanda a mais difundida e serve como manual em numerosos terreiros. O trecho que transcrevemos pode ser encontrado na p. 45 s. Ei-lo:

“Devemos nos lembrar de que naquela época existia na Terra um homem sábio, inteligente e virtuoso, que se chamava José de Arimatéia. Esse homem era o chefe de uma Seita de Cabala (Ciências ocultas, Maçonaria, Esoterismo, Magia). Seita esta que possuía muitos discípulos com vários graus de adiantamento moral, espiritual e intelectual, destacando-se dentre eles João Batista, o mais evoluído. José de Arimatéia, vendo em Jesus, aos 12 anos, um espírito adiantado, quero dizer, espiritualmente evoluído e reconhecendo ser ele um predestinado, tratou de educá-lo carinhosamente, desenvolvendo nele os dons mediúnicos que ele possuía, em estado latente, e ensinando-lhe os mistérios da Cabala e toda a filosofia da seita, da qual era o supremo chefe. Esse aprendizado durou quase 18 anos, época em que Jesus, afinal, atingiu a casa dos 30 anos de idade. Espírito missionário animando um corpo carnal, inteligência privilegiada, alma boníssima, evoluído bastante pelas inúmeras encarnações por que passou e tendo recebido de José de Arimatéia sábios ensinamentos científicos e filosóficos e tendo também desenvolvido os dons mediúnicos de vidência, clarividência, audição, clariaudição e transporte, entrou em contato com os seres do plano astral superior e do plano sideral, por meio das quais aumentou o seu cabedal de conhecimentos, adquiriu convicção forte, fé inabalável, etc., podendo fazer, destarte, o que fez, sem se deixar arrastar pelas paixões do mundo, sem se abater, sem se orgulhar; curando, ensinando a sua doutrina, pregando por parábolas, doutrinando os povos dos lugares por onde passava, fazendo enfim verdadeiros trabalhos de Magia mental e astral…” Teríamos, portanto, um Jesus que não é Deus, mas um espírito “evoluído bastante pelas inúmeras encarnações por que passou” e que foi estudar Ciências ocultas, Maçonaria, Esoterismo e Magia na Escola de José de Arimatéia…

FATAIS CONSEQUÊNCIAS DA DOUTRINA REENCARNACIONISTA


“A Umbanda, como o Espiritismo, aceita a lei das reencarnações e outros pontos doutrinários expostos pelo Espiritismo” (Samuel Ponze, Lições de Umbanda, Rio 1954, p. 10). Quando mostramos a identidade substancial entre Umbanda e Kardec, já citamos outras declarações autorizadas dos meios umbandistas, inclusive a quarta conclusão do Congresso de Umbanda, constando assim que, embora haja muita divergência entre eles, neste ponto fundamental e doutrinário, todavia, todos eles concordam com voz uníssona: O homem não vive uma só vez sobre a terra; já viveu muitas vidas no passado e por outras muitas deverá passar, não apenas neste planeta terra, mas através de numerosas estrelas mais perfeitas, até alcançar a perfeição final, quando, então, tornará a reintegrar-se na divindade, no mesmo estado de limpidez e pureza em que dela emanou. E esta perfeição final, ensina a quinta conclusão do Congresso de Umbanda, o homem a conquistará “pelo seu próprioesforço e vontade”.

Se analisarmos bem a filosofia reencarnacionista de Kardec, integralmente homologada pelos umbandistas, verificaremos que ela se resume nestes quatro postulados: 1) pluralidade das existências terrestres, 2) progresso contínuo depois da morte, 3) expiação própria e evolução por méritos rigorosamente pessoais, 4) sempre novos corpos e, afinal, vida puramente espiritual, sem corpo material. Ora, não é preciso ser grande teólogo, para saber que Cristo, contra o princípio reencarnacionista da pluralidade das existências, ensina a unicidade da vida terrestre; contra o princípio reencarnacionista do progresso continuo depois da morte, ensina a existência e a eternidade de um estado e lugar de condenação sem fim chamado inferno; contra o princípio reencarnacionista de expiação própria e do aperfeiçoamento por méritos rigorosamente pessoais, ensina a nossa redenção por Sua sagrada paixão e morte; contra o princípio reencarnacionista de uma vida definitiva e puramente espiritual, ensina a ressurreição final de todos os homens. São quatro ensinamentos de Nosso Senhor, que se encontram não apenas em um ou outro texto esporádico ou de significação duvidosa, mas que perfazem, por assim dizer, o cerne da mensagem cristã. Mas os espíritas, precisamente por causa da filosofia reencarnacionista que adotam, se viram forçados a riscar grande parte do Evangelho, chegando por isso a negar a própria Bíblia. Endossando a teoria da reencarnação, os umbandistas devem logicamente acompanhar os kardecistas na triste negação de tantas verdades evangélicas e cristãs. Mas com isso mesmo os umbandistas se colocam fora do Cristianismo.

UMBANDA É A NEGAÇÃO DO CRISTIANISMO


Já vimos que a Umbanda, em sua prática da evocação dos espíritos e em seus trabalhos de magia (branca ou negra, tanto faz) desobedece a Deus, revoltando-se contra uma ordem clara e repetida do Criador, determinação que se encontra no Antigo e no Novo Testamento. Verificamos que a Umbanda, em sua doutrina panteísta, contesta e deve contestar toda uma longa série de verdades cristãs a respeito de Deus: nega o augusto mistério da Santíssima Trindade; nega a existência de um Deus pessoal e distinto do mundo; nega a doutrina cristã a respeito da origem e a criação do universo; nega a criação da alma humana; nega a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo; nega, consequentemente, a Maternidade Divina de Maria Santíssima; etc. Apuramos também que a Umbanda, endossando o princípio kardecista da reencarnação, deve contestar e de fato contesta mais outra sequência de verdades claramente ensinadas por Cristo, nosso Mestre Divino: nega a nossa redenção por Cristo; nega consequentemente a graça e toda a doutrina cristã do sobrenatural; nega, por isso mesmo, a doutrina cristã acerca dos Sacramentos; nega a unicidade da vida terrestre; nega o juízo particular depois da morte; nega a ressurreição final de todos os homens; nega a existência do inferno; etc. Tudo isso, em outras palavras, é a negação total da Doutrina cristã e por isso do Cristianismo.

Em alguns meios umbandistas se professa até mesmo uma manifesta tendência de retorno ao paganismo. Assim declara, por exemplo, a obra oficial da Confederação Espírita Umbandista: “Cumprindo uma ordem de Xangô-Agaju fundou-se a Confederação Espírita Umbandista, com a finalidade de restabelecer a tradição antiga, em toda a sua foça e pureza primitiva” (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 152). Heraldo Menezes, em sua obra Caboclos na Umbanda (Rio), depois de ponderar que “o Universo e um conjunto de deuses em permanente harmonia”, levanta a seguinte acusação: “Qual rolo compressor, o cristianismo, avassaladoramente, destruiu o politeísmo grego e o romano, o persa e o egípcio, cognominando-os de cultos pagãos”. Em seguida se dirige mais especialmente contra a Igreja e escreve: “A igreja romana, fundada por Pedro, no afã evangelizador, penetrando por ínvios continentes, substituindo os fetiches dos selvícolas por imagens católicas, criou o sincretismo religioso (sic!). Mas, a igreja romana, um tanto distante da filosofia de Cristo, também não possui as suas lendas? A canonização dos homens não fomenta a idolatria? Logo, em sã consciência, podemos afirmar que, se os símbolos nos conduzem a Suprema Ascensão, os povos primitivos, apesar de sua decantada ausência de civilização, adorando todas as forças vivas da Natureza, estavam certos” (p. 3-4). Mais adiante preconiza abertamente: “O homem terá que voltar ao primitivismo” (p. 35)…

Entretanto, esses mesmos umbandistas, que praticam a necromancia e a magia, apesar de proibidas por Deus sob a cominação dos mais tremendos castigos, revoltando-se assim centra Deus; esses mesmos umbandistas, que contestam e ridicularizam as verdades centrais da mensagem cristã, rebelando-se desta maneira contra Cristo; esses mesmos umbandistas, que apregoam a necessidade de retornara o paganismo dos povos primitivos, procurando difundir nos meios católicos do Brasil, como adiante se verá,não apenas a necromancia e a magia, mas também o politeísmo e até mesmo a demonolatria, insurgindo-se deste modo contra a Igreja; esses mesmos umbandistas, para melhor encobrir suas práticas, suas doutrinas e seus propósitos, apesar de estarem manifestamente fora do Cristianismo e contra ele, não perdem, todavia, ocasião para proclamar que são e querem ser cristãos. A já mencionada Doutrina e Ritual de Umbanda, que pretende reintroduzir o africanismo puro (p. 152), não titubeia em afirmar, também, a título de engodo, que a Umbanda “aceita a revelação de Jesus Cristo” (p. 68). Igualmente o Primeiro Congresso de Umbanda, depois de professar a reencarnação (4ª conclusão), o panteísmo (5ª conclusão), a auto redenção (5ª conclusão) e o liberalismo religioso (6ª conclusão) — princípios que levam a uma interminável série de conclusões tão contrárias a Doutrina Crista, que do Cristianismo nada sobrará — tem, todavia, a insolência de formular a 7ª conclusão nestes termos: “O reconhecimento de Jesus Cristo como Chefe Supremo do Espiritismo de Umbanda, a cujo serviço se encontram entidades altamente evoluídas, desempenhando funções de guias, instrutores e trabalhadores invisíveis, sob a forma de caboclos e pretos velhos”. Eis mais algumas declarações semelhantes para a nossa documentação;

“A Umbanda, tal como se apresenta hoje no Brasil, é uma religião cristã” (Samuel Ponze, Lições de Umbanda, Rio 1954, p. 12).

“A Umbanda no Brasil e do Brasil é francamente cristã” (Emanuel Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Prática, Rio 1953, p. 80). O mesmo autor, em O que é a Umbanda, Rio 1941, p. 51, não enrubesce ao escrever que a Umbanda “aceita a doutrina do Evangelho”.

“Nós nos encarregaremos de mostrar aonde esta a verdade de Jesus Cristo, a verdadeira fé cristã, que conduzirá os povos à suprema gloria de servir a Deus” (A. Fontenelle, A Umbanda através dos séculos, Rio 1953, p. 74); “estou certo que a Umbanda verdadeira, a Umbanda que Jesus Cristo pregou sobre a face da terra, surgirá límpida e pura, em toda a sua finalidade redentora” (ib p. 83).

São palavras apenas; palavras impugnadas eloquentemente pela prática da necromancia e da magia em todas as tendas e terreiros de Umbanda e contraditadas pela doutrina da reencarnação, do panteísmo e do mais crasso paganismo em todos os livros de Umbanda e Quimbanda.

POSIÇÃO CATÓLICA PERANTE A UMBANDA


Já, a esta altura, é fácil compreender e precisar a posição católica perante a Umbanda. Para sermos claros, procuraremos sintetizar esta posição nos seguintes pontos:

1) A primeira e máxima obrigação do homem é amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua mente e com todas as suas formas (Mt 23, 37-38). Entretanto, disse Cristo, “se me amais, guardai os meus mandamentos” (jó 14, 14); “quem guarda os meus mandamentos e os observa, esse é que me ama” (Jó 14, 21); “vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (Jó 15, 14); “a caridade consiste em vivermos segundo os mandamentos de Deus” (cf. 2 Jó6). Ora, Deus mandou que não evocássemos os espíritos, ordenou que não praticássemos a magia. Já vimos os textos, que são insofismavelmente claros. Mas é manifesto que todo o movimento umbandista se apoia na evocação dos espíritos e na prática da magia, sendo, portanto um movimento de declarada desobediência e revolta contra Deus. É impossível ao homem, neste estado, cumprir sua máxima obrigação: amar a Deus sobre todas as coisas. É por isso que o católico de maneira nenhuma pode aderir à Umbanda.

2) Sendo o exercício da evocação dos mortos e da magia pecado grave de desobediência, e também vedado fomentar as práticas de Umbanda ou assistir a elas. Donde se infere que é pecado mortal assistir às sessões espíritas e às práticas da magia nas tendas ou nos terreiros de Umbanda.

3) Já foi demonstrada a oposição frontal entre a Doutrina Cristã e a Doutrina Umbandista. Nega a Umbanda o que o Cristianismo afirma. São dois polos opostos. Segue daí que é impossível ser ao mesmo tempo umbandista e católico. Todo aquele, portanto, que aderir às praticas e às doutrinas de Umbanda, sai da Igreja, exclui-se a si mesmo da comunidade dos fiéis de Cristo, deixa de ser católico e renuncia ao direito de receber seus meios de santificação. Em outras palavras: o umbandista já fez tudo para desligar-se da Igreja e as autoridades eclesiásticas são apenas consequentes com aquilo que ele mesmo voluntariamente escolheu, quando o considera de fato desligado, isto é: excomungado. Com isso o umbandista perdeu o direito de assistir à santa Missa (mas não é necessário expulsá-lo, quando entrar na igreja: apenas não pode reclamar para si o direito de assistir); perdeu o direito de receber os santos Sacramentos: na Confissão não pode receber a Absolvição, na mesa da Comunhão não pode receber a Eucaristia, etc.; perdeu o direito de tomar parte nas indulgências, nos sufrágios e nas orações públicas da Igreja.

4) Verificamos e provamos que a Umbanda se identifica substancialmente com o Espiritismo: é a razão pela qual vale para os umbandistas o que os Bispos do Brasil declararam recentemente a respeito dos espíritas: são e devem ser tratados como hereges. Por isso devem-se aplicar também aos umbandistas as seguintes determinações:

— não podem ser admitidos à recepção dos Sacramentos, ainda que os peçam de boa fé, sem que abjurem a Umbanda e renovem a profissão de fé católica;

— não podem mandar batizar na Igreja seus filhos menores, a não ser que estejam em iminente perigo de morte ou ofereçam garantias suficientes de que receberão uma educação católica;

— não podem ser convidados ou admitidos como padrinhos ou madrinhas de Batismo ou de Crisma.

— quando falecerem, sem dar sinal de arrependimento, ficam privados da encomendação e da celebração de Missa pública por sua alma.

5) Visto que a Umbanda não é apenas desobediente em suas práticas e herético em suas doutrinas, mas quer também constituir uma religião particular, com hierarquia, ritos e cultos próprios, seus adeptos devem ser considerados como membros duma seita religiosa acatólica e existe, por conseguinte, impedimento matrimonial entre umbandistas e católicos.

6) Já que os livros umbandistas propunham a heresia e ensinam ou recomendam a superstição, o sortilégio, a adivinhação, a evocação e a magia, sua leitura é interdita aos católicos sob pena de pecado mortal e sob a censura de excomunhão.

A HIERARQUIA EM UMBANDA


É impossível dar ao leitor informações mais ou menos precisas a respeito do ritualismo umbandista. “Temos visitado inúmeros terreiros no Brasil — escreve Emanuel Zespo e não encontramos a uniformização de ritual tão desejada por alguns. Verificamos que cada terreiro, cada centro, segue, no geral, a orientação dada pelos seus próprios guias e caciques” (Codificação da Lei de Umbanda, Parte Prática, Rio 1953, p. 44). Apenas para a orientação dos leitores, daremos no final, em apêndice, um exemplo do ritual umbandista.

A extrema complexidade dos ritos para a evocação mágica dos orixás, exus e êguns, ou para outros “trabalhos espirituais de caridade”, reclama numeroso pessoal, suficientemente instruído e habilitado. Para conseguirmos a necessária orientação sobre Umbanda, é conveniente tomar conhecimento dos nomes (pois em Umbanda se usa uma terminologia particular) e das atribuições dos vários graus da hierarquia umbandista:

1) O chefe principal, ou o chamado chefe do terreiro, é denominado geralmente “Pai de Santo” (tradução literal de babalorixá: baba=pai, orixá—santo) ou babaiaô, babaloxá, babaluê, ou ainda: cacique, príncipe de Umbanda, senhor de Olorum, chefe de rebanho; quando for mulher, é “Mãe de Santo”, ou simplesmente babá. O Catecismo de Umbanda, Rio, p. 69 s, resume as funções de babalorixá nos seguintes pontos:

1) Incorporar o espírito do Dono do terreiro, isto é, do espírito sob cuja proteção se fazem os trabalhos do terreiro, constantemente;

2) Identificar os espíritos que se manifestam;

3) Executar todas as práticas mágicas necessárias à consagração dos otás, isto é, das imagens dos orixás que baixam no terreiro; .

4) Riscar o ponto, no início de trabalhos;

5) Explicar a doutrina, fazendo prédicas, em sessões que sejam dedicadas a trabalhos de demanda;

6) Dar passes, nas sessões de caridade;

7) Diagnosticar as doenças, empregando as ervas no seu tratamento;

8) Evitar disputas, brigas e inimizades entre os sócios de um terreiro;

9) Fiscalizar os trabalhos dos médiuns e dos auxiliares do terreiro;

10)Conhecer a arte de adivinhação por meio dos búzios, saber cartomancia e leitura das mãos.

2) A seguir vem os ogans, homens que auxiliam diretamente o babalaô, tratam do cerimonial, dirigem os trabalhos de incorporação dos médiuns, entoam os pontos cantados e zelam pela perfeita ordem do terreiro; conhecem a força das ervas, os segredos e os efeitos dos pontos riscados, a comida dos Santos e sabem manejar a faca para sacrificar os animais (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 100). Quando mulheres, tem o nome de jabonan, jibonan ou “Mãe pequena”, que são encarregadas também de dirigir as danças e devem ocupar-se com as mulheres.

3) Vem então os cambones, cambonos ou cambandos e as sambas. Todos são “Filhos ou Filhas de Santo”. São auxiliares, competindo-lhes abrir o terreiro, receber qualquer babaiaô, enxugar o rosto dos médiuns, evitar que se machuquem, socorrê-los quando em transe, ajudar nas danças e cantar para as grandes cerimônias. Os cambones prestam assistência aos homens, às sambas às mulheres.

4) Seguem, afinal, os médiuns, julgados em condições de incorporar ou receber os Orixás Menores. Na Umbanda esses médiuns, quando incorporados, são chamados também cavalos, aparelhos, moleques, etc. A respeito da expressão cavalo, o Sr. Samuel Ponze, Lições de Umbanda, Rio 1954, p. 21, tem a seguinte explicação: “CavaIo é uma expressão aparentemente brutal, porém bem judiciosa. O médium é realmente o cavalo de que se serve o cavaleiro (o guia, espirito ou orixá) para percorrer o caminho dessa nova espécie de apostolado: ensinar aos filhos de Umbanda a vereda da luz. Todo o cavalo, depois de domado, tem o seu cavaleiro; assim todo o cavalo de Umbanda, depois de desenvolvido, tem seu guia, seu cavaleiro de Aruanda”.

Muito embora não haja ainda, como vimos, unidade no rito, ele obedece, contudo a certas regras, que o Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 39 s. resumiu nos seguintes traços:

“Numa sessão pública, a assistência fica separada do terreiro, por uma grade com duas entradas, uma para entrada, outra para saída. Os médiuns do sexo masculino dispõem-se numa fila, os do sexo feminino, em outra fila. Todos os médiuns vestidos de branco, descalços, no caso do terreiro ser assoalhado, ou calçados com sapatos de Iona. Os cambonos, vestidos de branco e com sapatos de Iona, defumam o ambiente. O presidente faz a prece de abertura. O chefe do terreiro, enquanto se cantam os pontos, risca o ponto de segurança ou porteira (contra os exus), derramando depois marafo (cachaça) nos quatro cantos do terreiro, do lado de fora. O chefe do terreiro volta ao centro do terreiro, iniciando-se então o canto dos pontos das falanges ou Linhas que tem de baixar. Incorporados os guias (espíritos), o público é atendido para os passes de descarga, resposta às consultas, conselhos, etc. O encerramento das sessões públicas é feito com o canto dos pontos de despedida dos espíritos, prece final dita pelo presidente”.

INSTRUMENTOS DA MAGIA UMBANDISTA


Esta em uso uma infinita variedade de instrumentos na Umbanda, para a prática da Magia: Vestimentas as mais variadas, tambores, chocalhos, pembas de todas as cores, ponteiros (punhais de aço), coités (invólucro de coco babaçu, cortado ao meio e polido), moringues de barro, velas de cera, fitas de seda, barbante (linha crua), otás (pedras dos rios ou seixos rolados), conchas marinhas, estrelas do mar, defumadores de todas as espécies, bodoques, flechas, capacetes de penas (cocares), guias (colares de contas), plantas e raízes, charutos e cachimbos, fumo de rolo, pombos pretos, galos vermelhos ou pretos, sangue de boi, farofa de farinha de mandioca, bebidas, cervejas, varias espécies de vinhos, marafa (cachaga), azeite de dendê, mel de abelha, pólvora, carvão, enxofre em pedra ou pó, perfumes e essências, etc. Existem casas, especialistas em vender ‘’ervas medicinais, defumadores, raízes, rasuras, resinas, cascas, folhas, flores, frutas, óleos, sucos, etc.”, onde se podem comprar ídolos, símbolos de Santos, punhais para riscar os pontos, pembas em diversas cores, orações fortes e toda a sorte de defumadores. Assim, por exemplo, lemos num jornal de hoje mesmo (22-8-1954), do Rio, O Dia, p. 11, um anúncio da “Casa de Umbanda”, que vende “Estatuetas de caboclos, Índios e pretos velhos; ferramentas e material para terreiro; imagens e artigos religiosos; artigos da Baia, bonecos e colares; livros especializados; artigos indígenas, velas e artigos de cera; especialidades para as cerimonias de Umbanda; depósito do defumador Caboclo; fantasias, cerâmica, artigos de barro e variedades; defumadores em todas as qualidades”. A casa está no Largo da Lapa. Na mesma página deste jornal damos com outro anuncio que apregoa o Defumador Sete Flechas: “Seja mais um entre os milhares de consumidores preferindo a proteção do Sete Flechas de Umbanda para seu progresso e proteção. O Defumador Sete Flechas é usado e recomendado pela Confederação Espírita de Umbanda”. Em outro jornal lemos o anúncio do Sabonete de Defesa Pai Jacó, que “foi depois de longos estudos na prática e nos trabalhos espirituais, selecionado com o extrato de 9 espécies de ervas atrativas: Arruda, Guine, Alecrim, Fumo, Comigo-ninguém-pode, Abre-caminho, Desmancha-tudo, Palma benta e Bem-com-Deus. Este sabonete foi lançado ao público, com o fim de substituir os banhos de plantas tão antiquados e incômodos de preparar; pois era necessário ferver as plantas e depois de haverem tomado o banho precisavam jogar as ervas utilizadas em água corrente, fato este que nem todos poderiam fazer”.

Demos a palavra aos umbandistas, para que nos elucidam a razão de ser de alguns destes instrumentos de magia, a fim de podermos conhecer melhor sua mentalidade e suas curiosas práticas, algumas das quais já muito difundidas até mesmo nos meios que se dizem católicos.

1) O defumador ocupa lugar de destaque no ritualismo umbandista. O Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 43, entende assim sua finalidade: “O defumador serve para dois fins. O primeiro é que a essência do defumador, desfazendo-se no ambiente, isto é, misturando-se com o éter atmosférico, vai ser sentida pelos espíritos. A outra utilidade do defumador é que o seu perfume desperta alguns centros nervosos dos médiuns, fazendo esses centros vibrarem de acordo com as irradiações fluídicas do Protetor”. Lourenço Braga ainda conhece uma terceira finalidade: “Admite-se o defumador pelo aroma que desprendem as ervas químicas, cujo cheiro exerce grande ação sobre os sentidos das pessoas” (Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 31). Os charutos e o cachimbo, produzindo fumaça, tem o mesmo efeito (cf. E. Zespo, O que é a Umbanda, p. 62). O Sr. Oliveira Magno, em Prática de Umbanda, Rio 1952, nas páginas 21 até 42, apregoa neste sentido numerosas fórmulas ou receitas: Defumador de descarga de casas e de pessoas presentes, Defumador de descarga Agum-Mege, Defumador de descarga Caboclo, Defumador para atrair prosperidade, Defumador de Cosme e Damião, Defumador para atrair prosperidade para casas comerciais, Defumador para descarregar uma pessoa, Defumador Santa Luzia, Defumador de lixo do mar, etc. Para amostra segue a fórmula “de descarga de casas e de pessoas presentes’’:

Aloés, escama de peixe, fígado de peixe seco. A defumação se faz dos fundos para a porta da rua, com um copo com água na mão esquerda e o defumador na mão direita. Mas antes disso énecessário acender três velas e fazer três preces, sendo uma ao Anjo Governante do dia e outra a entidade que executa o dito trabalho e a terceira a Deus Nosso Senhor, pedindo licença. Em seguida se canta o ponto seguinte:

Mestre Luís chegou

  • oi Mestre Luís baixo,

Mestre Luís chegou

pra levar todos males

de sua “zefio” com sua gongá

para o fundo do mar, é, é. (Bis)

Ao terminar a defumação, a água do copo deve ser jogada pela porta fora dizendo: “Vai-te para o fundo do mar ou para o lugar que Deus te destinar para que mal não possas mais causar”. O defumador deve ser posto atrás da porta da rua ate se apagar, e depois embrulhar seus restos num papel branco, e em seguida deve ser despachado no mar dizendo: “Dá licença!” E atirando o embrulho no mar, dizer: “Povo do mar, tomai conta do meu mal (ou do nosso, quando se trata de mais de uma pessoa) e dai- me (ou dai-nos) paz e prosperidade”. É bom também levar sete rosas brancas, um sabonete branco, uma caixa de pó de arroz branco para a Rainha do mar e, jogando estas três coisas no mar, dizer: “Eu vos ofereço, Rainha do mar, para que me deis paz, saúde e felicidade e realize o meu ideal. Estou confiante”.

Nota: Alguns umbandistas (p. ex., E. Zespo, O que é a Umbanda? Rio 1941, p. 60) querem identificar o defumador com o incenso que os padres usam na igreja durante algumas cerimonias solenes. Convém, todavia, observar que na Igreja o incenso tem apenas um sentido estritamente simbólico: assim como o aroma do incenso se levanta da terra para o céu, do mesmo modo subam as nossas orações, “como um odor agradável”, a Deus. A Igreja não emprega o incenso para afugentar os maus espíritos.

2) A pólvora é outro elemento de muito uso. Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed., p. 32 s justifica seu uso com as seguintes palavras:

“Eu explico a grande utilidade dela (da pólvora) para a descarga de ambientes ou deslocamentos de camadas fluídicas, densas, pesadas, em volta de uma criatura, dentro de uma casa, em uma localidade qualquer. Nós, espíritos reencarnados, somos imperfeitos, pecamos diariamente por obras, por palavras e por pensamentos; os nossos maus pensamentos formam camadas que se condensam com os fluídos dos espíritos inferiores, livres da matéria, que são atraídos por nós mesmos e, dessa forma, tornam muitas vezes uma pessoa, uma família, ou uma população de uma cidade, vítimas de várias coisas, tais como sejam: moléstias, brigas, desastres, loucura, paralisias, etc. Para a descarga, deslocamento ou desagregação dessas camadas pesadas de fluídos condensados, é muitas vezes necessário, para se livrar rapidamente do mal que eles nos causam, o uso da pólvora, cuja ação é rápida; porém tais práticas são sempre auxiliadas por falanges de espíritos bem intencionados, que acodem a nossa chamada pelos cânticos (pontos cantados) e pelos pontos riscados no chão, com a pemba branca”.

3) É curioso anotar como o Sr. Oliveira Magno, Prática de Umbanda, Rio 1952, p. 42 s, esclarece o uso do galo preto: “De todos os galos, os pretos são os últimos a cantar, isto é, os que só cantam próximo ao raiar do dia. Eis o motivo de algumas lendas dizerem que o canto do galo dissipa as trevas da noite e afugenta os demônios… A influência do galo preto é de grande importância em alguns trabalhos de magia”.

4) Mas o instrumento mais usado é talvez a pemba, já diversas vezes mencionada. Trata-se de simples giz e com ele são riscados os sinais evocativos dos espíritos. Segundo os umbandistas cada espírito possui seu próprio sinal cabalístico, denominado ponto riscado. Temos em mão um exemplar da pemba branca, “legítima africana, exportada diretamente da África por Ali-Bem-Itah, descendente legítimo de Li-U-Thab, da tribo de Umbanda”, que foi feita “por moças virgens em completo jejum, presididas pelo Sacerdote, que durante a fabricação não pode tomar alimento de espécie alguma nem beber água, apenas fumando o seu cachimbo que é considerado sagrado. Durante três dias e três noites e às vezes mais, é trabalhada a Pemba, acompanhada por música do Congo, as virgens cantam sem cessar preces a virgem Pemba, para que esta transmita todas as suas virtudes a que estão fabricando…” Lourenço Braga nos elucida seu funcionamento: “A pemba branca serve para firmar no chão os pontos das diferentes falanges, utilizadas em qualquer trabalho; tais desenhos ferem o nosso pensamento neles, estabelecendo uma corrente fluídica magnética, por meio da qual, eles, os espíritos, fazem os trabalhos que desejarem, projeção, descarga ou afastamento de obsessores” (Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 32).

A DIAGNOSE EM UMBANDA


Persuadiram-se os umbandistas — e, aliás, todos os espíritas vivem nesta convicção — de que a causa mais comum de todas as doenças está nos espíritos do além. Isso exige naturalmente um processo de cura apropriado. Riem- se por isso dos métodos da “medicina legal”. Procuremos conhecer também neste ponto a mentalidade dos umbandistas. Pois estamos aqui diante do fator de maior atração popular que a propaganda espírita e umbandista apresentam. Muitos vão ao Espiritismo e a Umbanda por esta causa. Vejamos primeiramente como explicam eles as doenças.

1) A atuação dos espíritos maus ou sofredores:

“Os espíritos malfazejos atuam primeiramente sobre o períspirito de qualquer criatura e em seguida sobre o sistema nervoso. Depois de provocar o descontrole desse, passam a ter maior influência sobre a vítima, sendo-lhes assim mais fácil dirigir a projeção fluídica sobre determinado órgão do corpo humano, provocando nele a moléstia que desejarem, ou então se valem de um espírito ainda sofredor, o qual eles, os malfazejos conscientes, obrigam a ficar encostado ao paciente provocando no mesmo as moléstias de que era portador quando ainda em vida, na Terra. A ação dos fluídos de um espírito sofredor ou trevoso sobre o organismo humano é idêntico à ação que produzem os raios solares, através de uma lente, sobre a nossa epiderme; eles, pela atuação constante, destroem os tecidos mais delicados do nosso organismo, provocando moléstias diversas. Embora sejam eles retirados de junto das vítimas, ficam essas em estado tal, que só com um tratamento médico espiritual, prolongado, poderão recobrar a saúde” (Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 42 s).

“Os espíritos obsessores atuam de diferentes modos. Antes de atuarem, eles fazem pelo astral um exame da aura da pessoa e se utilizam de qualquer ponto fraco da aura, para por aí exercerem a sua influência. Os vícios permitem o assalto dos obsessores, principalmente o álcool, os excessos sexuais. o jogo. Também quando a pessoa tem faltas a pagar, isso possibilita o ataque do obsessor, que começa sugerindo uma ideia, na aparência inocente ou simples. Se o desejo for satisfeito, ele aumenta a intensidade dos seus fluídos, tornando-se o desejo num impulso irresistível. O álcool favorece as obsessões. Quando a obsessão aumenta, é sinal de que o obsessor já tomou conta do indivíduo, que se torna um autômato e que só se livrara da tirania do obsessor, recorrendo à intervenção das Falanges de Umbanda… Os espíritos sofredores também podem pela sua aproximação provocar doenças, não porque queiram, porque esses espíritos sofredores não são maus. Mas o seu sofrimento se irradia sob a forma de maus fluídos, que envenenam e enfraquecem a aura das criaturas” (Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 60 s).

2) O espirito “encostado”. A ideia popular mais comum é a de um espírito sofredor que está “encostado” na pessoa doente e que precisa ser retirado por meios mágicos. Os textos citados já aludem a estes espíritos encostadores. Para maior elucidação, leiamos mais este passo:

“Certos espíritos arregimentam espíritos sofredores, desconhecedores do estado espiritual em que se encontram, para colocá-los junto da pessoa ou grupo de pessoas a quem desejam fazer mal, provocando assim, no paciente, moléstias diversas, pelo contato fluídico desses espíritos com o períspiritos da vítima. Geralmente verifica-se que o espírito atuante transmite às vitimas as moléstias de que era portador, quando ainda preso à matéria, na Terra” (Lourenço Braga, obra citada, p. 25).

3) O quebranto ou o mau olhado é outra explicação muito popular e tipicamente umbandista para interpretar uma série de doenças. Eis como justificam seu modo de ver:

“Todo ser humano é possuidor de fluídos magnéticos que agem segundo o pensamento, sentimento, desejo e vontade de cada indivíduo. Se o homem tem bons sentimentos, os seus fluídos são bons, mas se o dito homem tem maus sentimentos ou más intenções, seus fluídos são maus; assim se explica a inveja, o quebranto e o mau olhado. Se uma pessoa nos olha com bons sentimentos nos desejando saúde e felicidade, está nos fazendo bem, mas se a dita pessoa nos olha com maus sentimentos, inveja, ódio e raiva nos desejando mal, está nos fazendo mal, pois as chispas que essa pessoa projeta sobre nós nos atacam segundo o seu pensamento, sentimento ou desejo” (Oliveira Magno, Umbanda e Ocultismo, Rio 1953, p. 47 s).

4) O castigo. A mentalidade reencarnacionista é mais um fator que explica outra série de doenças: segundo eles, já vivemos muitas existências terrestres e nelas pecamos e cometemos crimes; e como cada um deve expiar e reparar por seus próprios esforços e sofrimentos os pecados cometidos (pois negam a nossa redenção por Cristo!), ele está sujeito a sofrer os castigos na próxima encarnação. Isso, segundo eles, é fatal e inevitável e nem Deus pode intervir, uma vez que a justiça divina não pode perdoar o pecado sem que preceda rigorosa expiação feita pelo próprio pecador. Mesmo certos desastres, acidentes ou outras ocorrências imprevistas devem ser justificados pela “lei do Carma”, que funciona de modo inexorável, como as demais leis físicas.

A TERAPÊUTICA UMBANDISTA


Portanto, segundo o modo de ver dos umbandistas, a doença pode ter sua origem nas seguintes causas:

1) Ou há por aí algum espírito maléfico e trevoso agindo no doente ou sobre o doente, e este mau espírito veio ou atraído por malefícios de outrem (quimbandeiro, feiticeiro, batuqueiro, macumbeiro, etc.), ou por más disposições anteriores do próprio enfermo;

2) ou imiscuiu-se na vida do doente algum espírito sofredor, nele encostado, e que lhe transmite a mesma doença, espírito que ai se encostou ou porque tem afinidade imediata com a pessoa em questão, ou porque foi trazido por outros espíritos maus;

3) ou a pessoa é vítima dos maus pensamentos ou do mau olhado de outro indivíduo humano, que assim faz ou por inveja ou por real ou suposta inimizade;

4) ou então ela sofre um justo castigo por crimes cometidos em vidas anteriores.

Neste último caso não há cura, nem remédio. Nos outros, o remédio depende do diagnóstico do médium ou do babalaô. “Os médiuns videntes, de Umbanda, podem ver qual é a causa da moléstia, se há espírito maléfico ou algum sofredor, produzindo a doença, se se trata de uma prova, o que é que o doente deve fazer para livrar-se do mal”(Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 62). Também os babalaôs dispõem de meios mágicos para diagnosticar. Se for espírito mau, um bom defumador poderá, talvez, afastá-Io; se for o resultado dum malefício, é preciso “desmanchar o trabalho”, neutralizando a ação do espírito pela intervenção de outros espíritos, recorrendo eventualmente à pólvora; se for espírito sofredor encostado, às vezes pode recorrer- se à surra, mas também certos defumadores e banhos “desencostam” o espírito; se for por inveja ou mau olhado, é preciso por em ação a “lei do retorno”, para o que existem fórmulas especiais nos manuais da medicina mágica… Passes, água fluída ou fluídica, rezas fortes e sobretudo banhos podem constituir excelentes remédios. Em certos casos o rito da “troca de cabeça” produzirá efeitos extraordinários… De qualquer modo, é preciso recorrer ao babalaô, que encontrará um jeito. Em última análise, se não houver possibilidade de cura, paciência: será um castigo de pecados cometidos em vidas anteriores: é a “lei do Carma” que está a exigir justiça…

“Só um babalorixá, um Chefe de terreiro, um médium, competentes, perfeitos conhecedores dos segredos de Umbanda, verdadeiramente caridosos, sem ambição e com apreciáveis qualidades morais, podem dispor de meios que ajudem a cura de uma doença qualquer” (Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 64). “Quando uma doença está no começo, é possível o tratamento por meio de chás de ervas medicinais ou de homeopatia… Quando se tratar de um mal- estar produzido por um espírito sofredor, como neurastenia, um enfraquecimento, o babalorixá, segundo o caso, tratará primeiramente de purificar a aura do doente, receitando banhos de ervas, indicando os chás necessários e os fortificantes, recomendando que dê esmolas aos necessitados, além do tratamento psíquico, com os passes, nas sessões de caridade, os despachos e presentes aos espíritos, as preces” (ib. p. 62).

Sobre os despachos e presentes teremos que falar mais adiante, quando tratarmos dos exits. Faltam ainda breves esclarecimentos sobre a famosa água fluídica, o ritual da “troca de cabeça” e os célebres banhos em Umbanda.

1) A água fluídica. “Os espíritos adiantados podem, pela ação fluídica, aumentar o efeito medicamentoso de qualquer remédio. Podem mais ainda, pelos seus fluídos combinados no fluído universal e com os fluídos de um médium de efeitos físicos ou curador, tornar a simples água em ótimo medicamento” (L. Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 43). Pela simples concentração irradiam certos médiuns ou babalaôs seus fluídos curadores, combinados com os intensos desejos do paciente, para um recipiente de água pura e ela se transformara, sem mais, em miraculoso remédio…

2) O ritual da troca de cabeça. É um processo muito usado na medicina mágica. Procura-se transferir a doença de uma pessoa para outra. “Consiste em concentrar por meio de encantamentos, em qualquer objeto ou roupa do doente, os males que o atormentam, encerra-lo numa embalagem atraente, e abandoná-lo em qualquer ponto frequentado, para despertar a atenção dos transeuntes. Se um destes tocá-lo, por curiosidade ou inadvertência, atrairá para si os males que simbolicamente ali se encontram, e o verdadeiro dono ficará livre deles” (A. Alcântara, Umbanda em Julgamento, Rio 1949, p. 141). Outras vezes procuram transferir a doença para algum animal. Eis como se faz:

“No quarto do enfermo acham-se o babalaô, com seus auxiliares, todos vestidos com os trajes do ritual. O animal que vai servir para a troca está presente. O animal é coberto por um pano preto, passando-se-lhe antes epô (azei- te de dendê). Riscam-se os pontos de Omulu e acende-se parte de vela de cera virgem e parte de vela de cebo ou espermacete, cumprindo-se os preceitos necessários, Tira-se a roupa do doente e cantam-se os pontos próprios de vumbi; passa-se-lhe a muginga de pipoca (o preparo de pipoca feita em areia, em panela de barro nova, constitui outro cerimonial). Passa-se depois o azeite de dendê pelo corpo do doente, cantando-se os pontos adequados. A roupa e os cabelos do dente são entregues a Iroco (orixá ou deus das árvores). Abre-se uma fenda em uma árvore determinada, ou em sua raiz, colocam-se aqueles objetos, depois se fecha a mesma. Isso é feito para que Iroco dê saúde ao doente, enquanto a árvore tiver vida. A vida do doente dependerá da vida da árvore. Juntamente com o resto dos objetos do doente, faz-se o enterro do animal, com as cerimonias do vumbi. O doente fica escondido até que, no prazo de 7 dias, se complete o ritual do vambi (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 123).

3) Também os banhos são importantíssimos, não só para a terapêutica, como também para todo o ritual de Umbanda e outros efeitos mágicos. Há banhos para tudo. Há banhos de mar, banhos de cachoeira, banhos de rio e, sobretudo banhos com as mais variadas espécies de ervas e outros ingredientes, às vezes incríveis. “Os banhos de mar e de cachoeira são usados como descarga de fluídos que se acharem impregnados nas criaturas; servem também para fortalecer as guias, colares e rosários. Os banhos de ervas é sabido que tem ação terapêutica, sendo que o arruda, o guiné, o sal grosso e o fumo, além disso, exercem ação de simpregnatizante sobre o paciente” (L. Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 31). E com toda a seriedade prescrevem por vezes banhos simplesmente repugnantes. Eis aí, por exemplo, um tipo de banho “para tirar qualquer praga ou maldição”:

“Procurar uma mulher que esteja para ter um filho e pedir que assim que ela tenha a criança, guardar a primeira defecação da criança, o chamado ferrão. Tirar o primeiro leite numa xícara, antes de a criança mamar e assim que a criança defecar o ferrão, pegar todo o conteúdo e passar na cabeça, no rosto e assim descendo pelo corpo, passando em todas as partes do corpo e pedindo que sejam retiradas todas as pragas e maus desejos, por mais fortes que sejam, desde o tempo que esteve no ventre da mãe até o momento presente. Em seguida, esperar um pouco e, logo em seguida, tomar um banho sem sabão, até limpar todo o corpo. Enxugar muito bem o corpo com uma toalha limpa e em seguida passar em todo o corpo o primeiro leite que a mãe da criança tirou do seio e colocou numa xícara antes da criança mamar. Em seguida vestir roupa limpa. Lavar o pano ou fralda em que veio o ferrão e guardar” (transcrito do livro Jesus, a Chave de Umbanda, Rio 1953, p. 289).

A titulo de amostra, apresentamos mais outro exemplo, tirado do mesmo livro, a p. 286. Trata-se de um tipo de banho de descarga:

“Pegar as fezes de um boi completamente preto, botar dentro de um pano e amarrar as bordas do pano, de modo que as fezes não saiam para fora. Botar uma lata com agua no fogo e quando a água estiver fervendo, colocar no interior o saco e deixar dar uma boa fervura. Quando a água estiver morna tomar o banho e depois esperar um pouco e, logo a seguir, tomar o banho com água e sabão, usando toalha limpa e mudando de roupa limpa. Em seguida, põe o que puder apanhar da água do banho juntamente com o pano com as fezes do Boi Preto, dentro da lata que cozinhou, deixando a mesma na encruzilhada; pedir ao Exu do Boi Preto que leve todas as cargas de feitiçaria, maus olhados (maus olhos), pragas, etc, etc.”.

O JOGO DOS BÚZIOS


Muitos vão ao terreiro pedir ao “Pai de Santo” que “bote os búzios”, isto é, que interrogue os espíritos sobre de- terminado problema, sobre a natureza de alguma aflição ou doença, sobre o êxito de certos negócios, inclusive para resolver problemas políticos. “Búzios” ou “buzos” são peque- nas conchas marinhas, por meio das quais os babalaôs se comunicam com os espíritos. “Os búzios, depois de apanhados nas praias, recebem um batismo… Os búzios assim consagrados, são guardados dentro do altar. Normalmente o número dos búzios é 12, mas este número pode aumentar até 16 ou 20. Os búzios recebem cada um o nome de um Orixá” {Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 72). Entre os umbandistas “o jogo dos búzios é uma decisão espiritual semelhante ao julgamento de um tribunal livre” (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 139). A comunicação é feita do seguinte modo:

“Doze búzios são convenientemente preparados pelo babalorixá; para se saber de alguma coisa, fecham-se os búzios na mão direita e depois, abrindo esta, como quem está jogando dados, atiram-se os búzios sobre a mesa. Os búzios formam então várias figuras, que são interpretadas pelo babalorixá. Quando o babaiorixáestá jogando os búzios, há sempre espírito junto dele e do consulente. Esses espíritos auxiliam o babalorixá a interpretar as figuras muito complicadas. Antes de iniciar a adivinhação, o babaiorixá dirige uma pequena prece ao seu Guia e ao Guia do consulente”(Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 70 s). Estas consultas devem ser pagas e aí lá muita exploração. Por isso aconselha E. Zespo o seguinte: “Aos que, desejando consultar um batuqueiro, não queiram ser explorados, ensinamos proceder assim: Na véspera do dia da consulta, quando se vai dormir, colocam-se debaixo do Travesseiro 3 moedas de um cruzeiro, as quais servirão para pagar a consulta. No dia seguinte, em presença do batuqueiro, quando este já arrumou a toalha, as guias e empunhou os búzios, põe-se (sem dizer palavra alguma) as três moedas dentro do circulo de guias. A consulta esta paga; e, mesmo que a quantia não a grade ao batuqueiro, por ser pouco o aché (valor), este nada mais redamará na hora, se for realmente um babalaô ou filho de santo e não um mistificador ou impostor” (E. Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p. 46). A este respeito diz ainda Doutrina e Ritual da Umbanda, Rio 1951, p. 139: “Quando se trata de um consulente estranho, e que necessitando do socorro espiritual, faça qualquer donativo espontâneo, o babalaô é obrigado a jogar os búziose traduzir fielmente as respostas recebidas. Porque se o babalaô não usar de sinceridade, estará tentando enganar não o cliente, porém o seu anjo da guarda. Esse procedimento acarretara graves prejuízos ao babalaô”. A interpretação dos búzios jogados é uma das grandes mirongas (segredos) da Umbanda, “e o seu completo conhecimento não está ao alcance mesmo de umbandistas iniciados” (ib. p. 137).

ORIXÁS DE UMBANDA E SANTOS CATÓLICOS


No Espiritismo de Umbanda encontramos uma particularidade que precisa ser denunciada e desmascarada com toda a energia. É isso comum a todos os espíritas do Brasil apresentar uma fachada cristã. Poderia se pensar que o Espiritismo de Umbanda, que, como vimos, pretende reintroduzir no Brasil um verdadeiro politeísmo pagão, não encontraria jeito de encobrir seus intentos “sob pele de ovelha”. Mas como, infelizmente, por falta de suficiente instrução religiosa (que, por sua vez, tem sua causa na absoluta escassez de padres, graças às perniciosas atividades da Maçonaria no século passado), o nosso povo geralmente não está compenetrado do verdadeiro espírito da mensagem cristã e conhece do Catolicismo apenas suas manifestações externas, ou a fachada, cultivando ainda uma devoção quase supersticiosa aos Santos, no que, por vezes, e em certos Santuários, ou outras manifestações populares, ainda é corroborado por Irmandades e mesmo por alguns padres, por isso os dirigentes de Umbanda encontraram um meio fácil de dissimular seu politeísmo pagão sob a fachada popular do Catolicismo. As nossas festas mais populares (do Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora, de São Jorge, São Cosme e São Damiao, Santo Antônio, São Sebastiao, etc.), são oportunidades extraordinárias, exploradas pelo Espiritismo de Umbanda, para apresentar sua fachada católica e propagar seu politeísmo pagão, com todo o cortejo de magias e superstições. Na última festa de São Jorge pudemos observar uma procissão de Umbanda, com estátua de São Jorge, acompanhada pela banda militar e que, para a gente menos instruída, apresentava as características das manifestações populares católicas. Os terreiros, as tendas e os centros de Umbanda têm quase sempre nomes católicos: “Centro Santa Bárbara”, “Tenda São Jerônimo”, “Terreiro Francisco de Assis”, “Centro Santo Expedito”, “Tenda Santa Rita de Cássia”, etc., para não mencionar os infinitos centres dedicados a São Jorge. Na sala do centre há verdadeiros altares, com grande variedade de crucifixos, estátuas e imagens de Santos nossos. É a confusão. E confusão intencionalmente, pensadamente, acintosamente, mantida, favorecida e explorada pelos dirigentes de Umbanda. É o grande meio para atrair o povo. E o povo vai. Vai para a Tenda São Jorge, como vai para a igreja de São Jorge; leva seus filhos para serem “batizados” no terreiro, como os apresenta ao primeiro vigário que encontrar e que também os batiza, sem maiores indagações, na doce ilusão de que todo brasileiro é católico; comemora a festa de São Cosme e São Damiao em alguma igreja católica, para ir depois ao terreiro pagão; vai praticar a magia na Umbanda e vai confessar na igreja… Pois a Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 148, escreve: “Os umbandistas, em sua maioria também católicos, vão (durante a Semana Santa) às igrejas, confessando-se e pedindo perdão dos seus pecados”; e na p. 127 prescreve: “As crianças, vestidas de azul e rosa, vão assistir, no templo católico, a missa de São Cosme e São Damiao. De volta, inicia-se a cerimonia no ritual africano…”

É preciso abrir os olhos dos católicos. Urge desmascarar a Umbanda e mostrar que atrás de toda essa fachada católica não há nem vestígio de Cristianismo. “Mas por dentro são lobos — não, ledes — vorazes!” Atrás de cada Santo (cristão) está um deus pagão. Os dirigentes de Umbanda apresentam o Senhor do Bonfim, na realidade, porém, querem prestar um culto a Oxalá ou Obatalá, “Chefe Supremo da Corte Celestial”; aparentam venerar a Virgem Nossa Senhora (da Conceição, do Rosário, dos Navegantes, da Glória, etc., conforme a devoção de cada localidade), mas na verdade intencionam oferecer sacrifícios a Iemanjá, deusa da água e do mar; simulam o culto a São Jorge, entretanto pensam em Ogum, deus da guerra; fingem venerar São Cosme e São Damiao, quando de fato cultuam Ibeji, deus protetor das crianças; etc. Se os umbandistas se apresentassem como são — magos e politeístas — poucos seriam seus sequazes. Bem o sabem eles. Por isso ocultam a magia sob o manto cristão da caridade e disfarçam o politeísmo com a devoção cristã aos Santos, para então gritar a plenos pulmões pelo Brasil afora: “Nós também somos cristãos!” E milhões de brasileiros, inclusive gente branca e chic, vão para lá.

Note-se, porém, que não há unidade no disfarce. Ogum e São Jorge no Sul, e Santo Antôniona Bahia, e São Paulo em Recife (e éSão Pedro em Cuba, único pais do mundo em que, fora do Brasil, existe a mesma confusão); Oxóssi éSão Sebastiao no Sul, e São Jorge na Bahia (e Santo Alberto em Cuba); Omulu éSãoLázaro no Sul e São Bento (“Santo da cobra”) na Bahia; Xangô e São Miguel no Sul, São Jerônimo na Bahia e Santo Antônio em Recife; e assim por diante.

Cada um desses deuses (ou orixás maiores) tem o seu fetiche, suas insígnias (“pontos riscados”, sinais cabalísticos), sua comida predileta (que eles chamam de amalá), suas vestes especiais, seus dias preferidos e seus gritos característicos. Eis aí uma lista, colhida em várias obras:

Oxalá (ou Obatalá, Orixalá, Zambi)-. Chefe Supremo da Corte Celestial. Para evocá-lo usam dos seguintes fetiches: anel de ouro, chumbo; insígnias (ou “pontos riscados”): bastão de pastor com pequenos sinos ou cruz com argolas nas pontas; como amalá (comida) oferecem-lhe: carne de cabra e pombos, ou também canjica (munguzá); vestes para o culto: de cor branca, com pulseiras (guias) de contas brancas; dia preferido para sua evocação: Sexta-feira; grito: gemido tremulo. É dissimulado sob a figura de Jesus Cristo, Senhor do Bonfim.

Xangô (ou Xangô-Agodô ou Bêri): deus do relâmpago, rei da cachoeira, chefe das quedas d’agua e das pedras. Fetiche: meteorito; insígnias: lança e machadinha; comida: galo, tartaruga, bode, caruru, rabada de boi com agrião; vestes: vermelha, com pulseiras verdes ou encarnadas, feitas de ferro ou latão; dia: Quarta-Feira; grito: ei-i-i. Santo correspondente, sob o qual é dissimulado: São Jerônimo (ou Santa Bárbara) na Bahia, São Miguel no Sul e Santo Antônio em Recife.

Ogum (ou Ogun-Megê, Ogun Rompe-Mato): deus da guerra, chefe das demandas espirituais. Fetiche: pá, foice, lança, bigorna, malho, enxada; insígnias: lança e espada; comida: carne de bode, cabeça de boi, galinhola (galinha de angola), galo vermelho; vestes: encarnada, com pulseiras verdes e brancas, de estanho ou bronze; dia: Terça-feira; Santos: São Jorge no Sul, Santo Antônio na Bahia, São Paulo em Recife.

Oxôssi (ou Oxôce): deus da caça, rei e senhor da floresta. Fetiche: arco e flecha, frigideira de barro; insígnias: flecha; comida: carne de carneiro, galo, milho verde e amendoim; veste: verde; dia: Quinta-Feira; grito: latido como de cachorro. Santo: São Sebastiao no Sul, São Jorge na Bahia.

Omulu (ou Omulum, Xapanã, Ototó): deus da peste, principalmente da varíola. Fetiche: caveira, piaçava com búzios, enxada; insígnias: lança; comida: bode, galo preto, acaçá, farofa com azeite de dendê, pipoca, orobó; veste: amarela e preta, com pulseiras de contas pretas, de chumbo; dia: Segunda-Feira; grito: hã. Santos: São Lázaro no Sul, São Bento na Bahia.

Iemanjá (ou Iamanjá): deusa do mar, sereia do mar, mãe d’água. Fetiche: conchas e estrelas do mar; insígnias: leque, espada; comida: pombo, milho verde, galo, bode castrado; veste: branca, azul, cor de rosa, com pulseiras “pingo d’agua’’, de prata ou alumínio; dia: Sábado; grito: hin-hi-ye-min. Santo: Nossa Senhora, sob diversos títulos.

lansan: deusa do vento, da tempestade, deusa da vingança. Fetiche: meteorito; insígnias: espada e raio; comida: bode, galinha; veste: vermelha, verde, com pulseiras vermelhas, de cobre ou latão; dia: Quarta-Feira; grito: ei-i-i (“mais suave do que o de Xangô”). Santa: Santa Bárbara.

Oxun (ou Osum, Axum): deus dos raios e da água fresca. Fetiche: pedrinhas raladas; insígnias: leque, pequeno sino, espelho; comida: tainha, cabra, galinha, feijão fradinho; veste: azul e branca, com pulseiras da mesma cor, de prata; dia: Sábado; grito: hmm-hmm. Santa: Nossa Senhora da Conceição no Rio, dos Prazeres no Recife, de Lourdes na Bahia (e em alguns centros da Bahia tambémSant’Ana).

Ibeji (ou Dô-ú, Dois-Dois, Beijinho): deus protetor das crianças. Fetiche: três garotos; comida: bombons, balas e doces; vestes: rosa e branca, com pulseiras de varias cores; dia: Domingo. Santo: São Cosme e São Damiao (em alguns terreiros da Bahia tambémSão Crispim e São Crispiniano).

O MOTIVO DE TANTA CONFUSÃO


Por que tão vergonhoso disfarce? Por que toda essa fachada católica? Por que Santos cristãos nos terreiros pagãos de Umbanda? Por que a imitação de nossos altares, com quadros e estátuas de Santos catoliquíssimos?

A este respeito um umbandista mais sincero, que se ocultou sob o pseudônimo de “Yonori”, conhecendo de perto a Umbanda e certas intenções menos corretas de seus colegas propagandistas, as denunciou vigorosamente nos seguintes termos:

“Da desmedida ambição desses indivíduos nasceu uma ideia diabólica que veio modificar, da noite para o dia, o curso do Espiritismo no Brasil, fazendo com que o número de seus adeptos se tornasse com o tempo maior que o de fieis do Catolicismo. Sim, o Católico jamais entraria num Terreiro de Umbanda para pedir o auxilio de Ogum, nem daria dinheiro para a ornamentação de um Terreiro de Oxosse, mesmo porque os padres não perdem vasa em apontá-los de chantagistas, combatendo-os. Porém qualquer católico tem fé em São Jorge, ou faz donativos em dinheiro ou outros valores, para a instituição de uma casa religiosa, cujo padroeiro seja São Sebastião, não deixando os padres de incentivá-los a isso. Pela mesma razão não podem condenar um católico que vá fazer um pedido a um Santo, ou rezar aos pés de uma das imagens que ornam as igrejas, pois estaria, ipso facto, negando aquilo mesmo que eles pregam… O insidioso golpe dos sabidões foi além de sua própria expectativa. Indiscutivelmente venceram materialmente- te e, hoje, 60% dos católicos frequentam Centros Espíritas,Terreiros de Umbanda, etc., pois neles os Santos são os mesmos, e mesmas são as imagens. A exploração é, também, exatamente a mesma, o lema teatral sofreu, apenas, uma modificação de indumentária e rituais, ou seja, de vestuário e de cenário, adaptado ao meio. Ganharam, então, os Orixás das Linhas de Umbanda mais um nome, ficando, na parte material, metade Africano e metade Católico, numa confusão que ninguém podia entender.Habilidosamente juntaram os sabidões, conforme suas atribuições segundo a concepção africana, o nome de um Santo de maior evidência no Catolicismo, ao do Orixá, que chefiava uma determinada Linha de Umbanda” (Umbanda, Indústria Rendosa, Rio 1954, p. 90 s). Mais adiante o mesmo autor insiste: “Sendo o povo brasileiro fundamentalmente católico, ambiente que encontra desde o berço, sua fé nos Santos que decoram na Igreja torna-se quase indestrutível e, por isso mesmo, o lado mais fraco pelo qual os exploradores iniciam o seu ataque, tendo quase assegurado o mais completo êxito. Este é um dos principais motivos pelo qual eles procuram imitar a ornamentação das igrejas Católicas, enchendo seus Pegis, Congas, etc. de santos e santas, cópias reduzidas dos que se encontram nas igrejas, pois sabem que assim atrairão os católicos e também todos os que possuírem alguma fé naquelas entidades. Ora, adotando as figuras decorativas do Catolicismo, os espertalhões nada mais fazem que manter a fé que os seus adeptos têm nos santos, dentro de um círculo material católico. Daí, os verdadeiros ensinamentos que nos foram trazidos pelos africanos terão de ser adaptados e obedecerem a certos princípios da Igreja Católica, pelo menos em parte, porém só na aparência, não só para não caírem em contradições, como ainda, o melhor escudo que usam para sua própria defesa, forçando a Igreja a constituir-se em advogado de seus próprios santos, defesa que ela faz gratuitamente… Sendo a adoção dos santos uma inovação assentada sobre uma base falsa, logicamente, mais falsos serão os ensinamentos dai decorrentes, uma vez que, tendo que justificá-los para os que não aceitam o Catolicismo, professando o Espiritismo, embora desconheçam as bases em que ambos repousam, os espertalhões formam dentro dos falsos princípios católicos, outros falsos princípios espiritas, causando uma tremenda confusão para os adeptos e para os estudiosos” (ib. p. 119 s).

Um outro senhor que se diz membro da União Espiritista de Umbanda, começa por confessar singelamente o seguinte: “Em verdade, temos nos nossos altares as venerandas imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora da Conceição, dos Santos Jerônimo, Jorge, Sebastião, Benedito, Antônio, Miguel, Cosme e Damião, das Santas Catarina e Bárbara, sendo mesmo as nossas Tendas registradas no Registro de Títulos e Documentos com os nomes dos Santos Católicos” (jornal de Umbanda, Junho de 1954, Rio, p. 1).Esta, porém, alarmado com a seguinte ideia: que “a Igreja de Roma poderá lembrar-se de mover contra nós uma ação (tal como fez com bispo de Maura), com o objetivo de nos privar, pelo menos por algum tempo, da prática do nosso culto, obtendo da Justiça a proibição de exibirmos nos nossos altares os santos por ela consagrados, e dos quais pensa ser senhora absoluta. Diante do fato consumado, grandes seriam os nossos prejuízos, não só de ordem espiritual, como material, pois, obrigados a acatar qualquer decisão judicial, pelo menos enquanto se discutisse, teríamos que nos privar, por algum tempo, da presença dos nossos altares, das figuras que representam as máximas entidades que presidem os destinos da Umbanda”.Para evitar tão desastroso acontecimento e para prevenir tão inaudita perseguição, o mesmo autor propõe “uma modificação na apresentação dessas imagens”, conservando, todavia, a identificação com os Santos mencionados. E assim a confusão continuaria do mesmo modo. Não seria solução nenhuma. O que os umbandistas precisam fazer, se quiserem fugir a justiça, é proclamar com toda lealdade e sinceridade de propósitos: Nós umbandistas consideramos a Doutrina Cristã falsa e condenável e queremos, por isso, reintroduzir o antigo paganismo politeísta; quem quiser aderir ao nosso movimento, não pode continuar católico nem admitir as doutrinas ensinadas por Jesus, pois somos contra Cristo, sua Igreja e seus Santos.

Mas, bem o sabem eles, tão manifesta lealdade seria a ruina de Umbanda. Seria o lobo sem a pele de ovelhas…

Continuemos, porém, nossas elucidações sobre a verdadeira face de Umbanda e penetremos no que ela tem de mais tenebroso. Passemos a examinar a posição que os Exus ocupam na doutrina e na prática de Umbanda. Pois deles diz ainda o mesmo autor do já citado Jornal de Umbanda: “Ainda há os Exus, que representam o maior mistério de Umbanda, que são os maravilhosos auxiliares que emprestam sua força e o seu poder para a realização da grande obra de caridade da magia. Porque, antes de tudo, a Umbanda é magia”.

OS EXUS DE UMBANDA E O CULTO AO DEMÔNIO


Toda e qualquer reunião de Umbanda inicia com um presente oferecido ao Exu, “o agente mágico universal, per cujo intermédio o mundo dos vivos se comunica com o mundo espiritual, em seus diversos planos” (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 117), pois “este planeta, no qual habitamos, pertence aos Exus” (Oliveira Magno, Umbanda e Ocultismo, Rio 1953, p. 25).É o Exu (em outros lugares também denominado Zumbi, Cariapemba, Leba, o homem das encruzilhadas) o espírito mais invocado e a ele são oferecidos o maior número de presentes (“despachos”). É por isso necessário que também os católicos conheçam semelhantes práticas que, principalmente nos subúrbios, se realizam em incrível quantidade.

E não se diga que o culto ao Exu é exclusivo da Quimbanda, da Macumba, do Candomblé ou do Batuque. “Na Umbanda os Exus são constantemente invocados e trabalho algum é começado sem que sejam salvadas (isto é: reverenciadas) essas entidades” (A. Fontenelle, O Espiritismo e a Lei de Umbanda, Rio, p. 12); “nenhum trabalho de Umbanda pode fazer-se sem antes ser riscado o ponto de segurança, chamado porteira, puxando-se um ponto (canto) adequado, dando-se algumas vezes um presente a Exu, quando se trata de um trabalho importante” (Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 30).

“Os espíritos umbandistas utilizam, conforme dissemos, os quimbandeiros para a prática do bem, e determinam aos encarnados que desejam alguma ajuda para o bom êxito deste ou daquele negócio, que tratem desses espíritos, presenteando-os com o que eles mais apreciam. Os Exus são ainda muito materializados. Para fazerem um benefício querem paga, e exigem às vezes obrigações penosas, como acender velas nas encruzilhadas, com marafo e fumo de rolo, cachimbo, fósforos, carne crua na porta do cemitério, e mais uma infinidade de bugigangas. A despeito disto, todo terreiro de Umbanda tem de utilizar os Exus; estes, entretanto, quando chamados, já estão suficientemente preparados e após as primeiras comunicações chegam mais calmos, menos barulhentos. É preciso notar que os Exus atrasados mesmo aparecem aos videntes até em formas de bichos hediondos, cujas formas mentalizam para atemorizar os encarnados” (Florisbela M. Sousa Franco, Umbanda, Rio 1954, p. 33 s).

O Sr. Aluísio Fontenelle, em uma obra de 272 paginas, com o título de Exu (Rio, 1952) diz de si mesmo: “Orientado em grande parte pelos meus Guias Espirituais, pelos próprios Exus e ainda: aliado ao profundo conhecimento sobre Magia, como sacerdote que sou dos diversos cultos de Umbanda; além de conhecedor real de todas as práticas que se exercem nos diversos terreiros onde se praticam os Batuques, Candomblés, Cangerês, etc., posso perfeitamente como catedrático no assunto, mostrar-lhes o que é verdadeiramente um Exu” (p. 94).

Pois bem, este autor, como, aliás, também outros doutrinadores de Umbanda, identifica sem mais os exus com o que nos católicos denominamos “demônios” (p. 93, 103-116:onde descreve a história da revolta dos anjos, chefiados por Lúcifer: estes anjos revoltados, diz ele, são os exus). “Podem os Exus dar-nos forças suficientes para com o mal prejudicarmos os nossos semelhantes… Eles atuam da maneira mais variada possível. Mostram-se mansos como cordeiros, porém o seu íntimo é uma gargalhada demoníaca de gozo. Poderemos usá-los também como armas contra os malefícios que nos fizeram, pois, interesseiros como são, tanto se lhes dá seja nossa ou de outrem, a alma ou o espírito que pretendem arrastar” (p. 97).”O Exu é em via de regra interesseiro, e, se lhe damos um presente (despacho), fatalmente ele irá cumprir o que pedimos, pouco se importando que o resultado bom ou mau possa repercutir no Mundo Terreno, pois que só lhe apraz fazer o que está errado e é para isso que eles existem” (p. 101).“Sendo o Exu o dono principal das Ruas e Encruzilhadas, é a ele quem primeiro devemos salvar, pois é somente com a sua licença que podemos dirigir um trabalho de Magia, pelo fato de ser ainda ele o elemento mágico universal” (p. 100).

Pensam os umbandistas que Deus é bom e não faz nem pode fazer mal. Ele é o Pai bondoso de todos e tem obrigação de cuidar de seus filhos.Não precisamos por isso de estar pedindo favores a Deus. Pedir a Deus seria até um sinal de desconfiança. Mas o Exu é ruim, sempre pronto a fazer das suas, a nos prejudicar e fazer o mal. Todavia, querendo, o Exu também nos pode favorecer e servir para o bem. É por isso que precisamos esforçar-nos por estar bem com ele.Daía necessidade de cultuá-lo, de oferecer- lhe sacrifícios e presentes.Então ele se põe às nossas ordens e faz o bem (ou o mal) que lhe pedimos. Os Exus são numerosíssimos. Tem os nomes mais extravagantes: Exu Tranca Ruas, Exu Quebra Galho, Exu das 7 Poeiras, Exu das 7 Portas, Exu Tranca Tudo, Exu Cheiroso, Exu da Capa Preta, Exu Tiriri, Exu Calunga, Exu Morcego, etc. Cada um deles tem a seu serviço numerosos subalternos. Eles dividiram entre si o mundo, de que são os senhores imediatos, com liberdade sem restrições: uns mandam nos rios, outros nas matas, outros nas estradas, nas montanhas, nos cemitérios, nas soleiras das casas, etc. Vários deles (como Tranca Tudo e o Tranca Ruas) fazem qualquer “serviço”.Outros têm especialidades: alguns possuem qualidades especiais para transmitir doenças, outros para produzir desastres, outros para matar, outros para seduzir moças, separar casais, etc. “Enfim — escreve Oliveira Magno, Umbanda e Ocultismo, Rio 1953, p. 32 — há Exu para tudo, para todos os fins e atos da vida, por exemplo: Se o leitor quer enganar uma pessoa, pode se pegar com Exu Enganador; se quer seduzir uma moça, pode chamar por Exu Sedutor se uma mulher quer prender ou amarrar um homem, pode chamar pelo Exu Amarrador”.E há “comidas” prediletas, que lhes são oferecidas: uns gostam de porco, bode, galinha preta, outros de charutos, outros preferem cachaça (“marafo”), pipoca, pimenta, dinheiro, velas, etc. Geralmente querem várias iguarias ao mesmo tempo.E tudo isso deve ser preparado dentro dum bem determinado e complicado ritual mágico, acompanhado de “pontos riscados” (sinais cabalísticos), traçados com pemba branca e “pontos cantados” (espécie de hinos). Esses sacrifícios devem ser depois colocados em determinados lugares, de acordo com a finalidade e a qualidade do Exu: uns são levados à margem dum rio, outros ao cemitério, outros a entrada da casa onde mora a pessoa em favor ou contra a qual se faz o despacho, a maioria vai parar nas encruzilhadas, nos descampados, no alto de morros, em pedreiras…

Tipo de um despacho a Exu Tranca Ruas: “Numa encruzilhada de quatro caminhos ou nas ruas, coloca-se uma toalha quadrada tendo um metro de cada lado, sendo essa toalha de cor vermelha, de preferencia Cetim. Devera ter a toalha, em toda a sua extensão, franjas de seda preta com cinco centímetros de largura. No centro da toalha deve ir bordado o ponto de Tranca Ruas, ponto esse riscado na irradiação do trabalho para a respectiva finalidade, possuindo ainda esse ponto 49 centímetros de circunferência. Estende-se a toalha de preferência no centro da encruzilhada, e sobre ela, em cada um dos cantos, duas velas cruzadas e amarradas com fitas de seda preta e vermelha. No centro da toalha coloca-se um alguidar de barro exclusivamente adquirido para esse fim, contendo: um galo preto recheado com farofa amarela e pimenta da Costa. Ao lado direito, em pé e aberta, uma garrafa de marafo (cachaça). Ao lado esquerdo, 7 charutos cruzados e amarrados com fitinhas de seda preta e vermelha, e 7 caixas de fósforos, estando às caixas semiabertas, mostrando as cabecinhas de sete palitos. Finalmente, em volta da toalha, em círculo (fora da toalha), quatorze velas de cebo, todas acesas” (A. Fontenelle, Exu, Rio 1952, p. 144).

A LISTA MACABRA DOS EXUS


Damos a seguir a relação de alguns Exus, sempre guiado pelo “catedrático no assunto”, o Sr. Fontenelle (a paginação se refere à obra intitulada Exu, Rio 1952).

Exu-Rei ou Maioral: Identificado com Lúcifer (p. 103 e 118). O Catecismo de Umbanda, Rio 1954, p. 22, pergunta: “Quem é Exu Rei?” Resposta: “É o maioral dos Exus, considerado como Lúcifer ou Satanás do Cristianismo”.Prossegue Fontenelle: “Apresenta-se como figura de altos conhecimentos, tratando-nos com grande elevação de sociabilidade, prometendo-nos este mundo e outro, exigindo tão somente que por nós seja tratado por: Majestade. Raramente vem a um terreiro, preferindo apenas aproximar-se dos lugares onde se professem altos estudos de Magia Astral, para com os poderes de que é imbuído, e usando de uma estratégia toda especial, procurar abalar ou captar os que se julgam portadores da fé e que, não raramente, leva a melhor, pois pode produzir maravilhas de modo imediato” (p. 103). “É mais conhecido como possuidor de belíssima capa preta, forrada de vermelho tendo no alto da cabeça dois cornos; tem as feições finas e o seu gesto é de um perfeito cavaleiro” (p. 119). “Deve ser tratado como rei” (ib.) “Protege todos quantos buscam nos malefícios prejudicar os incautos que inconscientemente se atiram de mil formas nas práticas da Magia Negra” (p. 119).

Exu Rei das 7 Encruzilhadas: Um dos mais invocados nos trabalhos da Magia. “É ele o Senhor absoluto de todas as estradas e caminhos que se cruzam” (p. 130). “Chefe supremo de todos os caminhos” (ib.). Seus despachos são por isso colocados nas encruzilhadas. “Todo aquele que inconscientemente ou não procurar desmanchar ou retirar os objetos depositados, como despachos nessas encruzilhadas, está incorrendo em uma falta gravíssima, pois ficará sujeito a uma perseguição tremenda da poderosa falange dessa grande entidade do mal” (p. 139 s).

Exu Tranca Ruas (também Exu Eliô): Manda também nas ruas. Possui grande falange de auxiliares. “É o mais invocado pelos praticantes de Baixo Espiritismo e a ele são entregues a maioria dos despachos feitos nas encruzilhadas’’ (p. 144).

Exu Veludo: tem o “poder de proteger ou castigar os inimigos daqueles que recorrem aos seus incalculáveis benefícios” (p. 149).

Exu Tiriri: companheiro de Tranca Ruas. “É grandemente evocado na prática de trabalhos a serem despachados nas encruzilhadas, nos campos, nos rios, bem como nos cemitérios”.

Exu Quebra Galho: manda principalmente nas matas. “Exerce ainda forte domínio sobre as mulheres e moças, incitando-as à perversão e ao abandono do lar (quando casadas). É grandemente evocado na prática da Magia Negra, para a separação e união ilícita de casais, e todos os trabalhos nos quais se amarram bonecos de madeira, etc., são entregues a essa poderosa entidade” (p. 158).

Exu Pomba Gira: “Representa a maldade em figura de mulher”. “Encarrega-se da vingança, pactuando com as mulheres feiticeiras contra as suas inimigas. Todos os trabalhos inerentes a casos de amor, nos quais a mulher se sente prejudicada, ou então pretende realizar qualquer união, são entregues a Pomba Gira, e os seus resultados são de fato surpreendentes” (p. 159).

Exu das 7 Cruzes: encarregado de zelar a entrada dos cemitérios. “A essa entidade é entregue todo o trabalho que se pretende fazer para que uma pessoa morra por acidente, assassinada, ou outra qualquer espécie de morte, desde que não seja natural” (p. 162).

Exu Tronqueira: é o encarregado das tronqueiras ou entradas de portas. “A essa entidade é que devemos salvar (saudar, oferecendo despachos) quando se iniciam quaisquer trabalhos ou sessões de Umbanda, para que esses trabalhos logrem o seu devido êxito” (p. 163 s).“Ao penetrarmos em um terreiro de alta magia, bem como, em qualquer terreiro de Umbanda, depararemos na maioria das vezes, colocado à esquerda ou à direita de quem entra, com algo de estranho, que logo nos desperta a atenção. Trata-se do ponto de saudação ao Povo de Exu, o qual colocado muitas das vezes dentro de uma pequena casinhola traz as seguintes características: Duas velas cruzadas com as duas pontas queimadas e apagadas, dispostas em X, tendo no vértice inferior, uma Cuité (cuia) contendo marafo (cachaça) e ainda, no fundo, riscado no solo com pemba branca ou preta e que em geral está representado por um ponto, sendo esse ponto apresentado na forma de dois garfos tridentes, cruzados, e uma ou mais cruzes riscadas, que representam cabalisticamente a Linha das Almas. A isto é o que se denomina de Exo de Exu, ou ainda: a salva dessa entidade” (p. 99; cf. também Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1951, p. 117 s).

Exu das 7 Portas (também chamado Exu das 7 chaves):”Facilita a todo aquele que o invoca, quando deseja abrir cofres, ou recipientes onde se encontre qualquer objeto de valor que esteja bem guardado” (p. 175 s). “Faz desaparecer objetos ou ajuda a descobrir objetos escondidos” (p. 117). Seus despachos devem ser colocados em lugares onde haja formigueiros, pois ele “gosta de formigas” (ib.).

Exu das 7 Poeiras: “Seu trabalho é nas estradas e, tal como seu nome indica, vive a perseguir aqueles que trafegam justamente pelos caminhos ou picadas onde o bafejo do progresso ainda não conseguiu fazer ruas verdadeiramente calçadas” (p. 165).

Exu Morcego: “Trabalha principalmente depois da meia-noite”. “Tem o poder de transmitir toda e qualquer espécie de moléstia”. É a ele que se fazem as rezas no gado atacado de bicheiras, vermes, etc., (p. 173).

Exu Tranca Tudo: Seu despacho deve conter: “Galo preto, farinha misturada ao azeite de dendê, ovos cozidos e marafo”. Seja colocado de preferencia nas encruzilhadas; mas qualquer outro lugar também serve. Ele ajuda em tudo: Tranca Tudo!

Exu da Pedra Negra: É muito poderoso. “Tem o poder sobre bens e riquezas, bem como com facilidade protege as pessoas que se encontram em situações financeiras abaladas. Ele pode fazer com que se descubram tesouros escondidos e geralmente é evocado para a obtenção e realização de grandes negócios comerciais” (p. 181).Seu despacho é colocado preferencialmente nas pedreiras onde exista abundância de água corrente; deve conter: vinho tinto, misturado com mel de abelha; gosta também de frutas, principalmente de jamelão.

Exu de Capa Preta: “A finalidade dos seus trabalhos é postar-se em todos os caminhos como observador ou fiscal dos demais exus” (p. 182).“Pela sua aparência senhorial e imponente, costuma dedicar-se exclusivamente a informar tudo quanto é segredo e tem por especial predileção provocar desinteligências e arruaças entre os homens. É muito evocado com o fito de provocar a derrubada de Chefes de terreiros”. (p. 183).

Exu Caveira: à serviço de Omulum, rei dos cemitérios. Gosta de bife cru ou de carne de porco, com farofa e azeite de dendê; é amigo também de marafo, vinagre e azeite doce. “Nunca se deve deixar de acender pelo menos 7 velas, quando o presente para Exu Caveira tem que ser entregue no cemitério” (p. 200). Os despachos devem ser feitos depois de meia-noite.

Exu da Meia-noite: “Ensina a falar de um modo imediato qualquer língua e tem o poder de decifrar qualquer enigma” (p. 203).Foi ele quem deu a São Cipriano as famosas receitas de magia.”Em todos os centros ou terreiros onde se realizam sessões espíritas, costuma-se esperar pelos menos cinco minutos para que todos abandonem seus lugares e saiam à rua, caso os trabalhos se prolonguem até a meia-noite, isso devido a aguardar a passagem de ronda dessa poderosa entidade do mal, que pode trazer perturbações a quem desconhece suas atividades maléficas” (p. 204).

Exu Pagão: “Seu trabalho se prende ao que comumente acontece entre casais que se separam, motivados pelo ciúme, pelo desejo de conseguir amores ilícitos, etc. A essa entidade do mal se costuma entregar todos os despachos que visam justamente os trabalhos que se destinam a concessões duvidosas, quando determinadas pessoas desejam juntar-se a outras por meios ilegais. Prima excepcionalmente pela prática do mal, pois sua finalidade é incutir o ódio, a incompreensão e tudo o que resulta na separação de casais que vivem em harmonia” (p. 215).

Exu Ganga: “Seus trabalhos são feitos exclusivamente nos cemitérios”. A ele “é entregue todo e qualquer trabalho no qual se deseja a morte de pessoas, ou também a cura de enfermos completamente desenganados; pois ele tanto cura como mata qualquer indivíduo” (p. 225).

Exu Quirimbá: “Suas atividades maléficas são de molde a prejudicar simplesmente as mocinhas, induzindo-as a praticarem atos indecorosos, induzindo-as ao caminho da prostituição” (p. 229). Despacho: marafo e sangue de galinha.

Exu Brasa: “É o provocador dos incêndios e domina o reino do fogo, tendo a facilidade de conceder aos praticantes da Magia Negra o dom de caminhar entre chamas sem queimar-se” (p. 123 s).

COMO FAZEM OS “DESPACHOS”


“É muito comum hoje em dia, mesmo entre os elementos da alta sociedade, verem-se casos de larga procura aos Quimbandeiros, para que estes realizem trabalhos de macumbas, feitiçarias, despachos, etc., com a finalidade de conseguirem desmanches de casamentos, aproximações de amantes, enfim, uma série de trabalhos próprios dos Exus, num crescer constante de maldade, perversidade e falta de bom-senso” (A. Fontenelle, Exu, Rio 1952, p. 98).Em vista desta enorme difusão, mormente nas grandes cidades, deste recurso aos Exus, para melhor alertar os católicos e para dar-lhes oportunidade de conhecerem mais de perto esta perigosa e condenável prática da magia, transcrevemos do livro de Oliveira Magno, Prática de Umbanda, Rio 1952, mais algumas amostras e receitas.

1) Para soltar e desamarrar negócios: — “Em uma sexta-feira a meia-noite ir a uma encruzilhada, levando um galo preto vivo e amarrado com uma fita preta e outra vermelha; uma garrafa de cachaça; um charuto e uma caixa de fósforos. Chegando na encruzilhada, pedir licença; em seguida abrir a garrafa e salvar os quatro cantos da encruzilhada, um pouco de cachaça em cada um; porém que fique ainda bastante cachaça na garrafa, a qual deve ser posta no centro da mesma encruzilhada com a caixa de fósforos aberta e o charuto ao seu lado; depois disto feito cantar o ponto seguinte:

Exu Tiriri,

Trabalhador da encruzilhada,

Toma conta e presta contas

Ao romper da madrugada. (Bis)

Terminando o ponto cantado, dizer: “Exu Tiriri! Eu vos ofereço para que os meus caminhos sejam abertos e desembaraçados e os meus desejos sejam realizados, e, assim como vou soltar e desamarrar este galo em vossa honra, assim sejam soltos e desamarrados os meus negócios e a minha vida”. E dito isto, desamarrar e soltar o galo na encruzilhada, cantando a seguir o ponto:

Firma o ponto,

Acerta o passo,

Para Exu da encruzilhada

Não há embaraço. (Bis)

Depois disto, pedir licença para retirar e terminar dizendo: “Estou confiante”.

2) Trabalhos para diversos fins: — “Em uma sexta- feira da lua crescente e próximo à meia-noite, ir a uma encruzilhada fêmea (dois caminhos que fecham em forma de T) e levar: Uma farofa amarela dentro de um alguidarzinho de barro, uma garrafa de cachaça, um charuto e uma caixa de fósforos; pedir licença e cantar o ponto seguinte:

Que bela noite,

Que lindo luar,

Exu Pomba-Gira

Vem trabalhar. (Bis)

Em seguida, por no centro da encruzilhada a farofa, a garrafa aberta, o charuto e a caixa de fósforos, também aberta, e dizer: “Eu vos ofereço para que meus caminhos sejam abertos e desembaraçados e os meus desejos sejam realizados”. E logo a seguir cantar este ponto:

Salve tá lá Pomba-Gira

Salve Exu mulher,

Ela é na encruzilhada

A que faz tudo o que quer. (Bis)

E terminar dizendo: “Assim como na encruzilhada tu faz tudo o que queres, assim também seja feito o que eu quero. Estou confiante. — Nota: Se for mulher que deseja ser beneficiada, deve ir em companhia de um homem, pois os trabalhos de Exu Pomba-Gira obedecem à lei do sexo”.

3) Para resolver-se todos os casos: “Em uma noite de segunda-feira procurar sete encruzilhadas levando sete velas, sete charutos, sete caixas de fósforos, e acendendo uma das velas em cada encruzilhada e pondo a seu lado um dos charutos e uma das caixas de fósforos aberta e, na ultima encruzilhada por também uma garrafa de cachaça aberta, e dizer: “Eu vos ofereço, ó Grande Rei das encruzilhadas, para que os meus caminhos sejam iluminados, abertos e desembaraçados, para que tenha prosperidade e os meus desejos sejam realizados. Estou confiante”.

4) Para se livrar do desânimo: —“Quem estiver desanimado, triste, sem fé e esperança, é fazer o seguinte: Em uma quinta-feira, ir a uma mata levando uma vela, um vidro de mel e uma garrafa de cachaça; quando entrar na mata, pedir licença; em seguida salvar o Rei da mata e todo o seu povo, despejando a cachaça em todas as direções; depois acender a vela e espalhar o mel pedindo para que a vida lhe seja mais doce, mais favorável; depois disto, cantar o ponto seguinte:

Vem, ó caboclo,

Vem, pena branca,

Vem trabalhar,

Vem dar a esperança. (Bis)

És o caboclo

Da fé e esperança,

Da luz vibrante.

Da força branca. (Bis)

E terminar dizendo: “Ó sublime caboclo, com a graça de Deus, dai-me animo, fé, esperança e alegria de viver. E que Deus Pai permita que assim seja”.

5) Para resolver um caso difícil: — “Primeiramente chamamos a atenção que qualquer trabalho ou oferta que se vai fazer no mato, mar, encruzilhadas, pedreiras, cachoeiras, rios, cemitérios, etc., a primeira coisa a fazer é salvar e pedir licença; principalmente nos cemitérios não se deve fazer nenhum trabalho sem primeiramente pedir licença ao dono do cemitério (Omulu) e acender três ou sete velas no cruzeiro em benefício das almas cujos corpos foram aí enterrados e rezar Pai-Nosso e Ave-Maria. Depois disto feito, então é que se pode fazer qualquer trabalho. Enfim, para que uma pessoa resolva qualquer caso difícil, há o seguinte: Sete velas, sete caixas de fósforos, sete charutos, uma garrafa de cachaça e em uma sexta-feira das 23 e meia às 24 horas percorrer sete encruzilhadas pondo em cada uma 1 vela acesa, 1 charuto e 1 caixa de fósforos aberta; e na última encruzilhada entregar também aberta a garrafa de cachaça dizendo o que quer conseguir. No sábado seguinte levar 7 velas em um cemitério e acender no cruzeiro rezando 7 Pai-Nossos e 7 Ave-Marias em benefício das almas cujos corpos foram ai enterrados para que se consiga o que se pretende. No domingo seguinte levar sete velas em sete igrejas (católicas) e acender uma em cada igreja rezando um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para que termine se realizando o que deseja. Por exemplo: Queres ser vitorioso em uma demanda ou luta, que a última igreja seja a de São Jorge. Queres ser feliz no casamento, que a última igreja seja a de São José. Quem fizer este trabalho à risca, isto é, completo sem nada faltar, pode ter a certeza de realizar o que pretende, pois não só é a ação das forças como também da uma prova de fé, coragem e força de vontade” (este último exemplo foi tirado do livro do mesmo autor: Umbanda e Ocultismo, Rio 1953, p. 66 s).

“OS DESPACHOS PEGAM MESMO?”


Paremos um instante. Fechemos esses livros de necromancia, magia, politeísmo, demonolatria e heresia.Para desintoxicar-nos, tomemos os sagrados livros do Evangelho de Cristo.Reflitamos. Façamos algumas considerações críticas do ponto de vista cristão.Pois somos muitas vezes interrogado se o despacho ou o malefício tem os efeitos apregoados e garantidos pelos autores de Umbanda. Muita gente tem um pavor medonho dos despachos e malefícios. Nem querem passar por perto. E se amanhecem com um despacho destes à porta da casa, é uma calamidade. Os babalaôs e os chefes de Umbanda não raro imperam e se impõem com semelhantes ameaças. Encontramos pessoas que gostariam de desligar-se de Umbanda, mas temem e tremem diante dos poderes misteriosos da Magia. E contam casos reais de vinganças tremendas. Ficam assim presos nos laços do terrorismo umbandista.

Quantas vezes já nos foi feita esta pergunta: “Os despachos pegam mesmo?” Pensamos sinceramente que a resposta não pode ser sem mais um sim ou não.A nossa vez existem verdadeiros casos de magia.Não nos foi possível contestar a realidade de certos efeitos examinados pessoalmente. Se Deus proibiu a prática da magia sob pena de morte, não o fez sem motivos. Mas para que se compreenda perfeitamente a posição cristã, é necessário recordar alguns ensinamentos da Sagrada Escritura a respeito da existência e das atividades dos “espíritos das trevas”. Abramos, pois, um parênteses necessário e muito útil.

A EXISTÊNCIA E AS ATIVIDADES DO DEMÔNIO


Para sermos conciso numa questão que, talvez, mereceria longa exposição, compendiaremos o ensino cristão relativo ao demônio nos seguintes pontos:

1) É doutrina revelada por Deus, e portanto verdade de fé, que existem espíritos maus.São seres espirituais, inteligentes e livres (portanto: pessoas), criaturas de Deus que se revoltaram contra o Criador e foram condenados ao inferno.Pouco importa seu nome: demônio, satanás, diabo ou exu. Jesus Cristo preferiu estas primeiras três denominações. Mas também o chamou de “pai da mentira” (Jo 8, 44), “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 14, 30), “homicida desde o começo” (Jo 8, 44), “inimigo” (Mt 13, 39), “o forte” (Mt 12, 29), “espírito imundo”, “impuro” (Me 3, 30), etc.

2) Há entre eles certa ordem e hierarquia, sendo Lúcifer o chefe.Cristo fala do “demônio e seus anjos” (Mt 25, 41), referindo-se explicitamente ao “reino de satanás” que está unido (Mt 12, 26).Também o Apocalipse nos recorda o “dragão e seus anjos” (12, 7) e São Paulo lembra aos efésios “que temos que lutar contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade” (6, 12).

3) Em certo e limitado sentido podemos dizer que satanás é como que o rei deste mundo: já vimos a expressão de Cristo que o chama de “príncipe deste mundo” (Jd 14, 30).São Paulo declara que é o “príncipe no reino dos ares, que opera nos filhos da desobediência” (Ef 2, 2), até mesmo diz que é o “deus deste século” (2 Cor 4, 4).Os servos ou filhos de satanás e os súditos de seu reino são todos os pecadores, principalmente os que combatem a verdade (cf. Jo 8, 44; At 13, 10).São João escreveu: “Quem comete pecado é filho do demônio” (1Jo 3, 8).

4) O reino de Cristo não é deste mundo (Jo 18, 36). Mas Jesus frisa: “Eu sou rei” (Jo 18, 37). Não é simples rei entre outros, mas o “Rei dos reis é o Senhor dos senhores” (Apoc 19, 10), de tal modo que tudo lhe foi entregue: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra” (Mt 28, 18).Ele é também o “príncipe dos reis da terra” (Apoc 1, 5). A Cristo e seu reino pertencem todos os que foram arrancados do poder das trevas pela Redenção (Col 1, 3 s). A missão de Cristo é a de “destruir as obras do demônio”’ (1Jo 3, 8) e que “todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 15).

5) Assim temos de fato, nesta terra de lutas e provocações, dois reinos opostos, inimigos um do outro.Satanás e seus anjos tentam com todo o empenho destruir o reino de Deus. Pertence ao plano da providência divina que o homem mostre sua virtude e constância na luta, nas adversidades e nas tentações. É esta a razão mais profunda por que Deus concedeu ao demônio certa liberdade de movimento: para provocar a luta, as adversidades e as tentações.

6) Mas “apareceu à benignidade e é amor humanitário de Deus, nosso Salvador” (Tito 3, 4): Cristo veio “a fim de aniquilar pela morte aquele que imperava pela morte, o demônio” (Hb 2, 14). E Cristo venceu e quebrou seu poder. Depois de Jesus, Satanás de fato já não é o senhor imediato e absoluto deste mundo.

7) Contudo, o demônio, mesmo depois de Cristo, continuou com relativa liberdade para hostilizar os homens, até o fim do mundo.Por isso admoesta São Pedro: “Irmãos, sede sóbrios e vigilantes, porque o demônio, vosso adversário, anda em derredor como um leão a rugir, procurando a quem devorar; resisti-lhe firmes na fé” (1 Ped 5, 8).Porém, e isso é muito importante: ele não pode agir à vontade!

“Mau grado seu grande poder e obstinação — escreve o Catecismo Romano, ed. Vozes, p. 589 — e seu ódio mortal contra o gênero humano, o demônio não pode tentar-nos e importunar-nos, com a força ou pelo tempo que ele queira, pois toda a sua influência é regulada pela vontade e permissão de Deus. Disso temos em Jó o exemplo mais conhecido. Não tivesse Deus dito ao diabo a seu respeito: “Tudo quanto ele possui está em tuas mãos”, não poderia satanás tocar em nada que fosse dele. Todavia, se o Senhor não tivesse acrescentado: “Só não estendas tuas mãos contra a sua pessoa”, um único golpe do demônio o teria fulminado, juntamente com seus filhos e todos os cabedais. A tal ponto está ligado o poder dos demônios, que sem permissão de Deus não poderiam sequer entrar nos porcos, de que falam os Evangelistas”.

8) Insistimos: é relativa e limitada a liberdade do demônio em hostilizar os homens.Satanás não independe de Deus. Os espíritos maus nos podem tentar ou insidiar apenas dentro dos limites determinados por Deus para cada pessoa humana e de acordo com suas forças.O demônio nos hostiliza de duas maneiras: ou direta, imediata e sensivelmente, ou indireta, mediata e imperceptivelmente.O modo mais comum é o indireto, quando satanás, permanecendo ele mesmo escondido, se serve de outros meios (maus livros ou revistas, filmes pornográficos, bailes impudicos, homens perversos, etc.), para solicitar-nos ao mal. Pode-se dizer que é este o meio normal e ordinário.Extraordinariamente, todavia, o demônio pode importunar-nos também de um modo imediato, sendo diretamente perceptível sua intervenção. Parece, porém, que devemos dizer que neste caso satanás deve obter uma permissão especial de Deus. E o Criador pode dar esta licença ou para provar ou para castigar o homem. Garante-nos, todavia, a doutrina cristã que Deus jamais permite sejamos provados acima de nossas forças.Só cai no poder do demônio quem livre e espontaneamente a ele se entrega. Este, sim, é muitas vezes tentado além de suas forças; mas a culpa não é de Deus: é dele mesmo, que voluntariamente foi ao encontro do inimigo, brincou e pactuou com ele.

9) Como vencer o demônio? Responde o Catecismo Romano (p. 594): “O demônio, naturalmente, não é vencido por meio da vadiagem, da sonolência, da bebedeira, da glutonaria e da luxúria, mas tão somente pela oração, pelo trabalho, pela vigilância, pela abstinência, pelo domínio de si mesmo e pela castidade”.”Vigiai e orai, para não entrardes em tentação” (Mt 26, 41). “…e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal (ou maligno!)”.

São estes os princípios que nos permitirão responder a pergunta “se os despachos pegam mesmo”.

VOLTANDO AOS DESPACHOS E A MAGIA


Em vista do que acabamos de expor, podemos agora assumir uma atitude cristã frente à doutrina e as práticas umbandistas e quimbandeiras em torno dos exus. Há algumas verdades, vários exageros e muitas falsidades e arbitrariedades que convêm assinalar:

1) É verdade que existem numerosos espíritos maus, que não foram assim criados por Deus, mas por própria e livre vontade se revoltaram contra o Criador; pouco importa o nome que lhes demos: demônio, satanás ou exu; e há entre eles certa organização ou hierarquia.

2) É verdade que estes espíritos maus receberam de Deus uma relativa liberdade de agir neste mundo e hostilizar os homens,

3) É verdade que o homem, abusando de seu livre arbítrio, pode pactuar com os espíritos maus e entregar-se a eles.

4) É verdade que Deus pode permitir ao demônio intervenha de um modo direto e sensível na vida do homem, aparecendo mesmo sob alguma forma visível.

5) Mas é um formidável exagero dos teóricos de Umbanda dizer que os espíritos maus são os senhores imediatos e absolutos deste mundo: Cristo venceu e quebrou o poder de satanás.

6) É outro grande exagero dizer que os espíritos maus aparecem é vontade do homem: só o podem fazer com permissão divina e Deus pode permiti-lo ou para provar os bons ou para castigar os maus e revoltosos.

7) É exagero e mesmo falso dizer que o demônio, independentemente de Deus, obedece aos caprichos e aos desejos de certos homens ou babalaôs.

8) É falso dizer que em certas coisas nos homens dependemos dos espíritos maus.

9) É falso dizer que é lícito ao homem chamar os espíritos maus: é sempre pecaminoso e revoltante qualquer tentativa de evocar os exus ou demônios, mesmo para “praticar o bem”.

10) É totalmente falso e arbitrário dizer que certos espíritos mandam nas encruzilhadas, nos cemitérios, nos rios, nos bosques, etc., pois não existe para isso absolutamente nenhuma base na Revelação Divina.

11) É falso e arbitrário dizer que os espíritos maus preferem trabalhar de noite ou em determinadas horas.

12) É falso e arbitrário dizer que são necessários determinados ritos ou objetos para chamar ou evocar os demônios.

13) É pura e condenável idolatria, ou melhor demonolatria, oferecer a satanás presentes e sacrifícios ou dirigir- lhe certas orações e petições.

Suponhamos agora que algum babalaô, ou por iniciativa própria ou a pedido, faça, segundo todos os requisitos do ritualismo, um presente ou despacho contra Fulano, pedindo a Exu Velado que castigue Fulano com um desastre qualquer.O que acontecerá? Respondemos: Em si e como tal o despacho não terá efeito nenhum, pois, como vimos, o demônio (ou Exu) só pode imiscuir-se de modo direto e sensível na vida do homem com permissão especial de Deus.Pode, no entanto, ser que Fulano seja, também ele, amigo do demônio (ou vivendo habitualmente em estado de pecado mortal e, portanto, de inimizade com Deus, ou praticando também ele a demonolatria, a necromancia ou a magia, proibidas rigorosamente por Deus, sob a combinação dos mais graves castigos) e neste caso é possível que Deus, para castigar Fulano, aproveitando a oportunidade, permita ao demônio que faça de fato o que aqueles revoltosos amigos do demônio tão insistentemente querem e suplicam. E teríamos então, dentro deste conjunto de reservas, um caso em que o despacho “pega” mesmo. Suponhamos, todavia, que Fulano seja uma pessoa que se esforça por viver em estado de amizade com Deus (grata santificante), não brincando nem pactuando com os espíritos maus; neste caso o despacho certamente não teria efeito nenhum (a não ser, talvez, em casos raríssimos, não para castigar, mas para provar este servo de Deus; todavia, mesmo nesta hipótese a provação jamais seria acima das forças de Fulano). Tudo depende, por conseguinte, de dois fatores: da vontade de Deus que permite ao demônio uma atuação no caso, e do estado de alma (grata santificante ou pecado mortal) da pessoa visada. Observe-se, entretanto, que não queremos com isso dizer que todo despacho ou “trabalho” feito contra uma pessoa em estado de pecado mortal tenha sempre seus efeitos garantidos. Absolutamente! Sustentamos apenas que neste caso o efeito seria possível, não repugnaria, não seria nem contra a justiça, nem contra a providência paternal de Deus, sempre, porém, sob completa dependência do Criador.Pensamos sinceramente que também nesta suposição (isto é: quando o malefício é feito contra uma pessoa em estado de pecado mortal), a absoluta maioria dos despachos ficam sem efeito.Mas, como cristão e dentro da mentalidade cristã, não nos surpreendem certas histórias estranhas e extraordinárias, que se narram nos meios onde é praticada a magia e a demonolatria e onde os homens põem à disposição do demônio portas escancaradas e carta branca, oferecendo-lhe até presentes e verdadeiros sacrifícios, pedindo e suplicando que venha e “trabalhe”. Certos terreiros, quando em pleno funcionamento, apresentam todas as características da atuação direta de espíritos maus… Quando, por exemplo, os “filhos ou filhas de santo” entram em transe, inteiramente tornados por algum espírito, que os faz pronunciar palavras sem nexo e agitar-se em movimentos alucinados, parecendo os pés não mais tocar o solo e a cabeça balançando doidamente em todas as direções, sobre um pescoço desarticulado, chegando a executar danças rituais, rodopiando 48 horas sem parar, fumando cachimbos e charutos ou comendo os bichos mais nojentos…

O umbandista Lourenço Braga escreve que viu “muitos espíritos violentos jogarem o médium no chão, darem socos na mesa, darem urros ou gritos fortes, furar o corpo com a ponta de punhal, pisar em brasas, mastigar vidro, estraçalhar uma galinha nos dentes para beber o sangue” e o médium a “gritar, sapatear, bater com as mãos na mesa ou ficar como se estivesse sufocado” (Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 37).

O melhor e mais eficaz meio para nos tornarmos imunes contra toda a sorte de despachos e malefícios, é conservar-nos na amizade de Deus, na graça santificante.E esta vida sobrenatural da graça deve ser conservada, aumentada e alimentada pela frequente recepção do Pão Eucarístico, que é o “Pão dos fortes”: “Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue terá a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia… Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e eu nele… Quem come este pão viverá eternamente” (Jo 6, 53-58)

SATANÁS E AS DOENÇAS


Já que estamos a estudar as possíveis influências do demônio sobre o homem, será interessante salientar mais um ponto. Vimos que os espíritas e umbandistas atribuem muitas doenças a atuação dos espíritos atrasados e maus e, consequentemente, procuram a cura pelo afastamento destes agentes importunos. E parece que às vezes conseguem realmente efeitos extraordinários. É a razão por que muita gente vai ao Espiritismo e procura os terreiros de Umbanda.

Qual e a posição cristã perante semelhantes teorias e prováveis fatos?

Percorrendo as páginas do Evangelho, encontramos realmente casos em que o demônio parece ser a única causa de certas enfermidades e a cura é obtida pela simples expulsão do demônio. Vejamos esses casos:

Em Mt 9, 32-33 lemos: “Apresentaram-lhe (a Jesus) um homem mudo, possesso do demônio. E, expulso o demônio, falou o mudo…”

Em Mt 12, 22: “Então trouxeram-lhe um endemoninhado, cego e mudo e ele (Cristo) o curou, de sorte que falava e via”.

Mt 17, 14-20: É o caso do menino epiléptico. “Jesus ameaçou o demônio, e este saiu do jovem, o qual desde aquele momento ficou curado” (v. 17).

Lc13, 10-13: cura da mulher paralítica, “que estava possessa de um espírito que a tinha doente havia dezoito anos, e andava encurvada, e não podia absolutamente olhar para cima. Jesus, vendo-a, chamou-a a si e disse-lhe: Mulher estais livre de tua enfermidade. E impôs-lhe a mão e imediatamente ficou direita”. Mais adiante, em discussão com os fariseus, o próprio Jesus esclarece que “satanás a trazia presa já por dezoito anos” (v. 16).

Façamos primeiramente algumas considerações sobre estes fatos narrados e garantidos pelos Evangelhos.

Embora estas doenças (surdez, cegueira-mudez, epilepsia e paralisia parcial) tenham, segundo o texto sagrado, origem diabólica, o demônio, todavia, não parece dar outro sinal de sua presença, a não ser apenas a doença. E esta enfermidade é curada com a simples expulsão do demônio. Temos, portanto, que o próprio Evangelho, e em um caso Jesus pessoalmente, atribui certas doenças ao demônio e sua cura é obtida pela expulsão do mau espírito. Mas Jesus não atribui todas as doenças ao demônio. Temos no Evangelho inúmeros casos de doentes curados que nenhuma relação tinham com satanás. Por outro lado encontramos nas mesmas sagradas páginas casos em que a possessão não se manifestava por meio de doenças. Jesus, pois, distingue nitidamente entre doenças simplesmente, doenças causadas pelo demônio e possessão. No caso da mulher encurvada é o próprio Jesus quem chama a atenção para a atuação do demônio. E a expressão até é estranha: “Satanás a trazia presa já por dezoito anos”.

Devemos, pois, dar razão aos espíritas e umbandistas quando dizem que certas enfermidades são causadas pelos espíritos maus. Talvez eles exagerem o numero dessas doenças. Pois em casos concretos será difícil saber se estamos ou não diante dum efeito causado diretamente pelo demônio, ou diante duma simples doença, uma vez que a manifestação externa é a mesma. Muitas vezes nem mesmo será possível sabe-Io. Pois a paralisia ou surdez tanto poderia ser simples doença, como também pura atuação do demônio. Há certos doentes que parecem totalmente incuráveis, apesar de repetidos esforços dos mais competentes médicos. Esta incurabilidade seria talvez um indício para concluir que se trata da atuação diabólica?

Cristo mostra seu domínio sobre o demônio, expulsando-o. Temos numerosíssimos exemplos nos Evangelhos. Jesus conferiu também aos Apóstolos o poder de expulsar o espírito mau. Os Apóstolos por sua vez transmitiram este poder de exorcismo. Na Igreja sempre houve exorcistas. Ainda hoje todo sacerdote recebe este poder. E no Ritual da Igreja encontramos bênçãos sobre os enfermos que encerram verdadeiro exorcismo. Leia-se este exemplo:

Oratio et benedictio super aegrotum. — Per tuam maximam misericordiam, per tuam summam bonitatem, per tuam amplissimam caritatem, per Domininostri lesu Christi passionem et crucem, per merita et intercessionem beatissimae Virginis et Omnium Sanctorum, in nomine lesu et sanctae Ecclesiae, ego, indignissimus servustuus, rogo te pro hoc famulo tuo infirmo, ut ipsipatientiam, constantiam et veram consolationem praebeas et augeas, et, si ad animae salutem prodest, restitue earn ad salutem. Si autem tu, nefande diabole hoc malum causas tivelauxisti, ego indignissimus servus Dei, impero tibi, ut recedasabhoc famulo Dei et tollas omne noxium, quod causas tiveiauxisti, et numquam redire audeas. Non nobis, Domine, non nobis, sed Nominituo da gloriam. Benedictio Dei Omnipotentis, Patrise tFilii et Spiritus Sancti descendat super te et maneat semper. Amen.

Eis ai uma tradução nossa (não oficial!) desta oração: Oração e benção sobre um enfermo: — Ó Deus, por Vossa máxima misericórdia, por Vossa suma bondade, por Vosso amor sem limites, pela paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos méritos e pela intercessão da beatíssima Virgem e de todos os Santos, em nome de Jesus e da Santa lgreja, eu indigno criado Vosso, Vos suplico e rogo em favor deste Vosso servo, para que lhe concedais e aumenteis a paciência, a constância e a verdadeira consolação e, se lhe for favorável para a salvação da alma, lhe restituais a saúde. Se, porém, tu, demônio perverso, causaste ou aumentaste este mal, eu, mui indigno servidor de Deus, te ordeno que abandones este servo de Deus e leves todo o mal que causaste ou aumentaste e jamais ouse a ele retornar. Não a nós, Senhor, não a nós a glória, mas glória seja ao Vosso Nome! E a Benção de Deus Onipotente, Pai, e Filho e Espírito Santo, desça sobre ti e permaneça para sempre. Assim seja.

OS PSEUDO-MILAGRES DO DEMÔNIO


Predisse Nosso Senhor que apareceriam falsos profetas, “que farão grandes prodígios, a ponto de enganar até os escolhidos, se fosse possível. Eis que vos ponho de sobreaviso” (Mt 24, 23-24). Também São Paulo fala de gente que virá “na virtude de Satanás, com toda sorte de portentos, sinais e prodígios falazes, procurando a todo transe levar à iniquidade os que se perdem por não abraçarem o amor à verdade. É por isso — continua o Apóstolo— que Deus lhes manda o poder da sedução, para darem fé à mentira e serem entregues ao juízo todos os que não deram crédito à verdade, mas antes se comprazeram na iniquidade” (2 Tess 2, 9 ss).

Ora, verificamos que, segundo o Evangelho, em alguns casos, satanás é a causa exclusiva de certas enfermidades (vimos o exemplo da surdez, cegueira, mudez, epilepsia e paralisia; nada obsta a admitir também outras doenças) e a retirada do demônio significa a cura do doente.Não repugna nem é anticristão pensar que o diabo se retire por conta própria, quando lhe convier ou interessar, restabelecendo desta maneira a saúde do enfermo.Estaríamos assim diante dum pseudo-milagre operado pelo próprio demônio.Ele o faz, diz Nosso Senhor, “para enganar os escolhidos”, ou, na expressão de São Paulo, “para levar à iniquidade”, ou “para dar fé à mentira”.É um dos estratagemas do inimigo de nossas almas e de nossa salvação. Deus o permite para, deste modo, experimentar a nossa fé.

É ainda o Apóstolo que o afirma: “Deus lhes manda (ou concede) o poder de sedução”.

Não nos deixemos iludir por semelhantes prodígios! Foi seguramente por isso que Jesus acrescentou: “Eis que vos ponho de sobreaviso!”

Se forem reais as mil histórias de curas maravilhosas que os espíritas e umbandistas nos contam, muito embora não acreditemos em todas elas e muitas delas possam ser explicadas perfeitamente por meios naturais (sugestão, hipnotismo, remédios verdadeiros — de homeopatia! — que eles também administram), não sentimos maiores dificuldades em admitir também curas incontestáveis por meios mágicos: trata-se, então, de pseudo-milagres do próprio demônio que desta maneira procura prestigiar a doutrina espírita (reencarnação, panteísmo, negação da Santíssima Trindade, da Divindade de Cristo, etc.), frontalmente contrária à doutrina cristã.

A este respeito possuímos também interessantes declarações e testemunhos de santos escritores dos primeiros séculos. Assim, por exemplo, escreve São Cipriano, Bispo de Cartago, no terceiro século:

“Esses espíritos ocultam-se em quadros e imagens sagradas; inspiram com o seu hálito o peito dos videntes; animam as vísceras dos animais sacrificados; orientam o voo das aves; possibilitam os oráculos; misturam a verdade com a mentira; causam a desordem na vida, perturbam o sono, oprimem o corpo. Tais espíritos atemorizam as almas, desconjuntam os membros do corpo, arruínam a saúde e provocam enfermidades, para obrigar os homens a os adorar; e, então, satisfeitos com o incenso dos altares e dos sacrifícios, concedem o que tinham prometido, aparentando a cura do mal” (De Idolorum Vanitate, n. 7).

E diz ainda o virtuoso e heroico Bispo e mártir da fé:

“Ele (o demônio), com seus perversos auxiliares, provocou essas heresias e cismas que tem abalado à fé, falsificado a verdade, destruído a unidade… Ele separa da Igreja os fiéis e enquanto imaginam estes se haverem aproximado da luz, envolve-os em densas trevas. E assim, embora abandonem o Evangelho e não cumpram os mandamentos, se dizem ainda cristãos; caminham na escuridão, julgando possuir a caridade, ao mesmo tempo em que o inimigo os lisonjeia e desorienta, pois que, como disse o Apóstolo, transforma-se ele em anjo da luz e veste, com a túnica dos servos da justiça, os seus ministros”.

O notável orador romano Tertuliano, do segundo século, escreveu na sua Apologia, dirigida aos imperadores, que a obra dos demônios, que os pagãos adoravam, tinha como objetivo a destruição e o aniquilamento da humanidade. “Com esse intento, diz ele, causam moléstias e certas deformidades dolorosas do corpo, assim como os abalos súbitos e horrivelmente intensos da alma”.Tertuliano admite como ilusões certos processos empregados no tratamento das moléstias, “produzindo rápida, mas aparentemente a cura, uma vez que o domínio começa provocando a moléstia para depois, cessando a sua intervenção e pela aplicação de novos meios de cura, aparentar o milagre” (Apologeticum, cap. 22).Em sua obra De Anima (cap. 57) escreve o mesmo autor que essa fraude do espírito mau, oculto por trás dos mortos, se descobre muitas vezes pelo exorcismo quando o espírito diz ser o pai ou a mãe do possesso, ou outra pessoa qualquer.

OS PERIGOS DA UMBANDA


Daremos, afinal, a palavra aos próprios umbandistas, para que eles mesmos nos confessem as tristes consequências a que leva a prática da magia e do ritualismo de Umbanda.Nestas citações, como nas outras, respeitamos sempre a gramática deles…

1) O perigo de doença ou loucura.

“Na Lei de Umbanda ou na Lei de Quimbanda, as manifestações de espíritos são, na maioria das vezes, totais, quero dizer, os espíritos apoderam-se totalmente dos médiuns. Nesse estado, vimos muitos espíritos violentos jogarem o médium no chão, darem socos nas mesas, darem urros ou gritos fortes, furar o corpo com ponta de punhal, pisar em brasas, mastigar vidro, estraçalhar uma galinha nos dentes para beber o sangue, etc…, dando-se muitas vezes, o caso do médium gritar, sapatear, bater com as mãos na mesa ou ficar como se estivesse sufocado” (Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed. p. 37).

_ “Sabeis o que pode produzir uma mediunidade mal orientada, mal dirigida? Isto: a obsessão, a alienação mental definitiva, a morte. Eis porque, apesar de ser espírita, jamais me ofendi quando ouvi os padres católicos dizerem que o espiritismo é uma fábrica de loucos. Eles têm, em grande parte, toda razão, Somos daqueles que acham que quem não quiser tomar a coisa a sério, no Espiritismo ou na Umbanda, quem não tiver desejo de estudar seriamente, quem não tiver coragem ou espírito de imparcialidade, que não venha ao Centro Espírita ou ao Terreiro de Umbanda” (Emanuel Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p. 68).

“Casos há em que, havendo o complete domínio do espírito sobre a matéria, cujo subconsciente grandemente enfraquecido, quer pela moléstia ou outro qualquer fenômeno, deixa-se o indivíduo tomar facilmente pelo espírito obsessor, jamais retornará esse elemento ao seu próprio estado, tornando-se um elemento perigoso, que, tornado pela obsessão é quase sempre levado à loucura, com bem poucas probabilidades de cura…” (A. Fontenelle, O Espiritismo e a Lei de Umbanda, Rio, p. 24).Na p. 91 escreve o mesmo autor: “A Umbanda, por se tratar de uma religião puramente fetichista, encontra uma infinidade de adeptos, os quais, julgando que com facilidade podem tomar conhecimento daquilo que lhes pode acontecer no futuro, entregam-se completamente inconscientes, sem de leve perceberem que muitas vezes incorrem em um erro gravíssimo, devido ao seu espírito mal formado e portanto, sujeitos a uma série de perturbações que os levam invariavelmente à loucura ou à degradação moral”.

2) O perigo da imoralidade:

“Nenhuma das religiões é mais propícia aos atos de leviandade e depravações como a Umbanda, pois se o médium não for controlado e não tiver a seu favor os princípios de bom caráter, ânimo forte e grande espírito de abnegação, ruirá por terra, e se arrastará tal qual um verme, na lama da inconsciência” (A. Fontenelle, O Espiritismo e a Lei da Umbanda, Rio, p. 91).

‘‘Podemos afirmar que, sob a capa de Espiritismo e Umbandismo, há muitos abusos.Casas de tolerância disfarçam os seus vícios com algumas imagens de Santos e cabeças coloridas de caboclos. Falsos médiuns fingem receber “tios” velhos e exploram os incautos. Mulheres bonitas, usando colares e “guias”, vivem nababescamente.Há terreiros só de granfinos, que ali deixam vultosas contribuições.Inescrupulosos e ilusores desencaminham gente de boa fé” (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1051, p. 153).

“Multiplicaram-se as macumbas, os batuques, os candomblés e marchou tudo para a derrocada moral inevitável. Homens e mulheres sem escrúpulos descambavam para a baixa magia, o bruxado, o são-ciprianismo, a magia do mal, e até mesmo prevaleciam-se de sua condição de “pais” ou “mães” para dormirem e coabitarem com os respectivos filhos ou filhas de santo.Conhecemos vários casos desta ordem e vimos, nas chamadas macumbas, coisas de aterrorizar” (Emanuel Zespo, Codificado da Lei de Umbanda, Parte Pratica, Rio 1953, p. 52).

“Às vezes tudo vai bem num terreiro, e… repentinamente nasce uma paixão mórbida entre dois irmãos de Umbanda de sexos opostos e já comprometidos socialmente com outros laços carnais. Brota o amor da carne, nasce o ciúme, acende-se a fogueira do desejo, surge a discórdia, o ódio, a vingança…” (Ibidem, p. 65).

“Nós, que temos estudado varias religiões e convivido com sacerdotes de diversas seitas, tomando parte ativa no seu culto, afirmamos; a bem da verdade, que a Umbanda é a religião que maiores perigos oferece quanto ao pecado da carne. Quando não se pratica uma Umbanda apenas de terreiro e sim se deseja a realização do culto levado ao ponto em que deve de ser: cultuação dos elementos da Natureza e na Natureza, cruzamentos reais, iniciações no mato, nas praias, nos montes, o que obriga a uma convivência mais ou menos prolongada entre iniciador e iniciando, o perigo de uma aproximação carnal é grande, quando os sexos gritam sob o impulso das tentações” (Ibidem, p. 104).

3. O perigo da exploração e mistificação.

“Infelizmente pululam por aí aos montes determinados centros, onde, de Espiritismo só tem mesmo o nome, pois a pouca vergonha, o desmazelo pela saúde do próximo e a verdadeira caridade é posta à margem, para pensar-se unicamente na exploração e na indecência corruptiva e degradante” (A. Fontenelle, A Umbanda através dos Séculos, Rio 1953, p. 85).

“… 99% dos dirigentes desses Centros não visam outra coisa a não ser a glória efêmera de serem adorados por outros cegos, iguais a eles próprios, ou aproveitarem-se da ignorância e da dor alheia, para extorquir-lhe o dinheiro” (Yonori, Umbanda, Indústria Rendosa, Rio 1954, p. 35). “… levamos a nossa ousadia ao cúmulo de declararmos que 99% dos Centros de Umbanda, que por aí se exibem, não passam de casas comerciais, ou teatros com péssimos atores; que 99% dos médiuns de incorporação, que formam esses centros, nunca deram incorporação a nenhum Espírito e que 99% dos livros sobre Umbanda, à venda nas livrarias, não passam de fantasia, frutos da imaginação hábil de seus autores, que mais não visam senão uma falsa glória ou dinheiro” (idem, p. 70).

“Quanto às curas fantásticas, conhecem eles alguns rudimentos de medicina e receitam remédios caseiros ou da flora, acertando algumas vezes, falhando outras. Os fracassos são esquecidos, mas os êxitos são berrados aos quatro ventos, tornando-se os pontos de apoio sobre os quais construirão o seu cartaz, exagerando-as com mentirosas dificuldades, a fim de maior impressão causar aos seus incultos adeptos.Com o tempo e a prática, sendo bons observadores, chegam a conhecer grande número de doenças e o seu tratamento, pois a maioria delas se repete, isto é, são quase sempre as mesmas, o que lhes facilita os trabalhos” (idem, p. 126).

PROTEÇÃO E EXPLORAÇÃO POLICIAL


Pelo que vimos, não é preciso falar em nome de Deus, nem em nome de Cristo, nem em nome da Igreja ou mesmo da Religião, para condenar as práticas de Umbanda. Basta apelar para a razão e o bom senso do homem. Não obstante, o movimento cresce de modo extraordinário. E cresce, protegido e amparado pela polícia e pelos políticos.Para conseguir os votos do povo, os políticos prometem tudo: em nome da “liberdade de crença” garantem proteger e favorecer o funcionamento dos terreiros e declará-los “de utilidade pública”, a fim de isentá-los dos impostos.Mas o capítulo mais triste é o da polícia.Sabemos por informação pessoal, constatada in loco, que, no Estado do Rio, o sistema do protecionismo policial à Umbanda funciona da seguinte maneira:

1) O terreiro, por intermédio do delegado regional, precisa requerer licença de funcionamento à SSP (Secretaria de Segurança Pública) de Niterói, licença que deve ser renovada anualmente, custando sempre Cr$ 2.000,00.

2) As delegacias e subdelegacias locais, no entanto,não permitem o funcionamento do terreiro sem um alvará especial, requerido mensalmente, mediante o pagamento de Cr$ 100,00.Com este alvará, todavia, o terreiro ainda não tem licença de bater tambores (o que é essencial para muitos ritos de Umbanda).

3) Por ser contrário à ordem e ao sossego público, o delegado jamais pode conceder alvará para bater tambores até alta madrugada; permite-o, no entanto, verbalmente, mediante uma “gratificaçãozinha” (Cr$ 100,00 para cima), a ser dada para cada vez.

4) Por ocasião das grandes festas do terreiro, é preciso enviar ao delegado um convite especial, acompanhado de algum “presente” (Cr$ 200,00 até 500,00).

5) Há muito terreiro não registrado na SSP e isso com o conhecimento do delegado local, que então, mediante “entrada” particular, os registra na própria delegacia, passando a receber uma contribuição mensal, para dar licença verbal.“Soubemos — escreve um umbandista — por informação que nos parece fidedigna, que somente em um município perto do Distrito Federal, a coleta mensal das “licenças verbais” para funcionamento de terreiros é de Cr$ 58.000,00” (Freitas-Pinto, As Mirongas de Umbanda, Rio 1954, p. 78).

Por aí se compreende o interesse da polícia em manter, proteger e aumentar os terreiros…

NORMAS DE UMA ATITUDE PRÁTICA PERANTE A UMBANDA


1) Perante os umbandistas, isto é: perante as pessoas que trabalham na Umbanda, ou a ela aderiram frequentando suas sessões, consultando seus oráculos ou para ela contribuindo com mensalidades, a atitude do católico é de respeito cristão e de prudente discrição.Em vista do perigo de contágio, não convém ao católico procurar ou fomentar amizades ou intimidades naqueles meios.É aconselhável afastar a infância inexperiente e a juventude aventureira do contato habitual com estas pessoas.Geralmente é supérfluo e tempo perdido discutir com eles sobre questões religiosas.

O melhor ato de caridade que podemos fazer em favor deles, é rezar, suplicando a Deus a graça da conversão, já que Deus deseja que roguemos e já que eles mesmos, convencidos como estão, não pedem para si tão grande favor divino.O católico deve socorrer e ajudar todo umbandista necessitado que lhe suplicar uma esmola ou outro auxílio qualquer; mas de maneira nenhuma pode ajudá-Io, nem material nem moralmente, na construção ou manutenção de suas obras, ainda que sejam sociais ou filantrópicas.

2) Perante a Umbanda como doutrina, a atitude do católico é de franca e total condenação.De modo nenhum pode o fiel seguidor de Cristo aprovar a teoria da reencarnação e a filosofia do panteísmo apregoadas pela Umbanda, doutrinas que se opõem frontalmente à Mensagem Cristã.

3) Perante a Umbanda como prática, a atitude do católico é de enérgica e declarada repulsa.É inconcebível que alguém ame verdadeiramente a Deus e ao mesmo tempo pratique a evocação dos espíritos, a magia, o politeísmo, a idolatria e a demonolatria. Jamais pode o católico ser sócio de quaisquer grupos, confederações, sociedades, uniões, fraternidades ou centros de Umbanda. Quem o fizer, não obstante, deve ser afastado da recepção dos Sacramentos.

4) Perante as sessões de Umbanda, a atitude do católico é de completa abstenção. Nem mesmo “apenas para ver” irá participar em atos de tão manifesta revolta contra as claras determinações de Deus que proibiu rigorosamente a necromancia, a magia, o politeísmo e a demonolatria. Assistir a uma sessão de Umbanda ou de Espiritismo, seria pecado grave de desobediência contra o Criador. Pior seria ainda este pecado, se o católico, ele mesmo, mandasse evocar um determinado espírito ou alma de pessoa falecida.

5) Perante os livros de Umbanda, a atitude do católico é de desaprovação e censura sem restrição.Livros que propunham tanta negação das doutrinas fundamentais de nossa santa fé cristã, livros que recomendam o politeísmo e a demonolatria, livros repletos de superstições e receitas magicas devem ir ao fogo.O católico que, sem a devida licença do Bispo, ler, guardar, vender ou propagar semelhante literatura, comete pecado grave e incorre sem mais na pena de excomunhão.

6) Perante a diagnose umbandista, a atitude do católico é de absoluta reserva. Quando doente, o católico não há de consultar pitonisas, babalaôs ou pais de santos, nem mandar jogar os búzios ou recorrer a outras artes divinatórias em uso na Umbanda (ou fora da Umbanda), como a cartomancia ou coisas afins. São práticas que, se não forem simples explorações e mistificações, incluem a evocação de espíritos. Comete pecado grave de conivência com a Umbanda e de desobediência contra Deus, quem recorrer a semelhantes meios. “Não se ache entre vós — diz o Senhor — quem consulte adivinhos ou observe os sonhos e agouros, nem quem use malefícios nem quem seja encantador, nem quem consulte pitões ou adivinhos, nem quem indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas” (Deut 18, 12-13).

7) Perante a terapêutica umbandista, a atitude dos católicos é de repudio integral.Não usará nem defumadores, nem “desmanches”, nem fará uso da “lei do retorno”, nem de passes, nem de água fluídica, nem das “orações fortes” ou de coisas ou práticas análogas.Mas a chamada “homeopatia” pode ser usada, porque é apenas explorada pelos espíritas e umbandistas e nada tem de comum com a magia ou a necromancia.Vimos que algumas vezes as doenças podem ter sua origem numa atuação do demônio.Mesmo nestes casos, porém, o cristão não pode recorrer aos amigos do demônio, mas deve dirigir-se aqueles aos quais Cristo deu o poder de expulsar os demônios sem pactuar nem negociar com eles: aos sacerdotes da Nova Lei.Recorra, pois, o católico, com fé e confiança, às bênçãos e aos exorcismos da Igreja.

8) Perante o culto aos Orixás, a atitude do católico é de decidida reprovação. “Vede que sou Eu só e que não há outro Deus fora de mim” (Deut 32, 39). A idolatria é dos pecados mais graves que o homem pode cometer contra Deus. A fé cristã nos ensina que no céu existem anjos e santos, mas todos eles são criaturas de Deus como nós, inclusive Maria Santíssima. Eles merecem a nossa Veneração e Respeito, jamais, porém, nosso culto de adoração. O católico protestará sempre contra a identificação dos anjos e santos com os deuses pagãos. Podemos rezar aos santos, podemos recorrer a eles, podemos até fazer-lhes promessas, mas sempre dentro dos limites do culto de veneração indicados por Deus e determinados pela Igreja de Cristo.

9) Perante o culto aos exus, a atitude do católico é de santo horror e ele o repelirá sempre com apostólico vigor. O católico admite a existência do demônio e sua relativa liberdade para nos hostilizar.Porém jamais brincará ou pactuará com ele, nem muito menos lhe acenderá velas ou lhe oferecerá quaisquer presentes ou sacrifícios.Satanás será sempre nosso inimigo, mesmo quando se mostra “amigo”. Não é possível acender ao mesmo tempo uma vela a Deus e outra ao demônio. Seria querer servir a dois Senhores. Isso não pode ser. “Ninguém pode servir a dois Senhores” disse Cristo (Mt 6, 24). A Igreja de Cristo nos oferece meios suficientes para nos defender e proteger contra as insídias e os ataques de satanás: são os Sacramentos e os sacramentais. Absoluta e incondicional fidelidade a Deus!, eis o lema constante do verdadeiro católico, mesmo nas mais difíceis situações e provações da vida.

10) Perante os despachos, a atitude do católico é de soberano desdém. Vimos que em si e como tal o despacho não “pega”. Conservando-se na amizade de Deus e na graça divina, o católico não teme nem malefícios nem despachos ou práticas parecidas.Quando se encontra com despachos, mesmo diante da porta de sua casa, o católico mune-se com o sinal da Cruz (pois está diante dum objeto “consagrado” ao Inimigo), e remove-o tranquilamente, podendo servir-se sem escrúpulos das coisas úteis que porventura aí encontrar (galinha, cerveja, charutos, fósforos, dinheiro, alguidar, pratos, etc.)

11) Perante os demais meios supersticiosos de defesa contra a atuação dos maus espíritos, os amuletos, as figurinhas, a ferradura, a pemba, a arruda, o guiné, a espada de São Jorge, etc. etc., a atitude do católico é de simples desprezo.Não recorre a eles em hipótese nenhuma, nem deles se utiliza para fins de decoração ou enfeite, a fim de evitar possíveis escândalos ou maus exemplos. Ao católico verdadeiro e praticante basta Deus e os meios que Cristo, por sua Igreja, lhe oferece.

APÊNDICE: RITUAL DE UMBANDA


Não há unanimidade entre os umbandistas. já vimos isso. Nem muito menos há uniformidade no ritual. Geralmente cada chefe de terreiro faz o que e como bem entende. As várias tentativas de uniformização não deram resultado até hoje. O movimento umbandista melhor organizado e mais comedido é a União Espírita de Umbanda do Brasil, que possui um bom periódico mensal (Jornal de Umbanda, Rio), com a tiragem de 12.000 exemplares. O ritual desta União, embora muito incompleto ainda, é o mais claro e o menos fantástico. Mas evidencia bem o caráter religioso de Umbanda. A Umbanda pretende ser religião própria, a “religião do Brasil”. É necessário acentuar este ponto. Trata-se, evidentemente, de uma organização religiosa acatólica.Será por isso útil conhecer este Ritual. Reproduzimo- lo tal como foi publicado na p. 6 do fascículo de Agosto de 1954 do mencionado jornal:

1) Sessão de Caridade (pública):

Abertura:

1) Cinco minutos pelo menos, antes da hora (20 ou 20:30 horas) do início dos trabalhos, os médiuns devem estar no terreiro, concentrados em silêncio.

2) Preparo do ambiente por intermédio do defumador, com ponto cantado, que deve ser um dos três constantes do anexo.

3) Prece (proferida pelo Diretor de Assistência Espiritual, ou por alguém credenciado para tal).

4) Continuação do preparo do ambiente, por meio de explanação, doutrinária, filosófica, sobre prática de Umbanda ou de moral. (Cerca de 15 minutos de duração).

5) Declaração de abertura dos trabalhos, em nome de Deus ou Zambi, de Oxalá ou Jesus, do Patrono da Casa, do Guia-chefe da Casa e de todos os Trabalhadores invisíveis de Umbanda. Parágrafo único. Em dias de festa de Santo, a abertura deve ser feita era nome de Zambi, de Oxalá, do Santo do dia, do Patrono da Casa, do Guia-chefe da Casa e de todos os Trabalhadores invisíveis da Umbanda.

6) Ponto de Oxalá (cantado) — (o Ponto deve ser um dos constantes do anexo). Os médiuns de joelhos ou deitados, conforme a organização da Casa.

7) Saudação ao Patrono da Casa (ponto-prece) como no n° 6.

Paragrafo único. Em dias de festa de Santo, deve ser antes, saudado o Santo do dia.

8) Ponto (cantado) de chamada do Guia-chefe da Casa para sua incorporação ou não.

Paragrafo único. Quando o Guia-chefe da Casa não incorporar, por qualquer motivo, deve ser tirado o ponto em seguida para o Guia-substituto.

9) Saudação ao Guia-chefe da Casa, de acordo com a organização de cada Tenda.

10) Ponto (cantado) de chamada dos Guias que vão trabalhar.

11) Início da parte espiritual propriamente dita, sessões de passes mediúnicos, correntes de descarga, doutrinação de obsessores, sessões de descarga, de trabalhos, etc. (na prática integral de Umbanda, a doutrinação dos obsessores é feita no espaço pelas entidades superiores).

Encerramento

1) Ponto de subida dos Guias (menos o Guia-chefe) depois de serem atendidos os assistentes, ou terminados os trabalhos.

2) Saudação ao Guia-chefe da Casa, de acordo com a organização de cada Tenda.

3) Ponto de subida do Guia-chefe.

4) Ponto-prece de despedida que deve ser cantado com os médiuns ajoelhados ou deitados, conforme a praxe da Casa.

5) Prece de agradecimento (final).

6) Declaração de encerramento dos trabalhos (deve ser feita em nome de Deus (ou Zambi) de Jesus (ou Oxalá) do Padroeiro da Casa, do Guia-chefe da Casa e de todos os Trabalhadores invisíveis da Umbanda.

Considerações sobre as Sessões de Caridade

1 — As Sessões de Caridade constarão de passes com objetivo de eliminação de fluídos que estejam perturbando os pacientes, de conselhos de caráter orientador para os que se acham em aflição, etc.

2 — Não será permitido o receituário de remédios, mezinhas ou indicações de ervas. Nas Tendas em que houver Consultório Médico, os doentes serão encaminhados a esse departamento.

3 — É permitido nessas Sessões o uso do fumo, água, flores, velas, e indicação de banhos de descarga.

4 — As bebidas, pelas quais serão responsáveis os médiuns, em qualquer descontrole, só serão permitidas em sessões de trabalhos com número predeterminado de assistentes ou em dias de Festividades grandes.

5 — A Pemba é objeto de ritual secreto e por isso não deve aparecer nas Sessões Púbicas.

6 — É aconselhável uma mesa de médiuns para segurança dos trabalhos e descarga de obsessores.

2) Sessões de desenvolvimento mediúnico (privativas):

A Sessão de desenvolvimento mediúnico compreende:

a) Instrução doutrinária, filosófica e moral;

b) Desenvolvimento das diversas faculdades mediúnicas do indivíduo.

Quanto à letra “A”

1 — O médium antes de começar o desenvolvimento deve comparecer às Sessões, sem tomar parte efetiva, a fim de receber a instrução doutrinária necessária.

2 — As aulas deverão levar pelo menos meia hora e se destinam aos principiantes e aos mais adiantados.

3 — Quando o iniciante começa a ter noção da sua função de médium deve ser submetido a testes de mediunidade, isto é, a experimentação que venha a determinar se é médium de incorporação ou de outras faculdades (audição, vidência, intuição, transporte, efeitos físicos, psicográficos, etc.).

4 — Do resultado dessa verificação será o aspirante desenvolvido dentro de sua especialidade.

Quanto à letra “B”

1 — O médium antes de começar o desenvolvimento deve comparecer às Sessões, sem tomar parte efetiva, a fim de receber a instrução doutrinária.

2 — Devem ser orientados de modo a quando fizerem uso do fumo, da bebida, não cuspirem. O cuspir é material e o fumo e a bebida são elementos de precipitação fluídica e, portanto, são elementos espirituais.

3) Cerimonial de Firmeza das Sessões:

Há vários sistemas de se fazer a firmeza dos trabalhos:

a) É feito o ritual na “porteira” antes do início dos trabalhos, acendendo-se uma vela e fazendo-se oferenda de “marafo” ao Povo da Encruzilhada, sendo no final levantado o ponto.

b) São cantados três pontos para Exu, logo depois da entrada dos médiuns no terreiro e decorrido o tempo determinado no n° 1 do ritual, seguindo-se então o “defumador” e o mais. No final, também são cantados três pontos de Exu.

c) A firmeza é feita por mentalização, sem nenhum ritual externo.

Há ainda os que adotam conjuntamente os sistemas preconizados nas letras a e b, sendo também comum cantarem somente um ponto em que são chamadas diversas entidades da encruzilhada.

Nas sessões de descarga é também chamado o povo da encruzilhada para fazer a limpeza do terreiro, as descargas para que se tornem necessárias as eliminações de vibrações e o mais de que são encarregadas essas entidades, sempre dentro do princípio da prática do bem e da neutralização dos malefícios oriundos da magia negra.

Essas sessões são realizadas no princípio ou no fim de cada mês e não devem ter assistência, devendo estar presentes somente os médiuns, os ogãs, os cambonos, os diretores, enfim, a corrente da Casa.

Em todas as festividades, é comum a invocação desses trabalhadores, que vão assim se integrando dentro das correntes fraternais da Umbanda.

Considerações Gerais

1 — Todos os médiuns, cambonos, ogãs, dirigentes e mais membros da corrente espiritual, devem apresentar-se com uniforme e sapatos de tênis brancos, de tecido de algodão, podendo variar de tenda para tenda, mas devendo sempre ser o mesmo para cada organização.Mesmo quando o Guia trabalhar descalço deve o médium entrar no terreiro de sapatos de tênis, tudo muito limpo, tanto o corpo como o uniforme de modo a ser dada a melhor impressão aos que assistem à sessão.

2 — É permitido o uso do fumo (cachimbo ou charuto) quando solicitados pelos Guias.

3 —São permitidas aos Guias as saudações recíprocas quando incorporados, de acordo com o estilo e hierarquia de cada um, segundo instruções do Guia-chefe da Casa.

4 — Uma vez incorporado o Guia-chefe da Casa a ele compete a direção espiritual dos trabalhos, disposição dos médiuns, cambonos, ogãs, etc., sendo igualmente sua, a responsabilidade pelo que ocorrer durante os trabalhos.

5 — O Guia-chefe será sempre o primeiro a incorporar e o último a subir, não podendo haver mais nenhuma incorporação no Terreiro após a sua subida.

6 — Em dias de festa no Terreiro, são permitidas as roupas de cores, segundo a organização de cada Tenda,não significando tal permissão que sejam permitidas fantasias de caboclo ou semelhantes.

7 — Não é permitida a cobrança por qualquer trabalho ou obrigação.É sempre aconselhável quando houver necessidade de material para qualquer espécie de trabalho que sejam os próprios interessados que comprem o que for determinado pelo Guia.

4) Sessões para as crianças:

1 — As crianças não devem ser admitidas nas sessões de trabalhos ou de magia.

2 — Nas sessões de caridade podem assistir e tomar passes.

3 — Também nas sessões de desenvolvimento podem assistir, principalmente à parte doutrinária.

4 — Ressalvamos entretanto que o desenvolvimento mediúnico somente deve ser iniciado na idade adulta.

5 — Aconselhamos, de preferência a criação de sessões especiais para as crianças, onde as mesmas tomem passe se recebem orientação religiosa.

6 — É de todo o interesse que comece da infância a orientação doutrinária daqueles que serão futuramente os umbandistas e que poderão assim seguir uma diretriz firme sem confusões nem influências estranhas adquiridas na frequência de aulas de outras religiões.

5) O Batismo e a Confirmação:

a) do Batismo

1—O batismo na religião de Umbanda é o primeiro contato do recém-nascido com os Guias espirituais e por isso deve ser realizado dentro do primeiro mês do nascimento.

2—As tendas devem ter um dia marcado em cada mês para essa cerimônia, de preferência em dia em que não haja outra sessão, podendo ser escolhido o domingo à tarde, com a presença dos médiuns, cambonos e ogãs uniformizados, tendo feito o ritual comum das sessões ate o n° 10, quando então o Guia-chefe ou seu preposto faria a cerimônia do batismo que o faria com água da cachoeira e luz.

3 — O padrinho assistiria ao ato com uma vela acesa na mão direita e a madrinha ficaria com a criança no colo.

4 — O ritual de abertura poderá ser reduzido com a supressão do ponto 5, sendo que a prece e a parte doutrinária (pontos 3 e 4) devem ser feitas de acordo com o objetivo da reunião.

5 — Terminado o ato, se fará o encerramento, de acordo com a abertura, isto é, se naquela foi suprimido o n°5, neste se começará do número 2.

b) da Confirmação

1 — A confirmação deve ser feita na idade de 7 anos, podendo ser aproveitada uma data de ida ao Rio ou à Cachoeira, devendo o banho ser de corpo inteiro.

2 — Os padrinhos, que podem ser os mesmos do batismo ou outros, levarão velas e flores, sendo oficiante o Guia-chefe ou seu preposto.

3 — Será seguido o mesmo ritual de abertura e encerramento da cerimônia do batismo, feita a adaptação necessária.

4 — A criança deverá estar vestida toda de branco e ser enxuta após a cerimônia com uma toalha branca nova.

5 — Tanto do batismo como da confirmação será feito registro na Tenda e fornecida uma certidão aos interessados e feita uma comunicação à União que criará o seu registro próprio.

6 — Nada será cobrado pelos atos, nem pelas certidões, devendo as despesas que porventura tenham de ser feitas ser custeadas diretamente pelos interessados.

6) O Casamento:

1 — O casamento é ato de suma importância pois em sua base é construído o lar e a família é constituída,por isso deve ser dado realce especial à cerimônia com altares iluminados e enfeitados de flores, e com a presença da corrente toda uniformizada, indo a noiva de vestido branco, véu e grinalda.

2 — O ritual preparatório será o de abertura, suprimido o ponto 5, sendo que a prece (3) e a parte doutrinária (4) devem ser feitas de acordo com o objetivo do ato.

3 — Será oficiante o Guia-chefe incorporado, ou no seu impedimento o Substituto.

4 — As alianças serão cruzadas pelo Guia, devendo os padrinhos e madrinhas tomar parte na cerimônia com uma vela acesa durante o tempo todo que durar o ato.

5 — Efetuado o casamento, se fará, suprindo o ponto 1, o ritual de encerramento.

6 — A diretoria da Tenda, dentro das possibilidades, poderá oferecer uma mesa de doces e refrigerantes, para dar maior realce ao ato.

7 — Antes da realização do ato será exigida a apresentação da certidão do ato civil.

8 — Do ato será fornecida certidão e comunicado à União, que criará os registros necessários.

9 — Nada será cobrado pelo ato, nem pela certidão, devendo as despesas que porventura tenham de ser feitas ser custeadas diretamente pelos noivos.

7) Considerações Gerais:

Todos os membros da corrente (médiuns, cambonos, ogãs, dirigentes, etc.), deverão apresentar-se com uniforme branco de tecido de algodão. Os homens de calça e camisa, de macacão, ou de calça e dólmã fechado no ombro; as senhoras com vestido de saia godê, de saia rodada e blusa branca (baiana), avental fechado com calça comprida como de homem, sendo que nos dois primeiros casos deve ser usada uma calça com elástico na bainha, que deve ir até o tornozelo ou pelo menos até a metade da barriga da perna.

É preciso notar que essas variações acabadas de ser indicadas, não são para que numa mesma tenda cada um use um uniforme dentre os apontados, mas pelo contrário deve haver em cada Casa uniformidade absoluta de modelo de uniforme.

Os médiuns, mesmo aqueles cujos protetores trabalham descalços devem entrar no terreiro de sapato branco de tênis que serão tirados depois, devendo o uniforme e os sapatos estarem irrepreensivelmente limpos, pela má impressão que causará a assistência a falta de asseio, seja no corpo seja no vestuário.

8) O Oficio dos Desencarnados:

1 — A prece pelos espíritos desencarnados, sua elucidação e orientação sempre foi feita em sessões de caridade, o que pode continuar ser feito, entretanto, devem ser feitos ofícios especiais logo após seu desencarne, na semana seguinte.Para tal objetivo devem as tendas ter um dia por semana dedicado a esses ofícios de sétimo dia, podendo ser adotado o seguinte ritual:

2 — Será constituída uma mesa de segurança e de descarga, constituída por médiuns, sob a direção do diretor de Assistência Espiritual, ou por um doutrinador de sua confiança.

3 — A abertura será a do ritual comum às sessões de caridade, sendo que os pontos 3 e 4 (prece e doutrina) serão orientados de acordo com o objetivo da elucidação dos espíritos desencarnados.

4 — Na forma habitual, feita a abertura o Guia-chefe orientará os trabalhos.

5 — Findo o ofício ou ofícios, será feito o encerramento dentro do ritual comum, seguindo-se sempre na parte de prece o objetivo da sessão.

9) O Sinai da Cruz:

O sinal da cruz, símbolo do cristianismo, será feito com as seguintes palavras:

Ao tocar a mão direita à frente: Em nome de Deus (em nome do Pai) (em nome de Zambi).

Ao tocar a mão direita no coração: Em nome de Jesus (em nome de Oxalá).

A mão direita cruzando os ombros da esquerda para a direita: Em nome do Anjo da Guarda.

Pode ser feito: Em nome de Deus (ou do pai), de Jesus e do Anjo da Guarda.

Em nome de Zambi, de Oxalá e do Anjo da Guarda.

VOCABULÁRIO UMBANDISTA

Abacê: cozinheira que prepara as comidas de santo.

Acassá: bolo de milho.

Agô:licença.

Agô-iê: dai-me licença.

Alá: dossel no terreiro, debaixo do qual se servem as comidas de santo.

Amalá: comida de santo.

Aparelho: médium em função.

Atabaque: tambor.

Babalaô: chefe de terreiro, pai de santo.

Babalorixá: o mesmo que babalaô.

Batuque: sapateado africano.

Burro:médium em transe,

Búzio: concha marinha, caracol.

Cacimba: vasilha.

Calundo: espírito protetor das parturientes.

Calunga:cemitério.

Calunga grande: mar.

Cambiá: amuleto para ser enterrado.

Cambono: auxiliar nos trabalhos do terreiro.

Cambonocolofé: auxiliar nas cerimônias de iniciação.

Candomblé: reunião de médiuns e pessoas com apetrechos apropriados para fazerem canjerê.

Canjerê:despacho ou trabalho resultante dos candomblés.

Canjira: local de dança.

Caral: comida de santo.

Cavalo:médium em transe.

Coité: vasilha, cuia.

Curiar: comer, beber.

Curimba:dança.

Domanda:questão, luta.

Dumba: mulher.

Ebó: milho branco preparado com azeite.

Egum: espírito de pessoa falecida.

Embé:sacrifício de animal.

Embanda: mensageiro, porta- voz.

Epó: azeite.

Exu: espirito mau, demônio.

Filho de Santo:médium em que se incorpora um orixá.

Ganga: chefe de terreiro.

Gongá: altar, santuário, local de trabalho.

Guia: pulseira.

Iansan: orixá feminino do vento, mulher de Xangô, patrona das mulheres livres. Santa Barbara.

Ibeji:orixásgêmeos. São Cosme e São Damião.

Iemanjá:orixá feminino do mar. Nossa Senhora.

Jabonan:mãe do terreiro, de segunda categoria.

Kalunga: espelho.

Karunga: mar

Macumba: vara de ipê ou bambu, cheio de dentes, com laços de fita em uma das pontas, na qual um indivíduo, com duas varinhas finas e resistentes, faz o atrito sobre os dentes, tendo uma das pontas da vara encostada na barriga e outra encostada na parede.

Marafa: aguardente, paratí.

Miromga:mistério.

Mucamba: mulher auxiliar do terreiro. .

Muginga: pipoca preparada para o ritual da troca de cabeça.

Nunanga: vestes cerimoniais.

Obá: céu.

Ogan: babalaô de segunda categoria.

Ogum:orixá das demandas. São Jorge (no Rio) e SantoAntônio (na Bahia).

Omulu:orixá da morte, das pestes. SãoLázaro.

Orixá: divindade secundária, espirito da luz.

Otá: fetiche, imagem de um orixá.

Oti:bebida.

Oxalá: chefe dos orixás. Cristo.

Oxóssi: orixá das matas, da caça.São Sebastiao (no Rio), São Jorge (na Bahia).

Oxun:orixá feminino dos rios.Nossa Senhora.

Pegi: altar.

Pemba: giz, para riscar os pontos.

Ponteiro: punhal.

Ponto cantado: hino, canto evocativo.

Ponto riscado: sinal cabalístico evocativo.

Samba: mulher auxiliar da mãe de santo.

Sangue:vinho.

Saravá:saudação, cumprimento, “salve!”

Ubá: casca de árvore.

Urubatão: “caboclo”, chefe de falange.

Vumbi: cerimônia fúnebre, depois da morte de um pai de santo ou de um babalaô, a fim de afastar o seu espírito da sua casa.

Xangô:orixá dos raios, das tempestades. São Jerônimo.

Zambi: Deus.

Zumbi: chefe, rei.

PARA CITAR


KLOPPENBURG, Frei Boaventura. POSIÇÃO CATÓLICA PERANTE A UMBANDADisponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/espiritismo/753-posicao-catolica-perante-a-umbanda>. Desde: 27/12/2014

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